O conhecimento velado, deverá ser desvelado e dizer: revelado, para a democratização da sociedade realmente ter um verdadeiro começo.
Mas esse revelar, terá de fazer-se em harmonia com a elevação da tónica evolutiva daquela determinada sociedade, que em um momento dado passe ostentar o centro civilizacional material e espiritual daquela humanidade. E desse esse foco irradiador, devagar, atingir toda ou a maior parte do mundo.
Aquele milenar elevado conhecimento não deve ser resguardado para uma elite no topo. E menos ser utilizado por essa elite para o controlo e submetimento do resto da população – seus irmãos e irmãs no caminho da descoberta. Devido a que o livre arbítrio não deve ser nunca negado.
Pois, para o bem o para o mal, as elites levam tesourando a jóia mais prezada de todas as jóias: “a chave que abre muitas das portas” em suas bibliotecas particulares (e dentro das suas mais secretas sociedades); como bem demonstra a seguinte afirmação:
“Marsilio Ficino, o estudioso renascentista que traduziu os escritos herméticos, desenvolveu uma doutrina sobre os planetas interiores segundo a qual os planetas astrológicos eram, na verdade, entidades pisco-espirituais internas e que, através da meditação, talismãs ou outras práticas mágicas simpáticas, seria possível melhorar ou harmonizar a influência desses planetas interiores de forma a produzir efeitos benéficos na vida”.
Do livro “Astrologia e Mitologia: seus arquétipos e linguagem dos símbolos”, de Ariel Guttman e Kenneth Johnson
Lembremos que Marsilio Ficino, foi o Diretor da Academia Neoplatónica, fundada em Florença por Pleto; mestre ao qual substituiu na direção o próprio Ficino. Pleto, foi trazido de Constantinopla por Cossimo de Médici. Vemos, então, que a elite sempre teve acesso ao conhecimento mais refinado e elevado, enquanto o resto da população vivia na luta pela sobrevivência.
Assim pois os avanços científicos-tecnológicos deverão ir unidos a uma inversão educativa destinada a elevar a tónica evolutiva da sociedade. Esse avanço e essa educação mais de qualidade, deverão ser o primeiro passo – impulso vital – para o acesso gradual de toda a humanidade ao verdadeiro e elevado conhecimento: aquele resguardado para uma elite espiritual e uma elite de poder, por cima da sociedade. Sendo os povos desconhecedores e pouco apreciadores das chaves que dão poder verdadeiro: aquele poder formativo que dota de maiores capacidades ao individuo e a colectividade.
Lembremos também, que esse conhecimento que fortalece a psique dos que exercem o poder e dá força aos centros civilizacionais, por eles erguidos, permite em momentos de mudança de esses mesmos centros geográficos, iniciar o levantamento duma nova civilização, enquanto a outra declina.
E foi, precisamente, o que aconteceu nesta altura com a Academia neoplatónica de Pleto, que continuou Ficino: o centro civilizacional islâmico (cujo último representante vai ser o Império Otomano) entre já em lenta mais implacável decadência (Bizâncio já tinha perdido o “cetro” em 1204 quando os venezianos e os templários tomaram de assalto Constantinopla).
Com o revezo surde o novo centro civilizacional Ocidental (em andamento) que inicia sua ascensão, por meio do “Renascimento” – Movimento cultural para o qual a Academia Neoplatónica de Pleto e outras similares foram fundamentais: raiz da qual surgiu aquela árvore.
Rotação dos centros
Quando um determinado centro civilizacional está em declínio, como hoje aparenta estar nosso centro Ocidental (na fase última do poder da anglosfera) preciso será criar um novo centro que o substitua para dar continuidade ao processo de elevação – ascensão – e recondução da marcha evolutiva (individual e coletiva) da humanidade. Processo que tem sempre seus ciclos de ascensão e queda. Ciclos que, em muitas civilizações, tendem a obedecer a uma tripla complementaridade: período pré-clássico, clássico e pós-clássico; ou período de ascensão, consolidação e declino.
