Dedicatória
Dedico este trabalho a Natan Oliveira Ferreira, meu irmão, que me inspirou a me dedicar às letras e me ensinou o valor de uma segunda língua, cujo suporte foi essencial para a minha trajetória. Ao meu irmão, Erick Oliveira Ferreira, que me inspiram e me instigam a valorizar a disciplina e a cultura militar.
Agradeço, especialmente, a Rubem Rodrigues González, técnico mecânico da Petrobras e analista geopolítico, cuja visão de mundo contribuiu para o desenvolvimento das análises presentes neste artigo. A Antonio dos Santos, cujas reflexões geopolíticas precisas enriqueceram minha compreensão sobre o tema. Aos professores Paulino Cardoso de Jesus e Mariana Schlickmann, que me apresentaram o conceito de Mundo Multipolar, algo do qual eu sequer tinha noção. algo que eu sequer imaginava. Ao meu amigo B. A. S, que sempre me incentivou a pensar fora da caixa, a desenvolver meu próprio pensamento e que me apresentou à cultura chinesa, ampliando ainda mais minha visão de mundo
Aos professores do Seminário do Poder Global, por sua paciência e ensinamentos, e à minha professora Li Sihong (李四红), que me introduziu à cultura e à língua chinesa, transmitindo-me valores de proatividade e resiliência. Quando comecei, eu não conseguia ler um único ideograma, e hoje, graças a ela, essa realidade mudou.
Também dedico este estudo aos pesquisadores e profissionais que, com empenho e dedicação, contribuem para o avanço do conhecimento e da inovação tecnológica em um país que ainda tem jeito.
Por fim, a todos que acreditam no poder do aprendizado e na busca incessante pelo saber, aos desenvolvedores, criadores e inovadores de novas tecnologias, que este trabalho seja mais um passo na construção de um futuro melhor.
Resumo
A disputa pelos semicondutores tornou-se um dos principais pontos de tensão entre Estados Unidos e China. Taiwan, responsável por 90% da produção global desses componentes, exerce grande influência econômica e tecnológica. A reivindicação da ilha por parte da China continental coloca sua estabilidade em risco, e um eventual conflito poderia comprometer o fornecimento global, afetando significativamente a economia mundial.
Este estudo analisa os impactos dessa disputa no contexto da Guerra Técnico-Científico-Informacional e suas repercussões na economia global, destacando os riscos à segurança internacional e a necessidade de cooperação entre as potências para evitar uma crise sem precedentes.
Abstract
The semiconductor dispute has become one of the main points of tension between the United States and China. Taiwan, responsible for 90% of global semiconductor production, exerts significant economic and technological influence. Mainland China’s claim over the island threatens its stability, and a potential conflict could jeopardize the global supply chain, significantly impacting the world economy. This study analyzes the effects of this dispute within the context of the Techno-Scientific-Informational War and its repercussions on the global economy, highlighting the risks to international security and the need for cooperation between global powers to prevent an unprecedented crisis.
Tensões Geopolíticas e a Guerra Comercial
As tensões geopolíticas entre Estados Unidos contra China representam um dos eixos centrais da política internacional contemporânea, desde os investimentos em semicondutores na Era Deng Xiaoping. Deng Xiaoping foi crucial para a economia chinesa contemporânea, copiando o Modelo brasileiro do economista Roberto Campos¹ (GODOI, 2007). As reformas de Deng foram cruciais para China para a consolidação do estado chinês na atualidade, Os Estados Unidos e a China são as duas maiores economias do mundo e estão em competição direta por mercados e recursos. A guerra comercial iniciada em 2018, com a imposição de tarifas mútuas, exemplifica essa rivalidade. Segundo dados do Banco Mundial (2022), a China ultrapassou os Estados Unidos como maior parceiro comercial de diversos países emergentes, atualmente, sua influência econômica global tem se expandido substancialmente, demonstrando resiliência diante dos desafios econômicos recorrentes.
“Os Estados Unidos são frequentemente reconhecidos como uma democracia capitalista, fundamentada nos princípios do livre mercado e do pluralismo político (HUNTINGTON, 1999), enquanto a China Continental é um Estado socialista com características próprias. Essas diferenças ideológicas geram divergências em políticas identitárias, globalização e investimento em tecnologias estratégicas, com destaque para a competição pela liderança em inteligência artificial e o controle de tecnologias sensíveis, como armas nucleares, que têm sido o foco das tensões bilaterais (ALLEN, 2020). Atualmente, a China tem promovido a Nova Rota da Seda como eixo central de sua estratégia geoeconômica. Ambos os países são potências nucleares e estão envolvidos em disputas territoriais, como no Mar do Sul da China. A militarização da região e a formação de alianças estratégicas, como o QUAD² (Estados Unidos, Japão, Índia e Austrália), têm intensificado essas tensões.
