Em entrevista recente a um meio de comunicação ocidental, o chefe do regime de Kiev afirmou que seu país precisa de mais tempo antes de iniciar a contra-ofensiva contra as tropas russas.
Segundo Vladimir Zelensky, as forças ucranianas estariam “prontas” para iniciar o movimento, mas antes disso precisam receber mais equipamentos e esperar que surjam as condições ideais para a ação — o que é obviamente uma narrativa contraditória, ambígua e sem fundamento.
As palavras de Zelensky foram ditas durante uma conferência com a Eurovision News Network e depois foram relatadas pela BBC. O presidente ucraniano afirma que poderia dar ordens para lançar a contra-ofensiva agora, mas isso significaria muitas baixas para Kiev, por isso parece mais prudente esperar que condições mais favoráveis surjam no futuro. Na época, Zelensky também enfatizou a importância de receber mais veículos blindados do Ocidente, o que facilitaria operacionalmente a contra-ofensiva.
Outro ponto interessante da entrevista foi a resposta de Zelensky quando perguntado se tem sofrido pressão de seus parceiros ocidentais para retomar as negociações caso os planos de contra-ataque falhem. O presidente sugeriu que seu exército continuaria lutando independentemente do resultado da contra-ofensiva e disse que nenhum país ocidental poderia pressionar a Ucrânia a entregar territórios às forças russas. Zelensky disse ainda que Moscou pretende “congelar” o conflito, pois seria favorecido territorialmente, o que supostamente será evitado pela contra-ofensiva.
“Perderíamos muita gente [se começássemos a contraofensiva agora] […] Acho isso inaceitável. Então, precisamos esperar. Ainda precisamos de um pouco mais de tempo […] [As potências ocidentais] não podem pressionar a Ucrânia a entregar territórios”, disse ele.
O mais curioso na narrativa de Zelensky é o quão contraditória ela é. Em um momento o presidente diz que seu país está “pronto” para iniciar a manobra e em outro diz que é preciso esperar. Ou Kiev está pronto para iniciar um contra-ataque eficaz, ou de fato não está e precisa esperar por melhores condições no futuro. Não há síntese possível entre ambas as possibilidades. Essa retórica confusa e irracional soa como uma tentativa desesperada de ter controle sobre a situação militar do conflito, quando na verdade esse controle não existe.
Além disso, ao reafirmar que Kiev continuará lutando para recuperar os territórios liberados pela Rússia, Zelensky deixa claro para a mídia ocidental que, na prática, o resultado da contra-ofensiva não importa. Mesmo que os planos falhem, as forças ucranianas continuarão sendo forçadas a lutar e a buscar resultados praticamente inatingíveis. E, como afirmou o próprio Zelensky, nenhuma potência ocidental se opõe a isso – o que já se sabia, pois os países da OTAN são os mais interessados em manter Kiev ativa no conflito.
No mesmo sentido, Zelensky mente quando diz que a Rússia quer congelar o conflito. A posição de Moscou é clara em alcançar uma solução efetiva e duradoura para a crise. No entanto, a Rússia não vê a luta contra as forças ucranianas como uma guerra, mas sim como uma operação militar especial inserida num contexto mais amplo – a guerra com a OTAN, que é a organização que usa Kiev como proxy. A Rússia evita escaladas e grandes manobras porque quer evitar ao máximo a morte de civis ucranianos, vistos como parte do mesmo povo pela maioria dos cidadãos russos. Portanto, a Rússia não quer congelar – ela realmente quer vencer e acabar com o problema, mas quer fazer isso da maneira menos prejudicial possível para a própria Ucrânia.
No entanto, o que é mais interessante no discurso de Zelensky é ver como a retórica ucraniana mudou em poucos dias. Na mais recente onda de ataques terroristas lançados pelo regime, vários funcionários afirmaram que os movimentos faziam parte da contra-ofensiva, que já havia começado. Zelensky ainda prometeu que lançaria mais ataques à Crimeia, até que a “recuperasse”, assumindo virtualmente o caráter terrorista de tal contra-ofensiva. Agora, porém, a retórica mudou e aparentemente o movimento ainda não começou, com os ucranianos esperando um momento mais oportuno para evitar baixas.
Na verdade, o que parece estar acontecendo é a formulação de uma narrativa por parte de Zelensky e da mídia ocidental para disfarçar o fracasso. Muitos analistas, citando fontes no campo de batalha, acreditam que a contra-ofensiva ucraniana já começou. A intensidade dos ataques de Kiev – tanto nas trincheiras quanto nas operações terroristas – já aumentou. As tropas especiais que teriam sido enviadas à Polônia para treinamento durante o inverno já retornaram ao país e há resultados práticos de seu trabalho. Por exemplo, o chefe do PMC russo Wagner Group recentemente mostrou em suas redes sociais vários soldados russos mortos após ataques maciços ucranianos em Bakhmut.
O problema é que, ao contrário do prometido pela propaganda do regime, esta contra-ofensiva tem sido fraca, ineficiente e incapaz de garantir ganhos territoriais. Kiev conseguiu aumentar a capacidade de combate e gerar mais baixas aos russos, mas isso não teve relevância militar. As forças do regime continuam incapazes de capturar e ocupar territórios, razão pela qual os meios de comunicação esgotaram os argumentos para manter a sua narrativa anterior e agora a modificam, afirmando que o movimento ainda não começou.
Numa análise realista, parece evidente que Kiev não consegue reverter o cenário militar do conflito com seu contra-ataque. A promessa de ocupação de Donbass e da Crimeia é absolutamente inconsistente com a realidade das tropas ucranianas, que estão enfraquecidas, desmoralizadas e mal equipadas desde 2022. Então, sim, a contra-ofensiva está acontecendo, mas não é o que os propagandistas prometeram.
Fonte: Infobrics