Agora que Trump foi eleito muitas pessoas se perguntam sobre os possíveis impactos nas relações entre Rússia e Irã.
Especialistas políticos iranianos rapidamente projetaram que uma vitória de Trump nas eleições presidenciais poderia levar a uma renovação das relações entre EUA e Rússia, devido aos supostos laços amigáveis entre Trump e Putin. Alguns no Irã temem que essa mudança possa minar a parceria estratégica entre Irã e Rússia, que se fortaleceu nos últimos três anos.
No entanto, uma análise mais detalhada das opiniões de especialistas russos apresenta uma perspectiva mais equilibrada e realista. Esses analistas acreditam que a relação EUA-Rússia é improvável de retornar aos níveis anteriores ao conflito, devido às profundas questões de confiança que persistem desde a crise na Ucrânia. Além disso, a parceria russo-iraniana, que ganhou impulso sem precedentes, dificilmente será sacrificada em prol de uma possível reaproximação com os EUA.
Examinar as opiniões de notáveis especialistas russos pode esclarecer a provável abordagem de curto prazo de Moscou em relação aos EUA, especialmente no que se refere ao conflito na Ucrânia.
Reações de analistas russos
Em respostas iniciais, alguns especulam que o retorno de Trump poderia levar a Rússia a desacelerar ligeiramente seus esforços de integração euroasiática, potencialmente abrindo espaço para discussões renovadas com os EUA, especialmente sobre a crise na Ucrânia. No entanto, Alexander Dugin, um proeminente defensor do eurasianismo na Rússia, expressa uma visão diferente. Ele argumenta que, embora a administração de Trump possa dar menos prioridade à crise na Ucrânia, provavelmente focará em questões domésticas dos EUA e na guerra comercial com a China. Dugin, que enxerga as ações da Rússia na Ucrânia como parte de uma missão destinada a “desnazificar Kiev”, é categórico ao afirmar que essa campanha deve continuar em direção ao oeste da Ucrânia. Em sua opinião, mesmo que Trump pedisse a Putin para interromper as operações militares na Ucrânia, tal pedido seria improvável de afetar os planos da Rússia.
De forma semelhante, Andrey Bezrukov, especialista em relações internacionais e professor na Universidade do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, acredita que a resolução da questão ucraniana depende mais do progresso militar da Rússia do que das eleições nos EUA. Ele enfatiza a imprevisibilidade de Trump, citando a experiência do Irã com mudanças nas políticas dos EUA, e alerta sobre os riscos caso futuras administrações democratas desconsiderem quaisquer acordos. Bezrukov acrescenta que a administração de Trump provavelmente se concentraria principalmente em conter a influência global da China, em vez de confrontar diretamente a Rússia na Ucrânia. Contudo, isso não significa necessariamente o fim do apoio dos EUA à Ucrânia; os EUA podem transferir mais dessa responsabilidade para a Europa, apesar das potenciais discordâncias de Trump com os líderes europeus.
Andrey Sushentsov, diretor dos programas do Valdai Discussion Club e especialista em relações internacionais, afirma que as instituições dos EUA limitaram as intenções políticas de Trump em relação à Ucrânia durante sua presidência de 2017 a 2021. Durante sua campanha, Trump afirmou que poderia resolver a crise na Ucrânia rapidamente, mas Sushentsov vê tais afirmações com ceticismo. Ele argumenta que a Ucrânia é uma ferramenta para os EUA gerenciarem a influência da Rússia, reunirem aliados europeus e os forçarem a arcar com os custos econômicos e sociais da crise, a menos que os EUA decidam que a Ucrânia não é mais uma alavanca eficaz.
Ao revisar esses insights de analistas russos proeminentes e comentários na mídia russa, fica claro que a maioria dos especialistas russos é cética quanto a qualquer impacto rápido de uma relação Trump-Putin na resolução do conflito na Ucrânia. Dado o nível sem precedentes das relações russo-iranianas nos últimos três anos, é improvável que essa aliança seja sacrificada por negociações hipotéticas entre um governo republicano nos EUA e a Rússia.
Fonte: Tehran Times