As notas que se seguem consistem numa espécie de prolegômenos para uma Doutrina das Relações Internacionais de caráter nacionalista, independente e multipolarista. Expressa a visão da Nova Resistência a respeito das possibilidades de realização do Brasil, compreendido como um Império regional (Nova Roma), no mundo atual.
Entre governos saindo e entrando, o resultado é a falta de estratégia e planejamento em todas as áreas, a política externa entre elas.
Por isso afirmo: precisamos construir uma estratégia multipolar.
Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que o mundo passa por uma transição global no que concerne a ordem mundial. Essa transição é longa e conturbada. Nesse momento, os EUA tentam com todas as forças, preservar seu status unipolar, enquanto a Rússia (de forma direta) e a China (de forma indireta) buscam acelerar o fim da hegemonia unipolar dos EUA.
Infelizmente, por falta de visão das elites dirigentes da 6ª República, o Brasil não possui um papel central nesse processo. Possuímos posição subalterna na atual ordem mundial, agravada pela proximidade geográfica com os EUA em uma época na qual, pela Doutrina de Segurança Nacional dos EUA, todas as Américas estão incluídas na “zona de segurança” que os EUA reivindicam. Mas isso não é motivo para covardia. Os EUA e a Europa Ocidental estão sendo enredados em compromissos militares e isso tende a se intensificar até o atolamento.
O Ocidente faz altos investimentos na contenção da Rússia na Europa Oriental, da China no Extremo Oriente, do Irã no Oriente Médio. A doutrina guevarista do foquismo, mas dirigida por grandes Estados imperiais, não por guerrilhas, pode se provar eficiente. Não devemos ser guiados pelo medo da “reação” dos EUA até a minúsculos gestos de soberania. Devemos assumir uma posição contra-hegemônica. Se o status quo é a hegemonia global unipolar centrada nos EUA, devemos apoiar todas as forças que enfraqueçam essa hegemonia em prol da multipolaridade. Esse apoio não precisa ser militar. Ele pode ser diplomático, comercial, financeiro, logístico, cultural, informacional, etc. Esse apoio pode ser aberto ou encoberto. O que importa é clareza na necessidade de dar fim à unipolaridade e acelerar o advento da multipolaridade.
Não se deve cair no erro de buscar reduzir o poder dos EUA em prol do fortalecimento de agências e instituições internacionais ditas “multilaterais” para favorecer o advento de uma ordem mundial apolar, em que as soberanias e vontades nacionais estão diluídas e todos os povos estão integrados em uma mesma civilização global sem fronteiras. Essa, a falsa alternativa defendida por muitos dos anti-americanos e terceiro-mundistas de esquerda, é o xeque-mate da elite mundial contra a causa dos povos. Um Consenso Global, com instituições internacionais ainda mais fortes do que hoje, tornaria quase impossível que qualquer país se rebelasse. Seria pior do que a hegemonia unipolar aberta dos EUA.
No lugar da unipolaridade americana e da apolaridade global, devemos apontar para uma ordem mundial multipolar estruturada no diálogo entre Grandes Espaços continentais-civilizacionais, representados pelos “Impérios” regionais. Esse é o esquema institucional internacional que oferece as melhores chances para que o Brasil consiga autorrealizar suas potencialidades.
Nesse esquema, o Brasil deve integrar e organizar confederativamente a América do Sul, tornando este um espaço comum defendido militarmente, inclusive com armas nucleares. Isso implica, necessariamente, libertar as Malvinas e Guianas (inclusive recorrendo ao uso da migração como arma) e romper o cerco de bases militares no Atlântico Sul. Devemos cooperar com o México na reordenação da América Central e Caribe e promover uma estratégia meridionalista de parcerias multivetoriais na África Negra (começando por Angola e Moçambique), Sul Asiático e até mesmo Austrália. Nessas relações, quando necessário, o Brasil deve recorrer a um análogo nacional do Grupo Wagner para combater insurgências em nações aliadas. Nossa herança luso-espanhola e mesmo ítalo-germânica podem também nos abrir as portas para um engajamento ativo em relações produtivas com uma Europa pós-atlantista.
Tudo isso deve ser direcionado para projetar um nível de influência, estruturado em rede, que permitirá a longo prazo que a ordem multipolar possa ter, como primus inter pares, o Brasil, a Nova Roma Tropical.