Ascensão da China como Potência Tecnológica de Primeiro Mundo
A China investe maciçamente em semicondutores, inteligência artificial e biotecnologia, firmando-se como uma líder global singular em tecnologia. De acordo com estudos da McKinsey (2023), O país é responsável pela fabricação de 40% da fabricação de chips em escala mundial, contra 12% da fabricação dos Estados Unidos, desafiando a supremacia tecnológica estadunidense,
A nação chinesa é hoje um dos protagonistas na indústria global de semicondutores. Em 2003, a China continental respondia por apenas 10% da produção mundial, enquanto a China Insular³ contribuía com 5%. Atualmente, a China continental é responsável por impressionantes 70% da produção global de semicondutores. Como tal produção é estratégica para a produção de semicondutores, há o apoio estatal: O governo chinês tem injetado recursos significativos no setor de semicondutores, oferecendo benefícios fiscais e suporte financeiro às empresas do ramo.
Mão de obra especializada e competitiva: A China conta com uma vasta força de trabalho altamente qualificada e com custos relativamente baixos, o que torna a produção de semicondutores mais viável economicamente.
Expansão econômica: O robusto crescimento da economia chinesa tem ampliado a demanda interna e externa por semicondutores.
O porquê da vultosa importância dos semicondutores
Os Semicondutores estão presentes em todos os dispositivos eletrônicos, desde os nossos celulares, até TVs e carros. Eles são fundamentais para o processo de funcionamento de componentes eletrônicos, sistemas digitais e sistemas mistos
Semicondutores extrínsecos são semicondutores que possuem impurezas. As impurezas podem ser doadoras ou aceptoras. Os semicondutores podem ser classificados entre extrínsecos e intrínsecos: o que requere dopagem, para maior funcionamento de seus sistemas digitais, enquanto o outro é mais antigo, pouco usado hodiernamente.
A China para com os BRICS+ e os Estados Unidos junto ao QUAD competem com essa tecnologia estratégica a qual está mudando o mundo para sempre, como Inteligência Artificial, Segurança Nacional e Telecomunicações, tornando a disputa categórica para a manutenção do Poder Global.
A Ascensão da China como Superpotência Tecnológica
A China tem direcionado investimentos maciços para os setores de semicondutores e inteligência artificial4, consolidando-se como uma líder global em tecnologia. De acordo com estudos da McKinsey (2023), o país é responsável por 40% da fabricação mundial de chips, representando um desafio direto à dominância tecnológica dos Estados Unidos.5
O governo, com socialismo de características únicas, incentiva a indústria de semicondutores, criando assim uma mão de obra especializada, vasta, altamente qualificada, o que torna a produção de semicondutores viável economicamente. Com a expansão econômica de terras raras, o crescimento externo e interno da economia chinesa tem ampliado a demanda interna e externas por semicondutores, mesmo com os possíveis aumentos de impostos protecionistas dos Estados Unidos contra a China Continental e possivelmente contra a China Insular6. Esta Região Autônoma Insular (RAI)7 tem a maior fabricante de semicondutores do mundo, ela desempenha um papel estratégico para a China, pois assegura ao país o acesso à tecnologias de ponta. Além disso, a empresa tem sido crucial para diminuir a dependência de semicondutores importados da China Continental de, fortalecendo a autonomia tecnológica regional.
Conclusão
A ascensão da China como potência semiperiférica nas áreas da ciência e tecnologia coloca o país em uma corrida armamentista global contra a civilização ocidental, abrangendo áreas estratégicas como biotecnologia, computação quântica, engenharia nuclear e inteligência artificial. A produção de semicondutores se destaca como um elemento central dessa disputa, com o controle dessas tecnologias moldando o futuro da geopolítica global. No contexto atual, quem dominar esses campos será capaz de influenciar a dinâmica global, não apenas em termos econômicos, mas também políticos e sociais.
