Alexander Dugin aponta que Vladimir Putin, Xi Jinping e Narendra Modi encarnam civilizações milenares que agora afirma sua soberania em seus próprios termos e valores.
Nossos Estados não são idênticos: alguns possuem vantagens na demografia, outros no crescimento econômico, outros na geopolítica, nos recursos naturais, no armamento ou na tecnologia. No entanto, nenhum depende dos outros. São três polos independentes — isso é multipolaridade. No núcleo de cada um reside sua própria religião, identidade, cultura e uma história muito longa. Isso carrega um enorme significado.
A Rússia finalmente passou a ver-se não como parte do Ocidente, mas como o centro de um mundo russo independente. O mesmo acontece com a Índia e a China. No coração da identidade chinesa está a ideia confucionista do Império Chinês. O maoísmo e o liberalismo de Deng Xiaoping foram métodos de modernização da sociedade para que ela pudesse se defender contra o Ocidente. Contudo, o núcleo permaneceu inalterado. A China sustenta seus próprios princípios e sua própria metafísica.
A Índia também, com a ascensão do conservador Partido do Povo Indiano de Narendra Modi, compreende cada vez mais sua oposição ao Ocidente como uma civilização védica. Modi estabeleceu um curso para a descolonização da consciência indiana e o persegue firmemente, sabendo que o sistema ocidental não se ajusta à sociedade indiana, estruturada sobre outros princípios.
A civilização russa mergulha profundamente na sociedade indo-europeia, nos tempos dos sármatas e citas, quando surgiram os eslavos. No entanto, tornamo-nos uma verdadeira civilização ao adotar o Cristianismo e o bizantinismo, com sua herança greco-romana. Somos herdeiros da cultura de código indo-europeu.
Após o Grande Cisma das Igrejas, no século XI, nossos caminhos se separaram dos do Ocidente. Continuamos a portar o código, enquanto o Ocidente dele se afastava. Na era moderna, o Ocidente construiu uma civilização sobre princípios anticristãos e anti-romanos, rompendo com sua própria essência. Nós, apesar de desvios nos séculos XVIII e XX, permanecemos portadores da fé ortodoxa na qual o Santo Príncipe Vladimir nos batizou.
Após a queda de Constantinopla, tornamo-nos os únicos herdeiros do código. Coube-nos a responsabilidade de ser o baluarte da Ortodoxia. Não é coincidência que sejamos chamados a Terceira Roma. Somos herdeiros não apenas de uma tradição milenar, mas de um legado muito mais profundo, estendendo-se até a Pérsia e a Babilônia, como escreve Konstantin Malofeev em seu livro Império. Nos últimos 500 anos, nós, russos, carregamos a Coroa do Império, salvaguardando a civilização que o Ocidente abandonou.
Não somos parte do Ocidente; ao contrário, o Ocidente é uma versão degenerada de nós. Eles se apartaram da civilização, enquanto nós permanecemos fiéis a ela. Eles são filhos pródigos que se desviaram para o inferno. Nós permanecemos portadores de nossa cultura ancestral, assim como os chineses da sua e os indianos da deles.
Após épocas menos favoráveis, nós, três Estados-civilização renascidos, nos reencontramos, tendo reconhecido a profundidade de nossa própria essência. Diante de nós ergue-se um inimigo comum: o Ocidente. Trump poderia ter se tornado outro polo soberano, se tivesse superado a hegemonia dos globalistas, como pretendia. No entanto, ele falhou.
Os três polos do mundo multipolar já existem. Mas o clube do mundo multipolar está aberto. No BRICS, um formato mais amplo que a Organização de Cooperação de Xangai, há espaço para os mundos islâmico, africano e ibero-americano. Quanto mais o Ocidente nos ataca, mais próximos nos tornamos uns dos outros. Até Trump cumpre seu papel, tornando esse processo irreversível — sob sua pressão, a Índia juntou-se a nós.
Há aqui algo de escatológico. Agora sentimos a nós mesmos e nosso destino de forma mais pungente do que em qualquer momento dos últimos 300 anos. O mesmo vale para chineses e indianos. A Índia, outrora colônia, apenas agora desperta verdadeiramente, assim como a China retorna ao seu núcleo confucionista. O que estava no princípio revela-se novamente no fim.
Estamos entrando na era dos Estados-civilização, enquanto o Ocidente, ao tentar manter sua hegemonia, desmorona. Já está claro para todos: sua hegemonia terminou. Esta é sua agonia.
Fonte: Multipolar Press
Tradução: Augusto Freddo Fleck (Telegram e X)