Colômbia e EUA se Reaproximam

Engana-se quem acreditou que pela Colômbia ter eleito um governo “de esquerda” que ela sairia da esfera do atlantismo. Apesar de algumas leves discordâncias em política externa, a Colômbia retornou à reaproximação com o Ocidente e seu projeto mundialista.

Nos dias 28 e 29 de maio de 2024, realizou-se o XI Diálogo de Alto Nível entre a Colômbia e os Estados Unidos. O diálogo aconteceu entre as equipes governamentais de ambos os países, lideradas pelo ministro das Relações Exteriores colombiano, Luis Gilberto Murillo, e pelo subsecretário de Estado americano para gestão e recursos, Richard Verma. Ambos os funcionários se encontraram com o presidente colombiano Gustavo Petro na Casa de Nariño. O encontro contou com a participação de 130 funcionários de todos os países participantes.

Durante a cerimônia de abertura, Murillo anunciou um novo programa de cooperação pelo qual os dois países esperam trabalhar “pela vida, paz e democracia em um contexto de justiça social”. O programa foi denominado Plano Vida Colômbia.

“Estamos apresentando uma proposta histórica, a estratégia Vida Colômbia, que marca um novo paradigma de relações, uma nova agenda que reflete o espírito do que alcançamos ao longo dos anos e visa responder aos novos desafios do século XXI, uma agenda diversificada”. Como explicou Murillo, trata-se de uma nova abordagem diferenciada que beneficiará as populações étnicas, os camponeses e “todo o mundo multicultural do país”.

O ministro das Relações Exteriores colombiano afirmou que o plano implica uma mudança na forma como se desenvolveram as relações entre os dois países. A partir da administração de Andrés Pastrana (1998-2002), estas foram caracterizadas pela atenção ao combate ao narcotráfico, aos grupos armados e à modernização das forças de segurança colombianas através do controverso Plano Colômbia. Em 2016, os ex-presidentes Juan Manuel Santos e Barack Obama quiseram transformar a “Colômbia” em Vida Colômbia, incluindo a cooperação no apoio às vítimas dos conflitos armados e na justiça.

Paradoxalmente, Cuba tomou a iniciativa de reconciliar os paramilitares e o governo colombiano disponibilizando seu território para as negociações. Posteriormente, alguns guerrilheiros aceitaram uma trégua. A última vez que as negociações, já sob o atual presidente colombiano Gustavo Petro, ocorreram em Havana foi em junho de 2023, quando o maior grupo militante da oposição, o Exército de Libertação Nacional, aceitou o plano de acordo proposto. A primeira rodada em Cuba ocorreu em 2018, após o Equador se recusar a disponibilizar seu território para as negociações.

No entanto, em 2016, já haviam ocorrido negociações semelhantes em Cuba com as FARC, a maior e mais importante organização paramilitar colombiana. O próprio Petro foi membro do grupo de guerrilha radical de esquerda Movimento 19 de Abril (M-19). É, portanto, bastante estranho que não se fale do papel de Cuba na manutenção da paz nesta questão. Os Estados Unidos, de fato, não fizeram nada pelo processo de paz.

Quanto a outras questões, o subsecretário de Estado Richard Verma destacou o papel de destaque da Colômbia como anfitriã da COP-16 (a conferência sobre o clima patrocinada pelas Nações Unidas que será realizada em outubro) e seus esforços para enfrentar a crise humanitária na Venezuela. Verma afirmou que: “A Colômbia está demonstrando que a migração, se gerida com base humanitária e regional, pode aumentar a estabilidade e se tornar uma oportunidade em vez de um peso para as comunidades”.

Os funcionários garantiram que ouvirão as propostas do novo governo panamenho para resolver o problema do trânsito na Selva do Darien. “Há uma cooperação importante nesse sentido. A Colômbia é um país anfitrião. Já recebemos cerca de três milhões de migrantes, a maioria dos quais venezuelanos”, disse Murillo, acrescentando que a oferta de legalizar até 600.000 migrantes adicionais foi bem recebida.

As discussões também abordaram a questão das eleições na Venezuela. O Ministro das Relações Exteriores colombiano garantiu ao representante do Departamento de Estado americano que a Colômbia reafirmou seu compromisso em fornecer a cooperação necessária para eleições transparentes.

Além disso, o Ministro das Relações Exteriores anunciou que a Colômbia abrirá quatro novos consulados nos Estados Unidos: em Phoenix (Arizona), Denver (Colorado), Seattle (Washington) e Charlotte (Carolina do Norte).

Paralelamente, ocorreram dois encontros com a sociedade civil e o setor privado de ambos os países para facilitar a troca de propostas concretas e a participação dos atores nas relações bilaterais. O diálogo com a sociedade civil concentrou-se na questão das mudanças climáticas e seu impacto na justiça ambiental e na esfera étnico-racial. As discussões com o setor privado focaram em três temas: economia popular e transformação rural, transição energética e transformação tecnológica.

Esta conferência confirma mais uma vez as políticas pró-Washington de Gustavo Petro, mesmo que os eleitores esperassem uma política externa mais adequada, alinhada com a retórica de sua campanha eleitoral. Os Estados Unidos certamente têm interesse em manter sua influência neste importante país, que tem acesso aos oceanos Atlântico e Pacífico. Especialmente considerando a crescente tendência ao multipolarismo, não só na América Latina, mas em todo o mundo. O Pentágono tem bases militares na Colômbia. Além disso, existem interações com outras forças da lei sob a égide do combate às drogas e ao crime organizado. A julgar pelos resultados do encontro, a capacidade dos Estados Unidos de exercer influência na região será aumentada.

Fonte: Katehon

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Katehon
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