O sistema político francês uma vez mais se mobilizou para tentar desacelerar o crescimento do maior e mais popular partido francês, o nacionalista Reagrupamento Nacional.
8,7 milhões de eleitores do RN garantem apenas 88 assentos no segundo turno…
O dia 8 de julho foi um despertar para os eleitores do Rassemblement National (RN). Depois de três semanas de campanha, muitos compartilhavam a impressão de que as eleições haviam sido roubadas. Apesar de a França votar à direita, o país corre o risco de ser governado por uma coalizão de esquerda. Na noite da segunda volta das eleições legislativas antecipadas, o RN continua sendo o primeiro partido em número de eleitores (8,7 milhões de votos) e o primeiro partido da Assembleia Nacional. Com 125 deputados eleitos (considerando os obtidos no primeiro turno), o partido de Marine Le Pen situa-se à frente de Renaissance (partido macroniano que obtém 98 assentos) e de La France Insoumise (o partido de extrema esquerda que conquista 72 assentos). No entanto, após uma longa noite eleitoral, o veredito está dado: o partido de Jordan Bardella, com seus aliados, representa apenas a terceira força no Palácio Borbón, atrás da maioria presidencial e da Nova Frente Popular. O cordão sanitário de todos contra o RN, que se acreditava morto e enterrado, continua funcionando.
O RN bloqueado pela Frente Republicana ou Cordão Sanitário
Após um primeiro turno bem-sucedido para o Rassemblement National (o partido chegou em primeiro em 258 das 501 circunscrições que passaram para o segundo turno), os candidatos do partido frequentemente desfrutavam de uma clara vantagem sobre seus oponentes nessas áreas, superando a barreira de 30% ou até 40%. Mas uma semana depois, nessas áreas aparentemente favoráveis, os candidatos do RN foram derrotados em 154 circunscrições. Isso se deveu às retiradas contra o partido de Jordan Bardella e a uma forte “frente republicana” ou cordão sanitário. Os duelos entre um candidato do RN — ou aliado do RN — e um candidato da Frente Republicana resultaram, em sua maioria, a favor deste último.
Segundo uma análise da Ipsos sobre o voto na segunda volta para France Info, em caso de duelo entre La France Insoumise (LFI) e o RN, 43% dos eleitores do Ensemble (a coalizão de Macron) depositaram uma cédula para a LFI no segundo turno, apesar das evidentes diferenças de opinião. E apenas 19% optaram por apoiar o RN. No caso de um duelo entre um candidato do RN e um candidato da esquerda (excluindo a LFI), 54% dos eleitores de Ensemble apoiaram a esquerda. 29% dos Les Républicains (LR) e outros eleitores liberais de direita também preferiram o candidato de esquerda em vez do RN. Os números são ainda mais altos em caso de duelo entre Ensemble e RN no segundo turno. 72% dos eleitores da Nova Frente Popular apoiaram a coalizão de Macron, apesar das evidentes diferenças de opinião. 53% dos eleitores do LR e de diversas direitas também votaram a favor da maioria. Por fim, em caso de duelo LR contra RN, 70% dos eleitores da Nova Frente Popular votaram a favor dos republicanos. Embora a frente republicana (ou cordão sanitário) pareça ser cada vez menos seguida pelos eleitores de direita (38% deles não hesitaram em votar no RN em um duelo contra La France Insoumise), continua sendo respeitada pelos eleitores de esquerda… que são muito mais dóceis. Como resultado, na falta de um arrasto significativo de votos, os candidatos do RN perderam 105 duelos (de 128) contra o Ensemble, 90 duelos (de 152) contra o Nouveau Front Populaire e 32 duelos (de 39) contra os Republicanos.
O RN, primeiro partido em número de eleitores
Por outro lado, as disputas triangulares — aquelas circunscrições em que os candidatos da esquerda, da direita liberal ou da macronia se recusaram a se retirar para bloquear o RN — beneficiaram mais o partido de Jordan Bardella. Das onze circunscrições em que o RN se impôs no primeiro turno, dez foram vencidas por este último.
Outra consequência do bloqueio exercido pela frente republicana é que, embora o Rassemblement National seja o primeiro partido da França em número de votos, isso não basta para ser o primeiro grupo da Assembleia Nacional: o RN tem que fazer um esforço maior que seus concorrentes para aspirar a conseguir um assento eleito. Para ser eleito, um candidato apresentado por Jordan Bardella precisava obter 99.366 votos, enquanto para um membro eleito do Nouveau Front Populaire eram necessários apenas 47.979 votos. Para um membro da coalizão macroniana bastavam 42.661 votos. Após esta segunda rodada eleitoral, que deixa uma França difícil de governar, parece que as artimanhas políticas prevaleceram amplamente sobre a democracia. Supõe-se que o sistema majoritário deve produzir maiorias governáveis: neste caso, falhou. Um sistema proporcional teria dado ao RN uma ampla maioria.
Fonte: El Manifiesto