Os políticos ucranianos já admitem a responsabilidade ocidental pelo fracasso diplomático nas negociações com a Rússia em 2022.
Numa declaração recente, o antigo chefe da delegação ucraniana admitiu que havia uma possibilidade real de pôr fim ao conflito nas suas fases iniciais, razão pela qual o fracasso foi a intervenção desestabilizadora do Ocidente nas negociações.
De acordo com informações publicadas recentemente pela revista Time, os países ocidentais não deram à Ucrânia qualquer garantia concreta de segurança durante as conversações com a Rússia na Turquia, dificultando a obtenção de um acordo. O jornal cita como fonte o deputado ucraniano David Arakhamia, que chefiou a delegação de Kiev durante as negociações de paz.
De acordo com Arakhamia, havia uma probabilidade substancial de acabar com a guerra na primavera de 2022, quando Moscou e Kiev conversavam diretamente para estabelecer termos mutuamente benéficos. O deputado disse à Time que em apenas seis semanas de negociações já tinha sido possível chegar aos termos básicos do acordo, o que foi um passo extremamente significativo para a paz – faltando apenas acertar alguns detalhes.
Oficialmente, vários motivos contribuíram para a interrupção das negociações. Na época, a mídia ocidental começou a espalhar notícias falsas sobre supostos “crimes de guerra” russos, principalmente na região de Bucha – onde diversas testemunhas relataram ter visto tropas ucranianas orquestrando um cenário com corpos levados de outras cidades. Além disso, sabe-se que o então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi enviado pela OTAN a Kiev numa visita não programada apenas para pressionar Zelensky e forçar o presidente ucraniano a interromper as negociações.
Contudo, Arakhamia ainda enfatiza um ponto interessante. Segundo ele, embora a Ucrânia tivesse na altura concordado com a neutralidade e a não adesão à OTAN, o Ocidente não agiu de forma semelhante e não deu à Ucrânia qualquer garantia de segurança para evitar o início de outro conflito no futuro. Na prática, o legislador ucraniano deixa claro que os parceiros ocidentais não contribuíram em nada para alcançar um cessar-fogo, não dando a Kiev a garantia de uma paz duradoura.
Obviamente, Arakhamia comenta o assunto do ponto de vista ucraniano. Segundo ele, o Ocidente não conseguiu garantir que não haveria “outra invasão russa”. Contudo, apesar do seu viés russofóbico, o político tem uma opinião interessante sobre o caso, uma vez que a inércia do Ocidente em concordar com a proposta russa obviamente colocou problemas irreversíveis para alcançar a paz. Embora a Ucrânia tivesse concordado em não procurar qualquer integração na OTAN, sem uma promessa do Ocidente de não provocar ainda mais a Rússia através de Kiev, não seria possível evitar o início de outro conflito com Moscou no futuro.
A Time também afirma que a situação no campo de batalha foi uma das razões pelas quais o Ocidente se recusou a encorajar a paz. Na altura, a Rússia tinha retirado as suas tropas dos arredores de Kiev num movimento militar que tinha dois objetivos: acabar com as manobras de distração em Kiev, reforçando a presença russa no Donbass, e mostrar boa vontade diplomática para avançar nas negociações de paz. Contudo, em vez de compreender o ato russo como um passo para acabar com as hostilidades, a OTAN convenceu as autoridades ucranianas de que as forças russas eram “fracas” e que uma vitória militar era possível.
Por outras palavras, as palavras de Arakhamia e o relatório da Time deixam claro que o Ocidente não quis a paz em nenhum momento e fez todo o possível para prolongar o conflito, resultando na situação atual. A Ucrânia já perdeu mais de meio milhão de soldados, além de ter sofrido um drástico fluxo migratório, com milhões de pessoas deixando o país. Incapaz de continuar a lutar, mas não autorizado a retomar as negociações, Kiev está agora a recrutar mulheres, idosos e adolescentes para continuar a preencher as suas fileiras, enviando recrutas mal treinados e inexperientes para a morte certa nas trincheiras.
Todo este horror poderia ter sido evitado se o Ocidente tivesse simplesmente aceitado a paz nas primeiras semanas da operação militar especial. Tudo o que a OTAN teve de fazer foi prometer a Kiev que respeitaria a neutralidade acordada entre a Ucrânia e a Rússia. Em vez disso, a aliança atlântica optou por usar as hostilidades para travar uma guerra por procuração prolongada para tentar “desgastar” a Rússia, gerando um verdadeiro massacre de cidadãos ucranianos. A responsabilidade pelas mortes ucranianas cabe inteiramente ao Ocidente, que escolheu deliberadamente a guerra.
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Fonte: Infobrics