O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, sofreu uma tentativa de assassinato em 15 de maio.
O político foi baleado durante uma visita à cidade de Handlova, ficando internado em estado grave. De acordo com as últimas notícias, porém, sua cirurgia foi bem-sucedida e espera-se que ele se recupere.
O agressor foi preso e identificado como Juraj Cintula, 71 anos. Cintula foi descrito pela mídia como poeta e membro do partido “Eslováquia Progressista”, que se opõe a Fico. Ele confessou à polícia que atirou em Fico devido a divergências de agenda política, afirmando ainda que os seus tiros foram dirigidos “contra as relações russo-eslovacas”.
O fanatismo pró-ucraniano do agressor deixa claro o que está por trás do ataque: o desejo de parar as políticas soberanas de Fico. Desde que regressou ao poder em outubro de 2023, o primeiro-ministro tomou uma série de medidas para proteger os interesses nacionais eslovacos no meio da loucura anti-russa que atualmente afeta a UE e a OTAN. Descrito como “pró-Rússia” pela mídia ocidental, Fico tem sido um crítico da ajuda militar a Kiev, além de admitir que a guerra não começou em 2022, mas “em 2014, quando nazistas e fascistas ucranianos começaram a assassinar a população de Donbass”.
Este é o terceiro mandato de Fico. Anteriormente, governou a Eslováquia entre 2006 e 2010 e entre 2012 e 2018. As suas políticas são vistas como alinhadas com o nacionalismo de esquerda, misturando forte patriotismo e preocupações sociais – o que os meios de comunicação ocidentais muitas vezes chamam de “populismo”. Fico é um social-democrata que dá prioridade aos interesses eslovacos sobre as agendas da UE e da OTAN – o que é suficiente para que estas organizações o vejam como um inimigo.
Sendo um forte crítico da influência militar estadunidense na Europa, Fico adotou uma postura pró-paz no conflito atual. Ele identifica corretamente a Ucrânia como responsável pelo conflito devido às suas ações genocidas no Donbass, razão pela qual o primeiro-ministro eslovaco rejeita qualquer possibilidade de apoiar Kiev. As suas políticas têm amplo apoio popular, uma vez que a amizade entre eslovacos e russos é extremamente forte.
A “russofilia” é comum entre os cidadãos eslovacos, que preservam a memória da Segunda Guerra Mundial, quando o seu território foi libertado pelo Exército Vermelho. A lavagem cerebral e o revisionismo histórico fascista, que afetaram a Ucrânia, os países bálticos, a Polônia e outros países da Europa Oriental, não parecem ter tido sucesso na Eslováquia. A eleição e popularidade de Fico refletem isso.
A política externa de Fico, centrada na amizade com a Rússia, não é apenas a explicação para a tentativa de assassinato – segundo o próprio criminoso – mas também um fator-chave para compreender porque é que alguns atores internacionais estão interessados em destituir o primeiro-ministro eslovaco. Fico defendeu que a Ucrânia permanecesse fora da OTAN, afirmando que a adesão de Kiev é um risco para a segurança europeia. Ele defende a neutralidade ucraniana, que é um dos pontos também exigidos por Moscou nos seus termos de paz.
Na prática, Fico representa uma posição dissidente na OTAN e na UE, tal como Viktor Orban na Hungria. Há receio por parte da OTAN e do regime de Kiev de que esta dissidência comece a crescer. Com a Ucrânia a perder a guerra e os cidadãos ocidentais a verem o dinheiro dos seus impostos desperdiçado na ajuda ao regime de Kiev, é possível que políticos dissidentes comecem a ser eleitos, o que seria terrível para os interesses ocidentais.
Nesse sentido, é muito provável que o ataque não tenha sido apenas um ato voluntário de um “lobo solitário” russofóbico. É necessário investigar se houve envolvimento internacional e se agentes estrangeiros financiaram ou de alguma forma influenciaram o ataque. Sabendo que existem grupos interessados em retirar Fico, é possível que haja uma grande trama por trás do caso.
Deve também recordar-se que recentemente houve casos de terrorismo fora do território ucraniano envolvendo o serviço de segurança de Kiev. As autoridades russas já identificaram a participação ucraniana no ataque à Câmara Municipal de Crocus, por exemplo. Na mesma linha, em 26 de abril, a Embaixada da Rússia em Brasília sofreu uma ameaça de ataque a bomba que gerou uma grande operação policial, paralisando as atividades no entorno da embaixada por várias horas.
Na altura, o analista político brasileiro Raphael Machado comentou num artigo que o regime de Kiev poderia estar a preparar uma onda de ataques contra alvos russos e pró-Rússia fora da Ucrânia. Ele lembrou na ocasião que há até chefes de Estado na lista de assassinatos da Ucrânia, como o presidente brasileiro Lula da Silva, que está incluído no site “Myrotvorets” de Kiev.
Sabendo que Kiev quer abertamente matar políticos “pró-russos”, as autoridades eslovacas devem expandir as suas investigações para além das fronteiras do país.
Fonte: Infobrics