Tríade que na natureza se corresponde com o nascimento, crescimento e morte. Estamos a falar da energia da criação, da manutenção e da reciclagem ou dissolução. No mundo mitológico engendrado pelos deuses indianos esta energia se corresponderia com o criador Bramha, o amoroso Deus da manutenção Vishu, e o rigoroso Deus da reciclagem Shiva.
Shiva nos ensina que o passo de um ciclo a outro, neste caso de uma civilização em declino a uma nova em ascenso, pode realizar-se por meio do amor – rigoroso; pelo rigor – amoroso; ou (na pior das hipótese) pelo rigor mais rigoroso: atrito em excesso. Nos primeiros dos casos o amoroso Vishu participa com Shiva. No último caso, o aspecto guerreiro de Shiva ocupa todo o espaço e a dissolução se converte em morte e destruição do velho – nascimento pelo impulso guerreiro, do novo impor a sua resolução aplicando a máxima força.
Perda e ré-encontro do caminho
No caso atual nossa civilização ocidental tornou-se demasiado assertiva, cientifica e analítica. Mesmo nesta fase o niilismo materialista e consumista, tomou conta duma sociedade que perdeu sua perspetiva histórica. Sua guia, a bússola que indicava a direção a seguir.
O poder das corporações privadas, tornadas monopólios e o controlo de uma elite financeira dos estados, governos e sociedades através da dívida perpetua, matou aquela “ética protestante do capitalismo” da que nos falou Max Webber – A utilidade da virtude foi subsistida pela poder do “Cartel” monopólico. O instinto de aquisição resultou superior ao intuito de compreensão de nós mesmos. Nesta fase de declino, que aparentemente estamos a viver, estas dinâmicas tornaram-se entrópicas.
O foco no mercado de valores, no status social do triunfador e na aparência do ter, por cima da ética do ser, foi desviando Ocidente da sua inicial marcha progressista. O máximo biológico do seu modelo civilizacional (com suas luzes e sombras, na decadência mais sombra) semelha ter sido atingido, na implosão do pulmão da bolsa de valores em Wall Street e Londres, em 2007-2008 – O modelo capitalista liberal, virado a capitalismo monopolista – trunfo do capital corporativo privado sobre o público, entrou nesta data em declínio.
Foi assim que chegamos a entender aquela famosa frase do grande filosofo e humanista português Agostinho da Silva: “A liberdade que há no capitalismo é a do cão preso de dia e solto à noite” – Pois aquele ideal progressista de emancipação do individual das amarras opressoras do conservadorismo coletivo, virou no reverso do “sonho americano” e o país das oportunidades, tornou-se numa versão moderna da “roda do hamster” onde a gente fica atrapalhada num correr circular de horas de trabalho a fio (as vezes com duplo emprego) para poder fazer frente às dívidas e faturas.
Olhando para o horizonte infinito da nossa sede atual, nascida daquele sonho de obter algo fora do nosso alcance, nos viciamos por ter… Aqui é onde o ter vive matando o ser.
Um novo modelo começa, por inércia na contra mão a alçar-se no Oriente, onde o novo socialismo – de mercado – chinês abre a tónica de desenvolvimento económico ao sul global, que tentar iniciar uma fase de descolonização económica no século XXI, após finalizar a fase de descolonização política no século XX, para tentar, tal atingir uma soberania mais real. Os velhos impérios decaem, novos e universalistas impérios terão de surgir, para um melhor acomodo de humanidade.
Sendo que está mudança também é cognitiva, mesmo no plano mais denso, o da própria guerra. Como o Coronel francês Jacques Baud reflete:
O problema da grande maioria dos nossos chamados peritos militares é a sua incapacidade de compreender a abordagem russa da guerra. (…) A forma como os russos entendem o conflito é holística. Por outras palavras, veem os processos que se desenvolvem e conduzem à situação num dado momento (…) A razão pela qual os russos são melhores do que o Ocidente na Ucrânia é que veem o conflito como um processo, enquanto nós o vemos como uma série de ações separadas”
Estas palavras confirmam nossa ideia na resolução material, mesmo no caso de conflitos ou guerras. Optamos pelo racionamento em base a poder material do ter:saber cientifico, tecnológico, económico, político, poder de comunicação… Com desenvolvimento cognitivo linear sequencial da causa-efeito.
