Rússia lidera na ONU a resistência à Agenda 2045

A ONU tentou mais uma vez emplacar o projeto da Agenda 2030, agora atualizado e com prazo ampliado. Mas a Rússia se colocou frontalmente contra.

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o “Pacto para o Futuro”, uma revisão/extensão dos objetivos da infame “Agenda 2030” para 2045, com 143 votos favoráveis dos 193 possíveis. Isso representa uma perda de quase 1/4 do apoio para esse projeto, já que quando a Agenda 2030 foi adotada em setembro de 2015 pela Resolução 70/1, isso se deu sem voto e, teoricamente, sem objeções.

Nesse sentido, é como se na época as lideranças mundiais que não fazem parte da conjuração mundialista simplesmente não estivessem entendendo o que havia por trás das “palavras bonitas” em que essa agenda vem embrulhada.

A nova extensão modifica apenas um pouco a versão original, para 2030. Para além do lero-lero sobre “acabar com a fome”, “acabar com a pobreza” e sobre “desenvolvimento sustentável”, é necessário entender que o objetivo verdadeiro da Agenda 2045 é fortalecer e centralizar a ONU contra a “resistência” dos países que se recusam a se submeter a cada uma de suas diretrizes e projetos.

Todo o resto do conteúdo só pode ser concebido prestando-se atenção ao esforço, defendido por Guterres e vários outros chefes de Estado e burocratas cosmopolitas, de dar um caráter impositivo e vinculante às decisões tomadas no âmbito da ONU, bem como garantir para ela poder executivo suficiente.

É apenas assim que se poderá empreender os projetos mais significativos da Agenda 2045, como a de “combater as mudanças climáticas” (pela liquidação da indústria dos hidrocarbonetos e pela limitação artificial dos padrões existenciais), “garantir os direitos humanos de cada pessoa em qualquer parte do mundo” (ou seja, impor a ideologia dos direitos humanos em sua configuração atual contra as identidades dos povos), “garantir e acatar as decisões da Corte Internacional de Justiça” (ou seja, colocar num cadafalso qualquer liderança nacional que desafie o status quo liberal-democrático cosmopolita), “garantir a igualdade de gênero” (imposição da ideologia de gênero), etc.

Uma das passagens trata da “desnuclearização do mundo”, uma crença idealista a essa altura do campeonato. Mas para entender o que se poderia propor, eventualmente, para sua implementação é necessário recordar o “Plano Baruch” dos EUA em 1946, em que Washington propôs transferir as suas armas nucleares para o controle da ONU. A URSS rechaçou a ideia, afirmando que era impossível confiar em um projeto desses.

A Rússia tentou impor uma emenda acrescentando um tópico dizendo que a ONU não poderá interferir em qualquer assunto que pertença à competência doméstica dos Estados – ou seja, buscando limitar a autoridade da ONU a questões realmente multilaterais e do interesse de todos, como as ligadas a guerra, terrorismo, comércio internacional, diplomacia, etc – e que a essência da ONU seria a das negociações intergovernamentais.

O vice-ministro Sergey Vershinin afirmou que o texto do “Pacto para o Futuro” foi redigido entre portas fechadas de forma unilateral, sob orientação do Ocidente, e que todos os pedidos de modificações visando o respeito às soberanias nacionais foram ignorados.

Esse traçado de linhas divisórias radicais entre a “comunidade internacional e suas colônias” e o “eixo da resistência” não surpreende, porque o “Pacto para o Futuro” parece ser o manifesto de resistência do projeto do globalismo multilateralista, contra tanto o globalismo unipolarista e o multipolarismo soberanista.

É o manifesto daqueles que querem salvar a ONU contra o esforço contra-hegemonista de desmantelar a organização e substituí-la por uma que seja mais adequada e funcional para uma nova ordem multipolar.

A lista dos países que votaram contra: Rússia, Belarus, Coreia do Norte, Irã, Nicarágua, Sudão e Síria.

A lista de abstenções: Argélia, Bolívia, China, Cuba, Iraque, Cazaquistão, Kiribati, Laos, Malásia, Maldivas, Omã, Paquistão, Arábia Saudita, Sri Lanka e Tailândia.

A lista de países que não votaram: Argentina, Azerbaijão, Bahamas, Brunei, Burkina Faso, RCA, Chade, El Salvador, Eritreia, Guiné Equatorial, Suazilândia, Haiti, Quirguistão, Mali, Níger, Papua Nova Guiné, Samoa, São Tomé e Príncipe, Sérvia, Somália, Tajiquistão, Tonga, Turcomenistão, Uzbequistão, Vanuatu, Venezuela e Vietnã.

Quanto à posição de Milei de não votar, ela é puramente teatral. A sua objeção à “Agenda 2045” se resume a narrativa, na medida em que Milei está 100% alinhado aos países que estão capitaneando a Agenda, como Israel e EUA, bem como implementou em seu país inúmeras medidas que facilitarão a imposição de pautas da mesma agenda, como a transferência do ouro argentino e a intenção de intensificar a dolarização.

Na prática, na ponta-de-lança contra a Agenda 2045 estão precisamente aqueles países que são acusados de “ditaduras” e “autocracias”; insultos que hoje simplesmente servem para indicar os países que são os motores da luta antiglobalista.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 42

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