Com 100 milhões de animais (em sua maioria mamíferos) mortos anualmente em laboratórios em todo o mundo, em pesquisas e testes, não podemos mais negar que o homem não é a única vítima da modernidade e do capitalismo.
Fundamentada essencialmente na mentira cartesiana de que os animais não são conscientes/sencientes, não sendo mais do que “máquinas naturais” incapazes de sentir dor ou prazer (um dos incontáveis erros de Descartes), o desenvolvimento técnico da modernidade veio usualmente acompanhado pela mutilação e tortura de animais, para o suposto benefício humano.
Ignorando que a condição ontológica singular do homem frente aos outros seres vivos implica deveres e responsabilidades fundamentais e incontornáveis, a humanidade, especialmente a partir da modernidade, tem se comportado como uma nuvem de gafanhotos: devorando, consumindo e torturando, não raro desnecessariamente e para os fins mais fúteis.
A maioria das empresas da indústria dos cosméticos, por exemplo, ainda faz amplo uso de experimentos em animais no processo de produção de suas linhas de produtos, apesar de o consenso estar caminhando gradualmente na direção da supressão dessas práticas nesta indústria.
Não obstante, não nos limitaremos aqui a criticar os testes em animais na indústria de cosméticos. Porque o problema fundamental permanece o mesmo: a modernidade capitalista, devorando recursos e seres vivos insaciavelmente, para o suposto benefício humano, mas, mais precisamente, para o enriquecimento de algumas poucas megacorporações e seus acionistas.
92% das drogas aprovadas pela agência governamental americana FDA, testadas em animais, falham quando passam (já aprovadas) ao uso humano. Não é mais possível justificar os testes em animais com um suposto apelo à “necessidade humana”, como se estivéssemos perante um “mal menor” ou a um “sacrifício necessário”.
Enquanto sempre foi possível apelar à experimentação com criminosos humanos condenados à morte (algo a que não nos opomos), desenvolvimentos tecnológicos recentes já tornaram a experimentação em animais obsoleta. De softwares de simulação a testes in vitro e impressão 3D de tecidos, apenas o amor pelo dinheiro, e o paradigma cartesiano obscurantista, mantém a indústria da experimentação em animais de pé.
O homem deve assumir sua posição legítima como custódio do planeta e de seus habitantes, fruto de sua condição ontológica distinta da dos outros seres vivos, (e única posição condizente com a essência de sua existência), e abandonar a posição inautêntica e fundamentalmente autodestrutiva de parasita global.
Mas isso só será possível se dermos fim ao liberalismo, ao capitalismo e à modernidade, junto com a sua fé cancerígena em um “crescimento constante” sem prazo, sem limites e sem fim.
Um mundo sem mais testes em animais é possível!