O capitalismo monopólico, com o foco no ter torna-se pouco eficaz, neste novo século, onde o ser começa devagar a fixar o foco das prioridades… E, isso nos frustra, pois apensas faz uns anos o poder racional do ter e a focagem no racionalismo economicista – Deus Mercado – era imperante em todo o Orbe. Deste paradoxo (Ocidente tentando manter o poder financeiro privado do ter – Oriente mudando para o poder social estatal do ser) surgem todas as encruzilhadas, próprias de todas fase de transição.
Sendo que no mais perigoso pico da fase de transição é muito provável que estejamos, em estes momentos de grande conturbação. O mundo terá de escolher entre uma transição mais ou menos harmónica ou uma transição em atrito, com risco duma guerra global, num mundo carregado de armas atómicas.
Dentro dum marco onde o poder mercantil dos senhores das finanças semelha deixar passo, aos poucos, a o novo poder cívico. A atenção no ter – própria do capitalismo – aparenta virar, também, com certa e necessária lentidão, a atenção no ser – própria do novo socialismo. Onde a prioridade da agenda social vai tomar conta, por cima da prioridade da agenda económica – financeira – e comercial. O mesmo foco das empresas deverá mudar do indivíduo como consumidor, ao indivíduo como ente que se inicia no caminho de desenvolver seu auto-conhecimento.
Esta nova fase, por força se torna conservadora, pois deveremos fazer mais lenta a progressão da conceção da tecnologia como solução de futuro, em favor duma nova conceção da tecnologia adaptada a permitir mais tempo para o humano. Tempo para que os indivíduos e sociedade possam concentrar-se no potencial do seu ser e, descobrir-se a si mesmos, como afirmado era na entrada ao Oráculo de Delfos.
O conceito da tecnologia auxiliando na comodidade dum ser mais livre para o ócio e consumo; virá em favor do conceito de menos horas de trabalho, não excesso de ócio e, mais horas para formação académica, formação humana filosófica, mas também para a grande descoberta do ente humano como ser consciente – O foco da inconsciência consumista vira para o foco da consciência do ser. Ser como ente transcendente…
E seguindo o mesmo Oráculo de Delfos, outra das suas advertências: “Não fazer nada em excesso” – é dizer a descoberta de si mesmo passa pela máxima de seguir o “caminho do meio” do Budha, após descobrir as 4 nobres verdades do sofrimento e a necessidade de ultra-passar o mesmo.
Para, em algum momento da nossa história futura, poder chegar aquele “Amor Incondicional” que marca o Cristo, naquele: “Amai-vos os uns aos outros” – Amor somente possível trás superar (ir minorando devagar até atingir seu fim) àquele atávico e ancestral medo à morte…Aqui a ciência e a tecnologia podem ajudar ao alongar a vida das pessoas e melhorar seu estado de saúde.
Ir vencendo o medo ao desconhecido – e pelo conhecimento mais elevado, ir juntos (trabalhando interior e exteriormente) caminhando à “sonhada fraternidade humana”
Sem esquecer aquela outra frase orientadora de Agostinho da Silva que dizia assim: “Os defeitos de que te acusas são o reverso das qualidades de que te orgulhas” – Lembrando-nos que é inadiável o compreender nossa pisque, tal como já Jiddu Krisnhamurti insistiu em ensinar durante toda sua vida.
Esse centrar-se no ser não pode ser realizado coletivamente dentro “capitalismo monopolico” – que somente permite essa abordagem àqueles “privilegiados” que contam com os recursos precisos para sair do sistema. Esses privilegiados a sua vez, para poder viver no seu “realizar-se no ser” precisam neste sistema monopolico, das corporações privadas, que outros vivam atados ao trabalho – salário mínimo para trocar por consumo e gerar os recursos que, a uma minoria, lhe permitem sair da “roda do hámster”.
Preciso será então criar um novo poder estatal – social, um estado redistributivo – protetor e eficiente, dentro dum novo centro de poder, para criar essa nova experiência: permitir a sociedade no seu total, e ao total (em início a maior parte) dos indivíduos, no seu particular, abrir-se ao conhecimento.
