Sobre Kamala Harris

Se já sabemos que Trump e Vance são trumpistas o que esperar de uma possível candidatura de Kamala Harris? É necessário superar o mito de que o vice-presidente dos EUA – posição assumida por Harris – não passa de um poste.

Antes de tudo, parece necessário um esclarecimento. Tendencialmente, é comum subestimar a figura do vice-presidente dentro da administração dos EUA. Na verdade, essa posição, pelo menos desde Dick Cheney (que literalmente teleguiou os dois mandatos de Bush Jr.), assumiu uma importância totalmente nova. O próprio Joe Biden (sob Barack Obama, e quando ainda estava “lúcido”) direcionou claramente a política externa do Presidente. Foi ele, de alguma forma, que sugeriu a extensão do conflito afegão aos territórios tribais do Paquistão, e foi sempre ele que sugeriu (retomando o Plano Yinon dos anos 80, publicado na revista israelense de cultura estratégica Kivunin – Direções) a divisão étnico-sectária do Iraque. Ainda, foi sempre Biden que declarou que “se não existisse Israel, a América teria que criá-lo para satisfazer seus próprios interesses na região do Oriente Médio”.

Hoje, assistimos à ascensão de Kamala Harris como candidata democrata à presidência após ter sustentado, junto com Antony Blinken, os quatro (vacilantes) anos de Biden. É evidente que o próprio Biden, paradoxalmente, teve sucesso onde o primeiro Trump havia falhado (apesar dos esforços): o aumento dos gastos militares para os aliados/subordinados da OTAN. Com a diferença que Trump, ao contrário de Biden, disse desde o início que a Europa era um inimigo dos EUA (utilizou expressamente o termo “foe”). Biden, ao contrário, usou a Ucrânia para fazer uma guerra contra a Europa com a colaboração consentida da nossa classe dirigente, quase feliz de se suicidar. Consequentemente, deve-se reconhecer a Trump pelo menos uma certa honestidade intelectual.

Portanto, voltando a Harris, em primeiro lugar, parece-me sempre interessante sublinhar a capacidade dos “democratas”, historicamente muito mais “belicistas” do que a contraparte, de mascarar (ou pelo menos tentar fazê-lo) seu belicismo por trás de rostos “apresentáveis” (por exemplo, foi Kennedy que deu início à escalada militar no Vietnã). Harris não é estranha a essa dinâmica.

Alguém levantou dúvidas sobre sua eventual fidelidade ao projeto sionista caso (na minha opinião remota, a menos que haja fraudes evidentes) fosse eleita. Isso porque ela teria criticado a repressão policial contra os representantes pró-Palestina. Na realidade, Kamala Harris é casada com o judeu Douglas Emhoff e poderia escolher como seu vice na corrida presidencial outro judeu ultrassionista: o governador da Pensilvânia Josh Shapiro, conhecido justamente por ter apoiado essa repressão e por ter promulgado um controverso projeto de lei que, com a desculpa do “discurso de ódio”, queria cancelar toda forma de dissidência/oposição contra as políticas do “Estado judeu”.

O projeto está relacionado ao que está surgindo sobre os eventos de 7 de outubro de 2023 e à implementação pelas forças das FDI do chamado “protocolo Hannibal” que prevê a eliminação “preventiva” de sequestradores e reféns para que estes últimos não sejam usados como “arma/instrumento de negociação” contra Israel. O principal objetivo do Hamas com a operação Tempestade de al-Aqsa, de fato, era justamente fazer reféns para poder trocá-los por prisioneiros palestinos nas prisões sionistas.

Isso deve explicar o motivo pelo qual as FDI abriu fogo indiscriminadamente sobre as colunas que retornavam à Faixa.

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Daniele Perra

Formado em Ciência Política pela Università DI Cagliari, é colaborador da Rivista Eurasia.

Artigos: 39

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