O Brasil, por sua vez, precisa adotar uma abordagem de tecnonacionalismo que valorize sua capacidade de inovação e busque uma maior independência tecnológica. Embora a China tenha se inspirado em alguns aspectos do modelo brasileiro, o país ainda não se reconhece plenamente o valor de seu próprio potencial científico, cultural e tecnológico. Ao desenvolver uma mentalidade voltada para a inovação, o Brasil pode não apenas se colocar em uma posição de liderança no mercado de semicondutores, também, ao se afirmar como protagonista e adotar uma política de desenvolvimento tecnonacionalista efetiva, superar outras potências tecnológicas, incluindo a China. Portanto, a chave para o futuro do Brasil está na valorização da ciência e da tecnologia como pilares fundamentais para a soberania nacional. Um olhar atento às tendências globais é necessário, mas sem abrir mão da criatividade e da autonomia tecnológica: O momento de transformação chegou e, ao adotar uma mentalidade inovadora e estratégica, o Brasil pode não apenas se posicionar como líder global, outrossim redefinir seu papel no século XXI, tornando-se uma referência em soberania tecnológica e inovação.
Notas
- Economista brasileiro responsável pela atual origem da economia contemporânea asiática da China Continental, China Insular (Taiwan), Coreia do Sul, Cingapura e Japão, onde dentro dessas regiões, existem os maiores polos tecnológicos do mundo, desde Shenzhen, com Huawei, Alibaba, Tencent, a famosa Vale do Silício da China, até Taipei, com Acer, Asus, Nvidia. Seul com Samsung, LG e Joho Bar, com TikTok como sua sede.
- Diálogo internacional sobre Segurança Nacional entre Estados Unidos, Japão, Índia e Austrália na região do Indo-Pacífico. O objetivo é a troca de informações de inteligência para deter o avanço tecnológico, científico, informacional e comercial da China continental na Ásia, conforme discutido no relatório ‘Segurança no Indo-Pacífico’ do Council on Foreign Relations (2023).
- “Termo criado pelo autor para se referir a Macau, Taiwan e Hong Kong como parte do antigo território da China soberana, remetente à Dinastia Qing no século XVII. Esses territórios, que possuem sistemas políticos e culturais distintos do continente, foram palco de disputas históricas, como a guerra civil chinesa (1945-1949), que opôs os nacionalistas de Chiang Kai-shek aos comunistas de Mao Tsé-Tung. Enquanto os comunistas venceram e estabeleceram a República Popular da China no continente, os nacionalistas se refugiaram em Taiwan, consolidando a divisão entre a China continental e a China Insular, na formosa ilha da China, como os portugueses a chamaram, na primeira vez em que marinheiros portugueses visitaram Taiwan em 1544, dando o nome de bela.
- O ‘tecnonacionalismo’, conforme explicado por Ashley Park (2023), foi crucial para que Taiwan estabelecesse uma parceria com o Japão, em oposição à China Continental. Essa dinâmica resultou em uma Guerra Comercial entre a China e os EUA, além de gerar uma rivalidade técnico-científico-informacional entre a China Continental e a China Insular, com a última atuando como uma espécie de testa de ferro dos Estados Unidos.
- De acordo com a VOA China, uma mídia local chinesa, Trump aplicará tarifas de até 50% sobre os semicondutores de Taiwan. No entanto, isso afetará pouco a China Continental, já que o Brasil é seu maior parceiro comercial, e a China é o maior mercado interno do mundo. O protecionismo de Trump impactará, sobretudo, empresas sinoinsulares, como MediaTek, Acer, Asus, etc. e o povo taiwanês.
- Termo criado pelo autor para indicar que Taiwan é parte integrante da China originária, e se considera a legítima representante da China Histórica.
Referências
- Almeida, Paulo Roberto de. “A corrida armamentista entre China e EUA.” Folha de S.Paulo, 20 jul. 2023.
- BLACKWILL, R. D. & HARRIS, J. M. (2020). A ascensão do mundo multipolar: as implicações para a segurança e a economia globais. Editora Campus/Elsevier.
- BREMMER, I. (2022). O mundo multipolar: um guia para a nova ordem mundial. Editora Objetiva.
- CARON, D. J. (2021). O futuro dos recursos naturais: a política global dos materiais estratégicos. Editora Elsevier.
- Danjin, Song. 1949—1950年毛泽东关于解决台湾问题的思考与决策. 毛泽东邓小平理论研究, 2018, n. 1.
- FERGUSON, Niall. A Ascensão da China. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
- GODOI, Bruno Bezerra Cavalcanti. A influência de Roberto Campos na economia brasileira. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
- Glosny, Michael A.; GREEN, Michael J. The Coming China-Russia-Iran Axis: Implications for U.S. Strategy. [S.l.]: [s.n.], 2022.
