Contra a Pseudo-Religião do Petróleo e do Gás e o Capitalismo Verde

A ordem econômica contemporânea nos apresenta uma falsa alternativa, entre a a exploração dos recursos de petróleo e gás e uma “economia verde”. Mas tal como é necessário pensar a superação da dependência excessiva em relação ao petróleo e o gás, também não se deve confiar nos pseudo-ambientalistas financiados por George Soros, que promovem um capitalismo verde em prejuízo dos povos não ocidentais.

Em meio aos contínuos ataques ao Nord Stream 2 e ao avanço da agenda verde, os preços do gás na Europa continuam a bater recordes. Agora, o custo de mil metros cúbicos de gás natural já é de US$ 1500. Isto significa que o preço do gás aumentou 5 vezes nos últimos dois anos. Os analistas prevêem: este não é o limite – no inverno ele pode chegar a US$ 2.000. Ao mesmo tempo, a Europa já está solicitando carvão da Rússia.

Poderíamos certamente dizer sarcasticamente: aqui está Greta Thunberg e uma virada verde. Mas eu não farei isso. Vale a pena falar de coisas mais profundas: de que serve uma civilização industrial baseada no petróleo e no gás? O que é bom na industrialização e no triunfo das máquinas e mecanismos? De que serve uma civilização técnica que não pode viver sem um líquido preto grosso obtido dos cadáveres de pequenas criaturas que morreram há muitos milênios e do denso ar subterrâneo com um odor desagradável e consequências desastrosas para o mundo em que vivemos?

Nos tempos modernos, a humanidade entrou na era das máquinas. O petróleo e o gás tornaram-se a principal produção, subjugaram as pessoas. Para nós, Gazprom ou Rosneft e estruturas similares no exterior se tornaram fórmulas de uma nova sacralidade. O gás e o petróleo são a verdade última, uma medida do ser, um volume de poder. A história toda se resume a espólio e estamos prontos para admiti-lo e nos curvar a isso. Todas as guerras são guerras por recursos. O petróleo vem primeiro (Über alles gas).

Não achamos tudo isso nojento? Na civilização do petróleo e do gás, todos os valores se tornam negros como o petróleo e cheiram mal como o gás. Estas são as cores e os cheiros do submundo – os rios do inferno e o cheiro do enxofre. Em suas visões sombrias, Yegor Letov no álbum “Russian Field of Experiments” gritou “A eternidade fede a petróleo!” Esta é a eternidade de Svidrigailov, áreas prolongadas e intermináveis de perdição eterna – onde o tempo se arrasta como correntes negras sem sentido de petróleo. Sem propósito e sem graça.

E por que estamos felizes com este aumento no preço do gás? Claro, é patriótico e nobre estar do lado de seu país. Mas o país – suas autoridades e elites – deve ter um significado, deve haver uma ideia, uma ética e uma estética, deve haver a Verdade. Um país de petróleo ou gás com petrodólares e rublos de gás – com as faces cinzentas dos funcionários da Gazprom como um exemplo do que significa “a vida é boa” – isto não é muito atraente. É até mesmo humilhante. É maravilhoso quando nos alegramos na cruz, na vitória, no trabalho engenhoso, com famílias felizes e sangue sadio e leite para as crianças. Mas o assobio do ar sulfúrico no gasoduto, que será queimado e jogado na atmosfera por cidadãos europeus e migrantes – não, não pode ser objeto de orgulho nacional. Não deve ser.

Portanto, precisamos de uma civilização diferente – não técnica, mas existencial, ontológica, estética, humana e sobre-humana. Não se trata de ecologismo. Aqueles que projetaram e criaram este mundo técnico, hoje decidiram reconstruí-lo para novas necessidades. Não se pode confiar em uma única palavra dos ecologistas pagos por Soros e outros bilionários. A “economia verde” é pura sabotagem. Ela tem como objetivo poluir ainda mais a humanidade. MAS, antes de mais nada, enfraquece os concorrentes do Ocidente global e os coloca em desvantagem. Sim, tudo isso é verdade. Mas não se deve sucumbir a um dilema primitivo – nem as redes sorosianas e o Grande Reset da economia verde, nem aplausos para o aumento dos preços do gás na Europa.

Os preços vão subir bastante. Mas só para nos ajudar a fazer algo belo e sublime? Vamos criar beleza e ajudar os necessitados? Financiaremos a investigação do Logos russo e apoiaremos as comunidades rurais e pequenas paróquias?

É claro que não. Todos os mesmos funcionários da Gazprom e o resto da elite completamente degenerada construirão suas novas cidades a partir de mansões feias e patologicamente caras. E isso é tudo.

O mero desperdício de recursos naturais não é alternativa a projetos subversivos e completamente enganosos de capitalismo verde. A economia não deve ser “verde”, mas humana, cultural e espiritual. Ela deve obedecer e servir aos valores mais elevados. O economista russo Sergiy Bulgakov insistiu: a economia deve ser criativa, no trabalho uma pessoa se exalta, cria um mundo bom e maravilhoso junto com Deus, de acordo com Seus mandamentos. Bulgakov chamou isso de Sofia, a Sabedoria de Deus. Ela é o verdadeiro sujeito da economia. A economia deve ser excelente e sublime. E isso não se resume ao dilema do Grande Reset, ou aos 1500 dólares por mil metros cúbicos.

O objetivo do homem é erguer o mundo, deixar o Céu soltar livremente seus raios sobre a terra escura. A economia moderna é a economia do inferno. Mas o ecologismo não é uma alternativa a ela. A alternativa é Sofia.

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Aleksandr Dugin

Filósofo e cientista político, ex-docente da Universidade Estatal de Moscou, formulador das chamadas Quarta Teoria Política e Teoria do Mundo Multipolar, é um dos principais nomes da escola moderna de geopolítica russa, bem como um dos mais importantes pensadores de nosso tempo.

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