A função primordial do Estado deve ser a de servir como plataforma para a ascensão dos melhores homens, e para garantir a possibilidade de ócio aos santos, ascetas, intelectuais e artistas.
Neste sentido, o Estado tem uma função cósmica, sagrada, permitindo que cada um desempenhe seu papel fundamental, aquilo para o qual cada um verdadeiramente nasceu, sendo o mais importante o ócio: única condição na qual é possível cultivar a espiritualidade.
Só essa constatação já mostra que todos os Estados modernos são tiranias, assim como justifica todos os processos revolucionários (ainda que boa parte deles, por ignorância, tenha como meta construir Estados essencialmente iguais aos que foram derrubados).
Como um homem vai permanecer sob o ócio, como vai pensar no que importa com tantos alugueis, impostos, mais-valia, comércio e tudo mais que não presta nesse mundo? Impossível.
Daí se segue o único possível fundamento legitimador da política, da militância, da revolução e do socialismo: a luta dos exaustos homens de bem pela construção de um Estado que ponha cada um para cumprir sua vocação e deixe que nós, que odiamos esse mundo de ilusão e de sofrimento, moremos no mato, nas cavernas, nas masmorras, nos monastérios, nas montanhas, vivendo para o que importa: o Espírito.