- GOLDEMBERG, José. “A nova corrida espacial entre EUA e China.” O Globo, 27 jul. 2023.
- GREEN, Michael J.; BECKLEY, Michael. The Geopolitics of Semiconductors: The Case of Taiwan. [S.l.]: Oxford University Press, 2023.
- HOROWITZ, Michael C.; STOKES, Jacob. The Rise of China and the Future of the Semiconductor Industry. [S.l.]: Oxford University Press, [ano].
- HUANG, Lilling. “How Taiwan Responds to Trump Tariffs on Chips.” Voice of America Chinese, 22 fev. 2025. Disponível em: https://www.voachinese.com/a/how-taiwan-responds-to-trump-tariffs-on-chips-20250222/7984289.html. Acesso em: 24 fev. 2025.
- INTERNATIONAL INSTITUTE FOR STRATEGIC STUDIES. The Military Balance 2022. [S.l.]: IISS, 2022.
- Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Relatório sobre o poder militar da China. Londres: IISS, 2023.
- KAGAN, Robert. “The New Cold War: The Challenge to American Primacy.” Foreign Affairs, Washington, v. 100, n. 2, mar./abr. 2021, p. 30-44.
- KHANNA, P. (2021). A nova ordem mundial: a ascensão das potências emergentes e o declínio dos Estados Unidos. Editora Zahar.
- MEARSHEIMER, John J. A Nova Guerra Fria. São Paulo: Editora LeYa, 2018.
- MCKINSEY & COMPANY. The Future of the Semiconductor Industry: A Strategic Analysis. [S.l.]: McKinsey & Company, 2020.
- NYE Jr., Joseph S. The Power of the Dragon: China’s Military Rise and the Threat to American Security. [S.l.]: [s.n.], 2022.
- Pentágono. Relatório sobre a estratégia militar dos EUA para o Indo-Pacífico. Washington, DC: Departamento de Defesa dos EUA, 2023.
- República Popular da China. Lei de Segurança Nacional da República Popular da China. Aprovada em 1º de jul. de 2015 pela 12ª Assembleia Popular Nacional. Disponível em: https://www.gov.cn/xinwen/2015-07/01/content_2888316.htm. Acesso em: 24 fev. 2025.
- ROSS, R. S. (2020). Taiwan: a última fronteira da China. Editora Zahar.
- SHIFTED paradigm in technonationalism in the 21st century: The influence of global value chain (GVC) and US-China competition on international politics and global commerce — A case study of Japan’s semiconductor industry. Asia and the Global Economy, v. 3, n. 2, jul. 2023.
- SEEHOE, Ashley Park. Shifted paradigm in technonationalism in the 21st century: The influence of global value chain (GVC) and US-China competition on international politics and global commerce — A case study of Japan’s semiconductor industry. Asia and the Global Economy, [s.l.], v. 3, n. 2, p. 100063, jul. 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.aglobe.2023.100063. Acesso em: 21 de fevereiro de 2025
- SEMICONDUCTOR INDUSTRY ASSOCIATION. Semiconductor Supply Chain Disruptions: Causes, Impacts, and Mitigation Strategies. [S.l.]: The Semiconductor Industry Association, 2022.
- STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. The Global Militarization Index 2022. [S.l.]: SIPRI, 2022.
- STOKES, Jacob; HOROWITZ, Michael C. “The Semiconductor Supply Chain: A New Geopolitical Frontier.” International Affairs, v. 97, n. 5, p. 1217-1234, 2021.
- SWAINE, Michael D.; TELLIS, Ashley J. A New Cold War: The Future of U.S.-China Relations. [S.l.]: [s.n.], 2021.
- IKENBERRY, John. “The Rise of China and the Future of the International Order.” Foreign Affairs, Washington, v. 101, n. 1, jan./fev. 2022, p. 61-75.
- WALT, Stephen. “The End of Pax Americana?”. Foreign Affairs, Washington, v. 101, n. 5, set./out. 2022, p. 17-33.
- WRIGHT, T. J. (2020). A política de segurança nacional dos Estados Unidos no século XXI. Editora FGV.
- YERGIN, D. (2022). A geopolítica dos recursos naturais: a nova corrida pelo ouro. Editora Objetiva.
- ZAKARIA, Fareed. O Mundo Pós-Americano. São Paulo: Editora Leya, 2008.