E, desta forma, talvez chegaremos a compreender as palavras de Baruch Espinoza, quando afirmava: “O homem livre, no que pensa menos é na morte, e a sua sabedoria é uma meditação, não da morte, mas da vida” combinadas com aquelas outras palavras atribuídas a Leão Tolstói: “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência” – E lamentavelmente, este sistema atual virado a aparência do ter, não pode já ajudar-nos a encontrar a verdade do Ser.
A “Estátua da Liberdade” foi regalada pelo povo francês ao norte-americano, em 1876 (centenário da independência dos EUA) – Esta estátua teve acessa sua tocha para indicar aos seres humanos um caminho fora da escravidão física, mas já não tem força para iniciar a libertação da escravidão psíquica Um novo referente terá de surgir, para marcar os novos tempos – do estado social participativo e, do novo multipolar universalismo. Essa nova civilização, semelha, está a ser criada no Oriente.
Novos modelos
A Eurásia mais tradicionalista – aparenta tentar estar a procura dum modelo alternativo ao capitalismo ocidental, e como já falamos a base económica simula desenvolver-se tomando como referencia o modelo chinês.
O sul global começa entender que para libertar-se do jugo das finanças e do controlo do poder ocidental da anglosfera, por meio das dívidas perpétuas, preciso será manter um estado forte e uma coesão social; evitando, na medida do possível, a polarização das suas sociedades.
O estado social mesmo tradicionalista leva a um modelo socialista e a necessidade de evitar a polarização, leva a uma unidade do sector conservador e o mais progressista por meio duma decida agenda de unidade de valores no âmbito nacional.
As contradições internas de cada nação ou estado deverão ser resolutas entre as dinâmicas de dependência exterior (impostas pelo poder de penetração do capital financeiro e corporativo) e as tendências soberanistas (impostas pelas dinâmicas de criação dum capital nacional, um poder financeiro estatal, uma forte industria nacional em aliança com o poder industrial privado ao serviço do estado e um desenvolvimento cientifico-tecnológico nacional em aliança com os sectores académicos, universitários e culturais da nação ou federação …) e contrabalançados, ambos vetores, por uma unidade política, que deveria abranger os três poderes: legislativo, executivo e judicial.
Em este último aspecto o modelo a seguir, pelo Sul Global, semelha ser a Federação Russa (independentemente dos juízos de valor sobre seus dirigentes, e da avaliação das suas ações no marco do difícil equilíbrio geopolítico).
A Rússia a seu modo (que pode não ser muito entendido, compreendido ou valorado pela visão Ocidental) está a tentar procurar seu modelo civilizacional de Império Universal. Os impérios universais sempre foram integradores e ré-integradores, nunca isolacionistas. Desde os velhos impérios de Sargão, Assurbanípal, Dario O Grande, Alexandre Magno ate mesmo Hen His Kan ou Tamerlão – o Oriente tentou respeitar as diversas nações, religiões e mesmo poderes administrativos, por meio dum centro unificador coeso, que tenta manter unidas as diversidades, dotando de certa autonomia os poderes regionais, mantendo as tendências centrifugas curvadas às dinâmicas centrípetas de força, equilibro, crescimento e paz social que oferta a unidade.
No Ocidente a partir do Império Carlíngeo e o sacro Império, o Império universal foi visionado de modo aristotélico, mas unido em uma só religião católica – que se tornou uma religião sincrética. Esse sincretismo tentou integrar dentro do catolicismo cristão, as distintas orientações religiosas, que ia recolhendo ao seu encontro – (Sendo em este caso o Império Habsburgos espanhol o paradigma do século XVII e XVIII). Esta variante tomou conta também dos primeiros reinos protestantes, como o da Inglaterra. Mas depois com o trunfo da independência dos Estados Unidos, a tolerância religiosa tomou conta, do posterior poder Imperial Norte-americano. Mas este se tornou um império comercial – financeiro – talasocrático (e dizer marítimo), baseado no excepcionalismo norte-americano (é dizer no destino de comandar o mundo, desde o centro nos EUA) – Hoje com o nascimento da nova visão da multiporalidade, em declínio.
A Rússia nesta tentativa se define a sim mesma como uma Federação multinacional, multi-étnica e multi-confessional.
