A Prisão de Pavel Durov e a Estupidez Liberal

O fato de haver gente comemorando a perseguição a Pavel Durov é prova cabal de que a estupidez mais profunda, aquela daqueles que nem entendem os próprios interesses, é hoje ilimitada.

Folheando esta manhã as páginas sociais, minha já escassa confiança na natureza humana sofreu mais uma rachadura.

Vi páginas que aplaudiam as sanções contra Pavel Durov e Elon Musk, alegando o interesse público para “evitar a desinformação” e “limitar a anarquia na web”: “Não é possível que esses magnatas privados se sintam acima das leis!” Até aqui, estaríamos lidando com uma tese política, extraordinariamente obtusa, mas formalmente respeitável como todas as afirmações políticas.

Só que então me lembrei de que nessas mesmas páginas, justamente nas mesmas, durante a pandemia, justificava-se a censura nas redes sociais, mesmo quando era totalmente e manifestamente pretextuosa, e o faziam alegando que “afinal, as redes sociais são empresas privadas e fazem o que bem entendem; se você não gosta, pode sempre ir embora”. Isso, por exemplo, era jogado na cara de quem tinha sua página fechada por um mês por ter publicado um artigo do British Medical Journal que contrariava a narrativa oficial (qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é pura intencionalidade).

Portanto, enquanto a censura em conformidade com a narrativa oficial é uma empresa privada livre para fazer o que quiser, quando não há censura, é uma empresa privada que deve ser posta na linha em nome do interesse público.

Agora, a questão que se coloca é o eterno dilema: “Eles são assim ou fazem de propósito?” Vejo apenas duas interpretações possíveis, que poderíamos chamar, para sermos incisivos, a interpretação à Carlo Maria Cipolla e a interpretação à Sartre.

A primeira interpretação aceita a possibilidade de que essas pessoas, apesar de muitas vezes serem profissionais de destaque, jornalistas, até mesmo acadêmicos, sejam simplesmente tão desconcertantemente tolas a ponto de não perceberem a contradição em seus próprios critérios. De fato, uma profunda verdade do livro mais citado de Cipolla (aliás, um grande historiador) é que “A probabilidade de que uma certa pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica da própria pessoa.” (Segunda Lei Fundamental). E a essa verdade, para vencer minha incredulidade, junta-se a Primeira Lei: “Sempre e inevitavelmente subestimamos o número de indivíduos estúpidos em circulação.”

A segunda interpretação assume que esses sujeitos não são estúpidos, mas estão agindo de má-fé. Digamos que são pessoas tão maliciosas que até mesmo sua má-fé é marcada pela própria má-fé. Esse tipo de gente está disposta a qualquer mentira, contradição, duplo ou triplo padrão, desde que isso se adeque aos seus interesses momentâneos. Aqui, a abrangência da má-fé simplesmente aboliu as funções da verdade, vistas como enfeites inúteis. Estaríamos, portanto, lidando com o cinismo utilitarista mais descarado, onde qualquer apelo à verdade e à integridade estaria condenado desde o início pelas necessidades pragmáticas do momento.

No entanto, temo que haja uma terceira interpretação, que combina as duas anteriores. Quem nos coloca no caminho certo, mais uma vez, é Cipolla, desta vez com a Terceira Lei: “Uma pessoa estúpida é aquela que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas sem ao mesmo tempo realizar qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda.”

Devemos considerar a amarga possibilidade de que a abolição de qualquer critério de verdade, integridade e razão em nome de uma concepção utilitarista do verdadeiro (“Proclamo como verdade o que me convém”) tenha acabado por criar as condições para a mais perfeita estupidez: a estupidez de má-fé, que tendo perdido todo contato com a verdade e a realidade, não é mais capaz nem mesmo de perceber seu próprio interesse egoísta.

Este é o maior dos perigos, no qual, se não me engano, estamos mergulhados: a presença disseminada de um grande número de pessoas dispostas a mentir, distorcer e falsificar oportunisticamente, mas que já não têm sequer a capacidade de perceber o que realmente é do seu, por mais mesquinho que seja, interesse.

Eis aqui o Mal.

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Andrea Zhok

Filósofo italiano.

Artigos: 39

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