Lula está ocupando, em verdade, um cargo ilustre de chanceler “de facto”, estabelecendo diálogos e acordos de forma inoficial, enquanto o governo permanece calado a cada vez mais isolado no jogo internacional. Porém, esta diplomacia paralela também fere os interesses do Brasil. Em troca, o Brasil terá “investimentos europeus” que, ultimamente, não serão nada suficientes para a resolução dos problemas que afetam a nação, além de aprofundar nossa subserviência.
Por Lucas Leiroz
O ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se conhecido no mundo todo como um líder de esquerda moderado que, na política interna, incentivou avanços sociais em favor das camadas pobres da sociedade e, na externa, solidificou a posição do Brasil como um país não-alinhado, aproximando-o do BRICS e de outros poderes emergentes, negociando acordos com o Irã e mediando as discussões entre o Norte e o Sul geopolítico. Entretanto, parece que muitas dessas posições serão revisadas por Lula, que planeja lançar-se como candidato nas próximas eleições presidenciais, no ano que vem. Numa recente visita à Europa, o ex-presidente encontrou-se com diversas lideranças do continente, prometendo uma postura subserviente do Brasil até mesmo no que concerne a assuntos extremamente estratégicos, tal qual a preservação da floresta amazônica. É possível que, a fim de retornar ao poder, Lula esteja disposto a tudo, incluindo o emprego e a manutenção de uma política exterior de alinhamento automático à União Europeia—o que traria grandes malefícios ao povo brasileiro.
No dia 11 de novembro, Lula deu início ao seu tour europeu, visitando Alemanha, Bélgica, França e Espanha. Nesses países, o ex-presidente encontrou-se com políticos e empresários, cumprindo uma extensa agenda diplomática através de diálogos estratégicos com possíveis apoiadores de sua candidatura de 2022. Os tópicos debatidos ao longo de tais encontros eram de suma importância e evidenciaram uma grande afinidade de opiniões entre Lula e seus interlocutores europeus.
Na Alemanha, o encontro foi com Olaf Scholz, e, nele, ambos discutiram longamente sobre a questão da Amazônia. Com uma postura muito problemática, Lula nada menos do que convidou Scholz para “proteger” a floresta. Aparentemente, o ex-presidente quer a participação ativa do governo alemão na política ambiental brasileira. Ainda são desconhecidos os limites da ação alemã dentro dos confins desta possível administração ambiental.
Anteriormente, durante a última reunião do G20, Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil, tratara Scholz com extrema rudeza. O vice-chanceler alemão aproximou-se de Bolsonaro, que, aparentemente, sequer sabia quem ele era, deixando de cumprimentá-lo. O episódio não passou despercebido pela imprensa, que publicou manchetes sugerindo uma acentuação ainda mais grave no declínio das relações bilaterais entre os dois países. Por sinal, tais relações vêm complicando-se desde 2019, justamente em função do desmantelamento da política ambiental brasileira então vigente, fortemente repudiado pelo governo de Angela Merkel. Agindo de tal maneira, Bolsonaro “jogou lenha” na crise, enquanto Lula, por sua vez, agiu com desenvoltura política ao escolher Scholz como primeiro parceiro em seu tour europeu—e ao trazer à tona a “questão amazônica” durante as conversas.
Na Bélgica, dia 15, Lula foi convidado a falar durante a Conferência de Alto Nível da América Latina, promovida pelo bloco social-democrata no Parlamento Europeu. Em seu discurso, ele apresentou as condições para o tão aguardado acordo comercial Mercosul-UE e prometeu avançar em todas as agendas defendidas pelo bloco europeu, focando em temas relacionados a meio ambiente, inclusão social, criação de empregos e à reconstrução do mundo pós-COVID-19. Lula foi aplaudido entusiasticamente pelos políticos presentes e seu discurso foi amplamente disseminado pela mídia europeia como um lampejo de “esperança” para o Brasil.
Em Paris, visitou Emmanuel Macron, sendo recebido com honras de chefe de estado; um ato de alta significância simbólica, uma vez que, ao realizá-lo, o presidente francês, na prática, assumiu reconhecer Lula como o verdadeiro presidente do Brasil. Os mesmos problemas discutidos nas demais reuniões foram ali também abordados e ambos traçaram estratégias de melhoramento das relações bilaterais entre suas nações. Na ocasião, Lula também encontrou-se com vários outros políticos franceses, incluindo o prefeito da capital.
O ex-presidente encerrou sua viagem na Espanha, com o primeiro-ministro Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, Madrid. Ambos reforçaram laços de cordialidade expondo pontos de vista em comum quanto à questão ambiental e ao desejo de revigorar a democracia e o progresso social. Sánchez declarou abertamente seu apoio à candidatura de Lula.
Em todos os países que visitou, Lula não só reuniu-se com políticos e empresários, como também jornalistas, líderes sindicais, ativistas e apoiadores. De todas as formas, o ex-presidente logrou angariar favor à sua candidatura, estabelecer contratos para investimentos no Brasil e traçar condições para parcerias bilaterais futuras. De fato, a inteligência política de Lula é notória. A escolha da Europa como rota de campanha, convenientemente feita durante uma era de declínio nas relações do continente com o Brasil, foi de imenso valor estratégico. Certamente, sua candidatura terá suporte financeiro de grandes nomes do bloco, enquanto Bolsonaro perde aliados exponencialmente, tanto dentro quanto fora das fronteiras nacionais.
Contudo, certos pontos devem ser criticados. A posição à qual Lula submeteu o Brasil em suas negociações com a Europa é de extrema anuência. Basicamente, o ex-presidente viajou para dizer aos europeus que, caso vença as eleições, Brasília estará disposta a aceitar quaisquer condições impostas pela UE em nome da selagem de parcerias econômicas. Lula agiu contra os interesses brasileiros ao convidar o futuro chanceler alemão para ter parte na administração da Amazônia—um absurdo que gravemente mina a soberania nacional. Em outras palavras, Lula está fazendo com os europeus o mesmo que Bolsonaro fez com Washington; prometendo uma política de alinhamento automático em troca de favor político e econômico.
Durante seus mandatos prévios, Lula destacou-se por uma política externa de razoável consistência, priorizando interesses estratégicos da nação. Tal postura poderia ser replicada no contexto atual; ele poderia empenhar-se em melhorar as relações do Brasil com a China e a Rússia, que também foram prejudicadas pelo alinhamento de Bolsonaro a Washington, mas, ao invés disso, escolheu apenas substituir Washington por Bruxelas, que, diferente de Moscou e Pequim, demanda condições abusivas para que acordos sejam prescritos.
Lula está ocupando, em verdade, um cargo ilustre de chanceler “de facto,” estabelecendo diálogos e acordos de forma inoficial, enquanto o governo permanece calado a cada vez mais isolado no jogo internacional. Porém, esta diplomacia paralela também fere os interesses do Brasil. O cenário mais provável com a eleição de Lula é o de importação de todas as pautas da agenda europeia; passaportes sanitários, vacinação obrigatória (aliada ao boicote de vacinas não-ocidentais), mercado de carbono… avançando, assim, simultaneamente, no projeto de estabelecimento de uma administração transnacional da Amazônia. Em troca, o Brasil terá “investimentos europeus” que, ultimamente, não serão nada suficientes para a resolução dos problemas que afetam a nação.
Fonte: InfoBrics