Na Rússia o velho poder “atlanticista” que dominou a política estatal desde a era Iéltsin, começou a perder peso em favor da visão euro-asianista e pós-soviética. Mesmo Karaganov que fora já conselheiro com o presidente Boris Iéltsin, e mantém esse posto com o presidente Vladimir Putin, virou sua doutrina em favor de concretizar um centro russo euroasiático, falando mesmo de trasladar a capital da federação a uma nova localidade mais perto dos montes Urais (tal vez já do lado asiático). Sendo os Urais a cordilheira que faz de limite entre Europa e Ásia (tal vez a mesma futura capital seja Ekaterinburgo?)
Síntese
O movimento em direção ao Oriente (tal vez para Orientar de novo o impulso progressista e conservar os avanços já obtidos) inicia-se num divisor de águas, onde de não aceitar o velho foco Ocidental sua inevitável decadência, pode não existirr possibilidade de encontrar o ponto preciso de convergência.
Em essa altura, pelo momento, Ocidente procura destruir o “recém nascido” novo centro, para evitar ele possa chegar a adolescência, mocidade e maturidade – De não poder efetuar essa manobra, tentará adiar suas etapas – desvitalizando-o.
Pela contra o Oriente, avançando devagar como planificado por Xi Jinping e Vladimir Putin, e expressado pelo ministro dos negócios estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, na sua frase lapidar: “Acompanhar o doente ate seu túmulo” – tenta ir encolhendo a rede ocidental global – sobre a anglosfera mesma. Ambos contendentes evitando, pelo momento, um confronto direto.
O problema com este tipo de iniciativas, sempre resulta, no tipo de fricção. Se como, ate o de agora, vai ser de combate híbrido, em todas as frentes do planeta – com vários pontos no tabuleiro em procura de acomodo entre os dous hipotéticos blocos, nomeados, para simplificar, de “Globalistas” e “Soberanistas” – poderão certos eventos ser controlados, se a mesa (sempre aberta nas sombras) da negociação não resultar, de contínuo, num dialogo de surdos – no intuito de ganhar apenas tempo.
Vários são os confrontos em andamento.
Guerra por procuração na Ucrânia, onde o bloco Ocidental tenta derrubar a Rússia e controlar Ásia encurralando China (o inimigo vital), enquanto o bloco Eurasiático tenta chegar a um “espaço de segurança” na Europa, que retire a OTAN para aquelas fronteiras previas ao colapso da União Soviética – Deixando de exercer, assim, uma pressão asfixiante sobre a Rússia. Ficando a Rússia mais livre para concentrar-se em outras frentes.
Confronto na América do Sul. Com o acesso de Javier Milei à presidência da República Argentina, se observa pela anglosfera uma tentativa de derrubar o projeto soberano de Brasil. Ao tempo que se mobiliza dentro do mesmo Brasil o sector evangélico sionista para tentar encurralar o atual governo brasileiro.
Importante destacar que o projeto brasileiro vai muito além da emancipação da América de Sul – Lembrar: 44 sedes diplomáticas ativas do gigante sul-americano na África.
Aqui o bloco BRIC apoia a Brasília, na sua tentativa de tornar-se um ator, já não regional, se não global: a Rússia apoiando a iniciativa do país carioca ter um assento permanente, com direito a veto, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o qual impediria as tentativas Ocidentais de fazer-se com a Amazónia.
Guerra na Palestina, envolvendo um muito diverso e difícil acomodo regional, em um local onde Arábia Saudita,, Turquia e Irão tem pontos de fricção e achega, enquanto Israel encontra mais dificuldades de sobrevivência, que no passado. Lembrar, aqui, que mesmo Israel ganhando todos os embates de perder a correlação de forças favorável, ficaria numa situação de grande vulnerabilidade.
Israel, ponto vital para controlo Ocidental da região, tem a pior equação do últimos anos, como já falamos: onde os logros da administração Trump com os “Acordos de Abraão” aprofundados pela administração Biden com o corredor estratégico Europa – Península Arábica – Índia, foram quebrados pelo ataque de Hamas a 7 de outubro de 2023 – mudando a já mencionada correlação de forças.
