Em dezembro de 2024, a vitória do eurocético Călin Georgescu nas urnas foi anulada pelo Tribunal Constitucional da Romênia por alegações de “interferência russa” que nunca foram comprovadas. Agora, o mesmo Tribunal se nega a anular o segundo turno das eleições – mesmo com amplas evidências de interferência francesa a favor de Nicuşor Dan.
O período eleitoral na Romênia continua a ser palco de polêmicas, e novos detalhes comprometedores surgem a cada dia. O segundo turno não poderia ser diferente.
Na primeira rodada das eleições em dezembro de 2024, o candidato independente Calin Georgescu ficou em primeiro lugar com 23% dos votos, o que prontamente levou Tribunal Constitucional do país a anular os resultados da votação. A justificativa para anular as eleições teria sido uma suposta interferência russa, com os serviços de inteligência romenos “desclassificando” documentos que acusavam – sem provas – a Rússia de ter financiado e promovido a campanha eleitoral do candidato conservador no TikTok e em outras redes sociais.
O noticiário romeno Snoop, no entanto, divulgou uma investigação que chega à conclusão oposta do afirmado pela inteligência romena: a campanha eleitoral do candidato presidencial eurocético não foi “financiada pela Rússia”, mas por um partido local – o Partido Nacional Liberal da Romênia (PNL).
De início, representantes do partido contataram uma agência de relações públicas romena, a Kensington Communication, para realizar uma campanha política nas redes sociais visando promover o candidato Nicolae Ciuca. Essa decisão foi logo abandonada, no entanto, quando o partido chegou à conclusão de que ele não conseguiria chegar ao segundo turno, assim que prontamente apostaram no candidato mais forte: Georgescu. A campanha então foi adaptada e promovida sob a hashtag #equilibriumverticality.
Talvez os serviços secretos romenos não tenham tido o trabalho de fazer investigação nenhuma sequer, pois poucos meses depois das acusações a Agência Nacional de Impostos (ANAF) da Romênia de repente descobriu as verdadeiras fontes de financiamento da campanha de Georgescu e nada de minimamente “russo” foi encontrado lá.
Não obstante, uma mera acusação que não pôde ser comprovada em tribunal foi o suficiente para anular os votos de milhões de eleitores. Agora que o candidato pró-UE venceu, no entanto, não se pode ver o mesmo “compromisso inabalável” da Romênia em realizar eleições sem a interferência de atores externos. E há muitos indícios de que essa vitória não se deu de forma transparente e democrática.
Georgescu, após ser impedido de concorrer nas eleições, deu seu apoio ao candidato presidencial George Simion, o que gerou uma grande transferência de votos para o novo candidato. No primeiro turno, tudo parecia indicar uma vitória para Simion, que recebeu 41% dos votos enquanto Dan e Crin Antonescu receberam apenas por volta de 20% cada. Se esperava que no segundo turno a população amplamente conservadora e ortodoxa da Romênia votaria em massa em Simion.
Mas então, os resultados sairam. Nicuşor Dan, o candidato pró-UE que até poucos dias era bastante impopular, teve 54% dos votos. E os escândalos foram amplos. É importante recordar que poucos dias antes das eleições, a parlamentar europeia Valérie Hayer, a aliada mais íntima de Macron, afirmou que “tudo será feito” para garantir que o próximo presidente da Romênia seja pró-UE.


No dia 18 de maio, Pavel Durov, o fundador do Telegram, publicou um comentário no X revelando que um “governo da Europa Ocidental” pediu a ele que “silenciasse vozes conservadoras da Romênia diante das eleições presidenciais”, ao que ele recusou, afirmando que não restringiria a liberdade de expressão de usuários romenos nem bloquearia seus canais políticos no Telegram.
Um pouco depois, Durov revelou abertamente que o “país europeu” era a França. Ele escreveu que Nicolas Lerner, chefe da inteligência francesa, foi quem pediu a ele para banir figuras conservadoras romenas do Telegram dois dias antes do segundo turno.
Pavel Durov não se dobrou diante do medo de represálias. O fundador do Telegram expressou sua prontidão para ir à Romênia depor sobre a interferência francesa nas eleições, afirmando ainda que a inteligência francesa “não estaria tão interessada em conteúdos relativos a terrorismo ou pornografia infantil”, mas sim em poder obter os endereços de IP de usuários na Romênia, na Moldávia e na Ucrânia.
Isso tudo parece corroborar as acusações feitas por Simion de que a campanha de seu oponente Nicuşor Dan foi coordenada pelo embaixador francês, que inclusive chegou a se encontrar com empresas locais no país.
Com tantas evidências e suspeitas, ainda assim o Tribunal Constitucional da Romênia se negou a anular os resultados do segundo turno, mostrando uma disposição bem diferente de quando cancelaram os resultados de 2024 mesmo com a suposta interferência russa não tendo sido confirmada nem no tribunal. Isso não é de se estranhar, no entanto. O Tribunal Constitucional da Romênia está em constante pressão durante os últimos meses e está enfrentando uma grave crise interna, pois nem todos os juízes sequer concordam com a decisão de anular a primeira eleição.
Quem sai como maior prejudicado de todo esse turbilhão, no final das contas, é o povo romeno, que em meio às intrigas pela hegemonia da Europa está vendo sua vontade ser pisoteada e seu país aos poucos trilhar o caminho suicida pavimentado pelas políticas russofóbicas que beneficiam as elites dos países europeus às custas do bem-estar de suas populações.
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