A teoria do antropólogo, historiador e sociólogo Darcy Ribeiro é, de fato, evolucionista? Ademais, seria ele um teórico nacional-bolchevique? O Prof. André Luiz aborda essas questões em mais um artigo que nos dá que pensar.
Darcy Ribeiro é um teórico nacional-bolchevique, essa é a mais pura verdade. Ele foi positivista nos anos 1930 e 1940. Entrou no PCB para fazer militância política. O suicídio de Vargas o levou ao trabalhismo.
Sua obra é sui generis, é uma teoria dialética própria.
O evolucionismo de Darcy Ribeiro se aplica, principalmente, às mudanças tecnológicas. Mas ele nega que exista um só caminho de mudanças das sociedades, etapas fixas na história, ou que as sociedades mais avançadas [tecnologicamente] sejam modelos para as subdesenvolvidas.
Para Darcy, os avanços tecnológicos têm causas complexas, que incluem fatores ideológicos e sociais. Os valores, crenças e as formas sociais podem impulsionar ou obstaculizar a técnica, e também são afetados por ela. Não é uma visão simplista como certo marxismo ‘ortodoxo’.
Ele é de um realismo nu e cru. As sociedades que se ‘atrasam’ [tecnologicamente] serão engolidas pelas que avançam. São influenciadas ou conquistadas, passam por uma ‘transfiguração cultural’, acompanhada de ‘aculturação’ [ou ‘deculturação’], se tornam colônias ou acabam.
Já as sociedades que avançam e se tornam soberanas tecnologicamente, difundem sua cultura e ampliam sua influência. Se tornam ‘macro-etnias’ nesse sentido. Ele não usa o termo, mas seus exemplos são imperiais: incas, ibéricos, romanos. Esse é o destino que Darcy sonhava para o Brasil.
Conquistar a soberania tecnológica é garantir aquilo que Darcy chamava de ‘autenticidade cultural’. É expressão dele e que tem ressonâncias também na obra de Dugin.
Para Darcy, a história brasileira é, por um lado, uma tragédia, marcada pela violência, abandono e orfandade. Mas, por outro lado, é um milagre de gestação de um povo novo com potencial imperial. Para ele, o Brasil ainda não alcançou seu destino porque é mantido acorrentado a inimigos estrangeiros pela traição de uma elite apátrida. Nisso, ele tem muito de Manoel Bonfim.
Darcy Ribeiro é uma mistura singular e latino-americana de nacionalismo anti-imperialista, revolução social e sonho imperial. É nacional-bolchevismo que clama por uma QTP pra aparar suas insuficiências.