O Equador abre as Portas para o Exército Estadunidense

O governo do Equador vai se tornando cada vez mais alinhado aos EUA, com a abertura do país para o livre uso dos militares ianques.

Após as informações sobre a presença militar dos Estados Unidos no Panamá (e as declarações subsequentes de Donald Trump de que devolveria o Canal do Panamá aos Estados Unidos), a atividade do Pentágono se manifestou de forma espetacular no Equador.

Foi revelado que o presidente equatoriano Daniel Noboa cedeu as Ilhas Galápagos aos Estados Unidos para que sirvam como base militar. Em 10 de dezembro de 2024, foi aprovado o projeto de segurança integrada para a região das ilhas e as instruções para a implementação dos acordos de cooperação entre o Equador e os Estados Unidos. Este foi o golpe final na transição do país para a esfera de influência da Casa Branca e a destruição de fato da soberania do Estado latino-americano.

Vale lembrar que, por decreto de 15 de fevereiro de 2024, Quito ratificou o acordo com Washington sobre o status das forças armadas, assinado em 6 de outubro de 2023 sob a administração de Guillermo Lasso. Segundo este acordo, o pessoal militar e civil do Departamento de Defesa dos EUA e seus contratados gozam de privilégios, isenções e imunidades equivalentes aos concedidos ao pessoal administrativo e técnico de missões diplomáticas, conforme estabelecido pela Convenção de Viena.

Na prática, isso significa o estabelecimento de uma base militar, como ocorreu de 1999 a 2009 na cidade costeira de Manta, um acordo que o presidente Rafael Correa (foto) se recusou a renovar, já que a nova Constituição de 2008 proibia a presença de forças armadas estrangeiras ou bases militares no território equatoriano. É evidente que a tentativa de golpe de Estado em outubro de 2010 no Equador, na qual rebeldes treinados nos EUA dispararam contra o presidente eleito Rafael Correa, estava ligada a uma mudança na política externa do país.

Foi nesse contexto que Daniel Noboa apresentou uma emenda constitucional à Assembleia Nacional para eliminar o artigo que proibia a presença de bases de outros países no Equador.

Embora a emenda não tenha sido votada pela Assembleia, a opinião de muitos especialistas de que seria estabelecido um regime colonial de fato parece bem fundamentada.

É também lamentável que a base militar seja instalada em uma reserva natural única no mundo. Em 1978, a UNESCO declarou o arquipélago como Patrimônio Natural da Humanidade. Seu ecossistema é extremamente frágil, e não há dúvidas de que ele não resistirá à pressão exercida pela presença militar dos EUA. Embora se alegue oficialmente que os navios de guerra, aviões e tripulações americanas, isentos de taxas administrativas, serão submetidos a rigorosos controles ambientais ao entrar na ilha, está cientificamente comprovado que as forças armadas dos EUA, assim como as britânicas, estão entre as mais poluentes do mundo.

Portanto, já se pode falar de uma iminente catástrofe ambiental.

Qual é o objetivo da presença militar estrangeira? Segundo os documentos, trata-se de “combater o narcotráfico, a pesca ilegal e outras atividades marítimas ilegais nesta região do Equador. É importante evitar conflitos violentos e outros delitos relacionados entre grupos narcoterroristas ligados a cartéis internacionais que disputam as rotas de exportação de drogas e o controle territorial dessas exportações”.

Na verdade, a agenda é mais ampla do que isso. Do ponto de vista dos atuais líderes equatorianos, trata-se de uma orientação para os Estados Unidos e Israel na política mundial. Além dos interesses do complexo militar-industrial americano, ligado a empreiteiros privados, Washington está efetivamente ampliando sua influência geoestratégica, pois o Equador se projeta no corredor marítimo do Pacífico Oriental. O Equador está expandindo suas fronteiras para outras regiões do mundo, incluindo as Ilhas Galápagos, Coco na Costa Rica, Gorgon e Malpelo na Colômbia, e Cohiba no Panamá. Porém, os objetivos declarados de combate ao tráfico de drogas são questionáveis, já que as Ilhas Galápagos estão localizadas fora das rotas tradicionais do tráfico de cocaína oriundo da América do Sul. Mais apropriado seria falar de uma expansão global da presença militar americana, levando em conta os interesses crescentes de confronto com a China e seu projeto “Belt and Road” na região. Além disso, o papel da Nicarágua e da Venezuela na oposição aos Estados Unidos e na implementação da política do socialismo bolivariano irrita Washington e seus aliados locais. A nova base americana servirá, evidentemente, como meio de dissuasão para pressionar os Estados que resistem.

Até o momento, uma coalizão de 50 organizações cívicas, nacionais e internacionais se posicionou contra a presença militar estrangeira nas Ilhas Galápagos, alegando que isso viola a Constituição equatoriana, ameaça a preservação do arquipélago e coloca em risco a soberania nacional.

Essa soberania, aliás, também está ameaçada pela dolarização excessiva da economia equatoriana.

É interessante notar que tudo isso ocorre em meio a uma crise política interna no Equador. Em 24 de dezembro de 2024, a vice-presidente do Equador, Veronica Abad (foto), publicou uma carta pedindo que organizações nacionais e internacionais interviessem em seu caso, que ela classificou como “a conclusão de um golpe declarado”.

O Ministério do Trabalho já havia tentado suspendê-la, mas a juíza Nubia Vera decidiu a favor de Abad. No entanto, ela não conseguiu acessar seu local de trabalho, pois os escritórios foram bloqueados pelos militares, e o presidente Daniel Noboa assinou um decreto ordenando sua transferência imediata para a Turquia.

Segundo Abad, a tentativa de enviá-la à Turquia é “um novo insulto aos equatorianos”, pelo qual o presidente busca “ganhar vantagem sobre outros candidatos à presidência” sem abrir mão do poder. A lei exige que ele transfira o poder para a vice-presidente durante o período de campanha. A eleição está marcada para 9 de fevereiro de 2025, e a campanha começará no início de janeiro.

Isso representa um programa de informação bastante amplo, contra o qual poderá ser realizada a fraude do emendamento constitucional para autorizar a entrada do exército americano nas Ilhas Galápagos. Diante do exposto, existe um risco significativo de que isso aconteça.

P.S. Também se sabe que o governo do Peru, país vizinho ao Equador, aprovou, por meio do ato legislativo nº 32214, a entrada do exército americano no país em 2025. O acordo será válido para todo o ano civil. As tropas americanas estarão estacionadas em 16 regiões: Lima, Callao, Loreto, San Martín, Huánuco, Ucayali, Pasco, Junín, Huancavelica, Cusco, Ayacucho, Apurímac, Madre de Dios, além de Iquitos e Pucusana. Nesse contexto, as ações do Pentágono se assemelham a uma estratégia deliberada e de longo prazo, no estilo da Doutrina Monroe 2.0.

Fonte: Geopolitika.ru

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Leonid Savin

Leonid Savin é escritor e analista geopolítico, sendo editor-chefe do Geopolitica.ru, editor-chefe do Journal of Eurasian Affairs, diretor administrativo do Movimento Eurasiano e membro da sociedade científico-militar do Ministério da Defesa da Rússia.

Artigos: 40

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