Um Mundo sem Facebook

O dia começou com a mídia global fazendo campanha para que o Facebook tivesse assento na ONU, como se fosse um país, mas antes do fim do dia o mundo testemunhou o colapso da megacorporação da Big Tech, com 6 horas de apagão de todas as suas redes e aplicativos. A credibilidade abalada, chegou a hora de questionar o monopólio da Internet por uns poucos bilionários.

O império digital de Mark Zuckerberg acaba de sofrer sua pior catástrofe técnica em 13 anos. As plataformas Facebook, Instagram e WhatsApp ficaram indisponíveis por várias horas, aparentemente devido a um problema no código que todos eles compartilham,relacionado ao roteamento das próprias páginas, o que causou um desligamento global de todas elas.

O Facebook havia sofrido algo semelhante em 2008, quando ficou indisponível por 24 horas. Entretanto, naquela época, tinha apenas 80 milhões de usuários, enquanto agora tem pelo menos 3 bilhões de clientes registrados, dos quais centenas de milhões são usuários ativos de redes sociais.

Este golpe no império de Mark Zuckerberg vem contra o pano de fundo de uma amarga luta pelo futuro dos monopólios digitais. Muitos políticos americanos – tanto à direita quanto à esquerda – estão reivindicando o exemplo de Teddy Roosevelt, que lutou duramente contra os monopólios do petróleo.

Em contraste, há outras vozes – neoliberais – que continuam a glorificar o apogeu das corporações. É irônico que ontem tenha aparecido nas páginas da Bloomberg um ensaio que pedia diretamente que os monopólios digitais recebessem assentos na ONU em pé de igualdade com os detidos pelos Estados soberanos.

O capital produzido pela Microsoft é maior do que o PIB de muitos países, como o Brasil, enquanto empresas como o Walmart têm mais funcionários do que toda a população do Botsuana. Há até mesmo pesquisas que mostram que os executivos de várias empresas ocidentais são vistos mais positivamente do que muitos políticos. Parece que os tecnocratas no mundo dos negócios começaram a ser vistos como muito mais decentes do que os demagogos de hoje, especialmente em um contexto de crises institucionais e guerras culturais incessantes.

Depois do que aconteceu hoje, eles podem esquecer seu assento na ONU por enquanto, já que a prioridade para o Facebook era trazer seu sistema de comunicação de volta online. Essas falhas experimentadas pelo serviço da Babilônia digital só tornarão os gigantes da informática, já bastante atingidos pelo aumento da censura online, muito mais vulneráveis às decisões políticas que procuram regular suas operações ou que propõem a divisão de seus negócios em entidades menores.

Todos aqueles que acreditavam no “futuro brilhante” conduzido pela inteligência artificial acabaram de experimentar o que acontece quando você confia sua subjetividade a um servidor de nuvens e de repente percebe que o “imperador está nu”.

Fonte: Katehon

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Malek Dudakov

Cientista político russo

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