O “Novo Paradigma Europeu” de Macron é a Mesma Velha Retórica Tecnocrática

Recentemente, o presidente francês Emmanuel Macron tem se pronunciado de maneira a se projetar como liderança continental europeia. Mas será que ele está realmente propondo algo de diferente?

Em uma tentativa de rejuvenescer sua campanha e tirar seus apoiadores do marasmo, Emmanuel Macron fez um discurso programático sobre a Europa na Sorbonne na quinta-feira, 25 de abril. Ele pretendia incorporar uma visão e uma ambição, mas o exercício foi recebido com entusiasmo moderado na França e no exterior.

A escolha do local foi uma referência a outro discurso sobre a Europa, realizado no mesmo local há sete anos, quando Macron tinha acabado de ser eleito presidente da República pela primeira vez. Mas o tom era completamente diferente. Naquela ocasião, ele estava entusiasmado e esperançoso. Desta vez, ele preferiu tocar uma música dramática, falando de uma Europa “mortal”. Segundo ele, a Europa – confrontada com decisões cruciais – está ameaçada de extinção por falta de escolhas ambiciosas.

O refrão é familiar: A Europa precisa fazer “escolhas fundamentais com urgência diante da guerra, do crescimento da inteligência artificial, do ataque aos nossos valores e do aquecimento global”. Não espere, é claro, nenhum tipo de revelação em termos de perda de identidade, crise demográfica ou declínio econômico.

Os inimigos foram claramente identificados: “poderes desinibidos” – em outras palavras, a China – mas também o “desinteresse americano”. A “Bidenomania” de Macron, que ainda estava viva e bem há alguns meses, há muito tempo diminuiu.

Diante dessa situação de aparência apocalíptica, Macron naturalmente tinha uma série de soluções a propor e usou sua habitual retórica tecnocrática desencarnada para apresentá-las. O presidente francês pediu “um novo paradigma europeu” baseado em “poder, prosperidade e humanismo”.

Ele fez algumas propostas concretas, por exemplo, na área de defesa, apresentando um projeto “confiável” para defender o continente europeu, “além da OTAN” – um papel que a Europa assumiria “sozinha, se necessário”. Não é certo que essa declaração voluntarista de independência seja do agrado de todos os estados-membros. Tudo isso seria baseado em uma “academia militar europeia”, programas de “segurança e defesa cibernética” e programas industriais europeus financiados por “empréstimos conjuntos”.

Macron também se posicionou sobre a questão divisória e há muito esperada da imigração e do controle de fronteiras, conclamando a Europa a “recuperar o controle total e completo de suas fronteiras e assumir a responsabilidade por elas”. Para isso, ele propôs a criação de uma “estrutura política” para lidar com a migração, a segurança, a luta contra o crime organizado e o terrorismo, sem especificar seu escopo ou modo de operação.

Falando em um coquetel linguístico de personalidades que frequentemente lutam para dar sentido à sua ação política, Macron fez uma enumeração enfática após a outra. Um exemplo importante foi quando ele comentou sobre o que, para ele, deveria ser a futura política orçamentária da Europa: “um choque de investimento conjunto, um grande plano de investimento orçamentário”, misturando defesa, inteligência artificial e descarbonização para uma boa medida ecológica.

Na Alemanha, as declarações de Macron foram recebidas com certo ceticismo – longe do entusiasmo despertado por seu discurso há sete anos. Olaf Scholz, o chanceler alemão, saudou o discurso de seu colega francês com uma postagem deliberadamente vaga no X: “Tanto a França quanto a Alemanha querem que a Europa permaneça forte. O discurso de Emmanuel Macron contém bons impulsos. Juntos, faremos a Europa avançar, política e economicamente. Por uma Europa soberana e inovadora. Vive l’Europe!” (essas palavras em francês). A imprensa alemã permaneceu circunspecta – há alguns dias, o Die Zeit estava perguntando se Macron era um presidente “caótico ou estratégico”. Fazer a pergunta, nesse caso, é respondê-la.

Sempre se trata de seguir em frente, mas o destino é mais vago e sem alma do que nunca. O discurso de Macron ocorreu ao mesmo tempo em que a abertura do evento CPAC em Budapeste, que deu ao primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán a oportunidade de apresentar uma visão diferente da Europa, na qual a Hungria figuraria como uma ilha feliz de conservadorismo. Macron preferiu encerrar seu discurso com uma crítica aos partidários de Orban, a quem ele compara aos partidários do Rassemblement National (RN). Ele os acusou de querer permanecer no “edifício” europeu sem “pagar o aluguel” ou respeitar as “regras de copropriedade” – um sinal resoluto de hostilidade à linha, agora defendida tanto por Jordan Bardella quanto por Marion Maréchal, de que é possível mudar a Europa por dentro sem bater a porta.

Concluindo, o discurso de Emmanuel Macron foi longo, abstrato e terrivelmente tecnocrático, como é de seu costume, provando, se é que é preciso provar, que a Europa que ele defende há muito tempo perdeu o contato com as pessoas – pessoas que ele mencionou apenas duas vezes durante sua logorreia de quase duas horas.

Macron certamente apresentou sua visão da Europa, mas, acima de tudo, fez campanha para seu partido, o Renaissance, que está lutando e ficando para trás nas pesquisas, quase dez pontos atrás da lista liderada por Jordan Bardella para o RN. “A Europa está ameaçada de morte. A Europa somos nós. Se você quiser salvá-la, você sabe o que precisa fazer em 9 de junho. A política às vezes é simples”, segundo os editorialistas da revista centrista L’Express, com ironia. Um pouco simples demais.

Fonte: European Conservative

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Hélène de Lauzun
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