Frente adormecido entre Taiwan e China – Taiwan como porta-aviões que pode mesmo fechar a navegação de Beijing no mesmo mar da China – As duas Coreias manobrando em favor de seus respetivos interesses e respetivas alianças.
A guerra na Ucrânia pode explodir em guerra na Europa. Nesta terrível hipótese, mesmo sendo o resultado final favorável a Rússia; o desgaste (de este confronto não provocar uma guerra nuclear) tanto da Europa como da Rússia – com grande destruição em ambos bandos – favoreceria ao poder da anglosfera, pois prejudica além dos atores diretamente implicados (Europa e Rússia ambos concorrentes económicos dos EUA e Britânicos) também as bastas inversões da China e a custosa e densa rede de inter-ligação e comunicação entre Ásia e Europa (construida pela mesma China)
China vendo este cenário desenvolve um forte planeamento económico e de mercado, virado para o interior ao tempo que tenta influência exterior. Assim realiza a sua aberta a um comercio tecedor de alianças, segundo aquela máxima, que marca seus ritmos, de Deng Xiaoping resumida na sua famosa frase: “Atravessar o rio sentindo as pedras”.
Cenários Moveis
A guerra contra Hamas, torna muito complicados os futuros cenários para Washington. A “Rede da resistência” que agora é global – se torna fortalecida, aqui, no Ocidente da Ásia (Oriente Meio) – desde a derrota total da doutrina “Rumsfeld – Cendrowski”, após a saída dos norte-americanos do Afeganistão e precisaria um estudo à parte para explicar todas suas ramificações.
No entanto é visível já uma posição global pró palestiniana e uma pró israelense, muito mais polarizada que antes da intervenção em Gaza.
Sendo que a Rússia, um antigo “bom vizinho” de Tel Aviv – ruma já para uma aliança mais solida com Irão (muito concretizada na guerra da Ucrânia) – e o mesmo Brasil, de boca do seu presidente Luis Ignacio “Lula” da Silva, toma partido pelo “eixo total” da resistência.
Lula conhece de primeira mão a aliança sionista – evangelista na América latina – estar trabalhando em contra do seu projeto de soberania da região Sul Americana – em aliança com a construção da soberania do Sul da África – O presidente brasileiro fez seu pronunciamento em contra do governo Netanyahu na Etiópia, e este conflito diplomático – se une as ações do governo da África do Sul, que com anterioridade vinha de denunciar Israel na Corte Internacional de Justiça, na Haia.
Se tece a rede de compromissos e alianças, com Índia, Arábia Saudita, Egito tentando manter uma certa neutralidade. Mas como bem falava o já mencionado Max Weber: “neutro é quem já se decidiu pelo mais forte” – estes supostos atores regionais neutros, simplesmente, estão a aguardar por aquele dos dous blocos que conquiste a melhor posição final. Pois os veteranos já aprenderam que a posição de saída, não define o fim da carreira, ainda que ajude nas primeiras etapas.
No entanto, como afirmava Robert Bly (o escritor do famoso: “João Ferro: um livro sobre homens”) o poder norte-americano, na última metade do século XX, ativou o arquétipo do Marte mais guerreiro, sem o contrapeso do arquétipo solar dum Apolo clarividente.
Para nós este desenvolvimento do poder norte-americano guerreiro após Bretton Woods, mergulhou finalmente, com a queda do contrapasso soviético (em dezembro de 1991), numa espécie de guerra permanente em pós da expansão do seu modelo “liberal-democrático” por todo o mundo. Tentando atingir a imposição unilateral do chamado globalismo, que hoje,,com o inicio da construção do novo contrapeso multilateral, reage agora a contra. Criando um panorama mundial de instabilidade e fricção quase que permanente.
Tudo isto, se formos o suficientemente sensatos, de não escalar a um confronto mais geral, com o perigo das armas nucleares deixarem de ser dissuasoras. Vamos então observar se o fim do modelo capitalista, traz consigo o fim do monopólio corporativo privado e a ascensão dum novo modelo socialista e conservador de estado. Paradoxos que quebram velhas dicotomias direita – esquerda, liberal – progressista