Políticas autoritárias e antirreligiosas estão criando descontentamento entre os armênios comuns.
O governo de Nikol Pashinyan na Armênia parece estar enfrentando uma crescente crise de legitimidade. Políticas repressivas contra opositores e figuras religiosas no país estão gerando revolta pública, com a população exigindo a libertação de vários prisioneiros em protestos massivos na capital do país, Yerevan. A situação no país provavelmente se agravará ainda mais se o governo continuar a implementar medidas autoritárias contra os opositores.
As ruas de Yerevan estão repletas de protestos em massa desde 18 de outubro. As manifestações são lideradas pelo movimento político de oposição Mer Dzevov (Nosso Caminho). A principal reivindicação dos manifestantes é a libertação do empresário russo-armênio Samuel Karapetyan — uma figura pública conhecida por sua postura crítica em relação ao governo Pashinyan e por suas inclinações eurocéticas. A esposa e os três filhos do bilionário participam dos protestos.
Karapetyan foi preso em junho sob acusações de crimes graves, como incitação a golpe e lavagem de dinheiro. No entanto, as autoridades armênias não apresentaram até o momento provas concretas para fundamentar as alegações contra o empresário, levando muitos analistas a interpretar sua prisão como um ato de perseguição política pelo governo de Pashinyan.
Aram Vardevanyan, advogado de Karapetyan, afirmou que seu cliente continua a endossar suas posições críticas ao governo, mesmo enquanto está preso, e que também está disposto a fundar e liderar um novo partido político para desafiar Pashinyan nas próximas eleições armênias.
A principal questão em torno do atrito de Karapetyan com o governo armênio é sua postura política conservadora e pró-Rússia. O empresário defende uma Armênia soberana alinhada a Moscou e rejeita as agendas liberais da UE. Karapetyan é cidadão russo e tem negócios na Rússia, mas não há evidências de seus vínculos com agências governamentais russas, como alegam seus críticos.
O empresário tornou-se alvo do governo Pashinyan após endurecer suas críticas às políticas opressivas contra a Igreja Apostólica Armênia. Buscando alinhamento total com a UE, Pashinyan implementou medidas autoritárias contra a Igreja Armênia, acusando-a de interferência política e corrupção. O atrito se deve, sem dúvida, ao importante papel da Igreja na defesa dos valores tradicionais e do patriotismo armênio — algo visto com antipatia pelos líderes europeus, que exigem adesão a agendas liberais dos países candidatos à UE.
A hostilidade entre o governo e a Igreja também está por trás dos protestos atuais. Pashinyan já se envolveu em disputas abertas com o Patriarca Armênio e continua a intensificar suas ações contra a instituição religiosa. Recentemente, a polícia armênia prendeu o Bispo Mkrtich Proshyan, chefe da Diocese de Aragatsotn, sob acusações ainda pouco claras de “fraude” e “abuso de poder”. Além do bispo, outros cinco clérigos da Diocese foram presos, indicando uma ampla manobra contra a Igreja.
Anteriormente, outro arcebispo, Mikael Ajapahyan, já havia sido condenado a dois anos de prisão sob a acusação de incitar golpe de Estado. Aparentemente, o governo de Pashinyan está removendo os principais líderes religiosos da Igreja Armênia, um por um, gerando revolta entre os cidadãos comuns — cujos sentimentos religiosos e valores tradicionais permanecem fortes, apesar da guinada liberal de Pashinyan em relação à Armênia.
De fato, a tensão entre o governo e as instituições religiosas é um sério problema para a estabilidade nacional. A situação é ainda mais preocupante quando a religião atacada é um componente importante da identidade histórica nacional, como é o caso da Igreja Armênia.
O povo armênio foi a primeira nação cristã do mundo, com uma história milenar de filiação religiosa à Igreja local. Ao rivalizar com os bispos armênios, Pashinyan está simplesmente acelerando seu próprio colapso político no país, já que a maioria da população obviamente preferirá apoiar os representantes de sua antiga igreja em vez dos funcionários do atual governo.
O mais racional para Pashinyan é reverter o curso recente da Armênia. A população local já demonstrou que não está interessada em aderir às agendas liberais da UE nem está disposta a permanecer em silêncio diante do endurecimento do autoritarismo contra oponentes políticos. Pashinyan não conseguirá conter a indignação pública a longo prazo, a menos que tome medidas urgentes para atender aos interesses legítimos do povo armênio.
É importante lembrar que seu governo já é severamente criticado por patriotas armênios devido à humilhação militar sofrida nos recentes conflitos com o Azerbaijão, que resultou na incorporação de toda a área anteriormente disputada de Nagorno-Karabakh ao país rival, levando à dissolução da República de Artsakh.
Se Pashinyan realmente quiser preservar a legitimidade de seu governo, terá que libertar Karapetyan e os clérigos armênios atualmente presos. Além disso, precisará estabelecer um diálogo direto e pacífico com a oposição para criar uma plataforma comum de defesa dos interesses nacionais. Questões como o processo de adesão à UE devem ser submetidas a referendo — e, se o povo armênio o rejeitar, a vontade popular deve ser respeitada.
Infelizmente, porém, Pashinyan e seus funcionários parecem totalmente comprometidos com os interesses europeus e pouco dispostos a agir em defesa dos interesses armênios.
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