As eleições municipais de 2024 revelam algumas tendências políticas importantes que devem informar o nosso futuro.
As eleições municipais de 2024 confirmam tendências já presentes nas eleições gerais de 2022 e nas eleições municipais de 2020, não havendo muitas novidades aqui.
O que há de mais notável, em primeiro lugar, é a consolidação do Centro como o principal campo político brasileiro. PSD, MDB e PP, típicos partidos centristas, vão comandar quase 40% das prefeituras brasileiras, com os outros partidos do Centrão, dá pouco mais de 50% das prefeituras.
Mas em boa parte dos municípios nos quais o Centrão se deu bem, isso se deu em simbiose daquilo que poderíamos chamar de “bolsonarismo pragmático”. O bolsonarismo pós-derrota tendeu a uma aceleração entrópica que o rachou em pelo menos duas partes: a do esquizo-bolsonarismo, mais próximo ao olavismo, ao mundo das aberrações políticas originárias da internet, dos ancapismos e dos coaches, o qual foi esmagado nas eleições, e a do bolsonarismo pragmático, aquele que está disposto a transigir, dialogando com o Centrão e, em algumas ocasiões, até com a esquerda em troca de avanços objetivos.
Um exemplo típico disso é o resultado de Nunes no 1º turno, fruto de uma aproximação entre Centrão e bolsonarismo. Onde não se deu essa aliança, porém, ainda assim temos essas duas forças disputando a hegemonia. Em boa parte do Brasil, a disputa eleitoral real foi entre diferentes setores do Centrão e da direita, apenas excepcionalmente aparecendo algum representante da esquerda.
Aqui deveríamos comentar que não há novidade até aqui porque as eleições gerais de 2022 já apontavam para um enfraquecimento da esquerda. É necessário recordar que para garantir uma vitória apertada, Lula precisou construir uma aliança com todas as esquerdas, boa parte do Centrão, a direita liberal e até alguns elementos dissonantes do “bolsonarismo pragmático”. Nesse sentido, já era visível o crescimento dessas forças.
O próprio “Partido Judiciário” que sustenta o poder político de Lula é formado, majoritariamente, por elementos egressos do Centrão ou da direita liberal.
O PT em 2022 já havia se tornado incapaz de “andar com as próprias pernas”, o que se expressou e continua se expressando em uma incapacidade de mobilização popular. O PT não bota ninguém nas ruas e hoje já não ganha eleições por conta própria.
Aqui dirão, porém, que o PT ganhou prefeituras em comparação com 2020, mas essas prefeituras não compensaram as perdas de 2016 para 2020, e um olhar mais atento para os resultados dos outros partidos de esquerda mostra um problema bastante grave.
O crescimento do PT (recordando: incapaz de suprir quedas anteriores) só foi possível com o colapso do resto da esquerda, que passou a ser parasitada e absorvida pelo PT. O PDT vinha tendo um desempenho municipal estável há anos; foi triturado, perdendo prefeitos e vereadores na metade. O PCdoB que já vinha em queda livre, apenas acelerou a queda e está em vias de desaparecer eleitoralmente. E o PSOL que vinha em ascensão gradual e regular, regrediu para patamares de 2016.
Tudo isso demonstra que o PT não é mais capaz de crescer organicamente, convertendo inimigos ou indiferentes em amigos, e que ele só tem como permanecer flutuando sem afundar por meio do parasitismo eleitoral em relação a outros partidos de esquerda. Isso é evidenciado, aliás, pelo fato objetivo de que nos últimos anos o PT basicamente se “apropriou” de algumas das principais figuras políticas desses partidos.
Um partido nessas condições está, já, em fase terminal. Se mesmo sob a liderança do personagem político mais carismático dos últimos 50 anos, esse é o máximo que o PT consegue, imaginem o que ocorrerá com o partido após o falecimento do Lula. O mais provável é que ele tente fagocitar definitivamente o PSOL e alguns outros partidos da esquerda – ao mesmo tempo que se intensificarão as tendências entrópicas que se fazem presentes sempre que uma formação política heterogênea perde o seu chefe carismático.
Agora, na medida em que o PT vai fagocitando outros partidos, ele próprio é “psolizado” internamente, em uma espiral que tende a assemelhar o PT cada vez mais aos partidos da esquerda europeia.
Por falar em fase terminal, o PSDB, que com o PT compôs a polarização política liberal-democrática da Nova República (intermediada pelo PMDB), segue em queda livre e caminha para o seu inevitável fim. Boa parte de suas fileiras já debandou para outros partidos do Centrão, direita liberal e bolsonarismo.
Essas sendo as condições materiais, pode-se deduzir daí o “que fazer” necessário para a Causa Nacional.
É evidente que associar a própria imagem à figuras políticas da esquerda, afundadas em um processo entrópico e incapazes de mobilização, é suicídio político. Vários nomes importantes que se posicionavam como nacionalistas ao longo dos últimos anos (ou décadas) tiveram as suas carreiras políticas destruídas pelo erro crasso de apoiar o PT desnecessariamente ou por uma incapacidade de se descolar das pautas liberal-esquerdistas.
Enquanto a Causa Nacional busca se coagular em um Movimento, os fenômenos políticos com os quais essa Causa precisa dialogar são precisamente o Centrão e o bolsonarismo pragmático.
Se for capaz de entender as necessidades populares que levam à ascensão do Centrão e do bolsonarismo pragmático, os adeptos da Causa Nacional serão capazes de representar uma face de “justiça social”, “multipolarismo” e “anti-imperialismo” no seio desses fenômenos.