Apesar da origem polarizada entre direita e esquerda, a crítica que Marx apresenta ao capitalismo demonstra ter um valor intelectual multifacetado que transcende esse espectro, tendo leituras de pensadores da direita contemporânea com concordâncias que a aprofundam ainda mais.
Existe um paradoxo peculiar em Karl Marx, o apóstolo do comunismo. A crítica de Marx ao capitalismo, embora muitas vezes desaprovada pela direita como uma promoção da visão de mundo coletivista, oferece percepções essenciais que ressonam com alguns pensadores de direita. A interação entre Marx e a direita contemporânea, defendida por pensadores como Alain de Benoist e Diego Fusaro, providenciam um solo fértil para refletir sobre a natureza e propósito da existência humana em uma era caracterizada pelo materialismo desenfreado e desencanto.
Do ponto de vista do intelectual francês de Benoist, a Nova Direita europeia vê Marx não como um radical perigoso, mas como um indivíduo que diagnostica os males da modernidade. O desdém de Marx pelas facetas alienadoras e desumanizadoras do capitalismo é paralelo à crítica de Benoist ao individualismo liberal. Para ambos, o mercado, desenfreado e amoral, opera como uma máquina, sacrificando o espírito humano no altar do lucro.
Essa crítica compartilhada é onde a Nova Direita e Marx se cruzam. Enquanto o materialismo dialético de Marx prevê uma utopia sem classes emergindo das cinzas do colapso capitalista, de Benoist não adere a essa progressão histórica linear. Em vez disso, ele propõe um retorno às sociedades orgânicas, de indivíduos enquanto significado e pertencimento, e não à abstração da luta de classes, mas no seu enraizamento na cultura, na história e na tradição.
O filósofo marxista italiano Diego Fusaro proporciona uma ponte única entre Marx e o pensamento direitista. Abraçando a análise de Marx sobre o capitalismo, Fusaro, porém, se afasta da dimensão internacionalista do comunismo. Ele sublinha a importância da identidade nacional, soberania e o Estado como veículo para resistir às forças homogeneizadoras do capitalismo global. Aqui, Fusaro canaliza Marx para defender uma forma de comunismo nacional, uma visão enraizada na preservação da identidade cultural e nacional diante das forças do mercado global.
No entanto, apesar de todas as críticas partilhadas, a divergência entre Marx e a direita contemporânea ainda é nítida. A ênfase da Nova Direita na primazia da identidade cultural e civilizacional contrasta com a análise de classe de Marx. Enquanto Marx prevê um mundo unificado pela abolição das classes, de Benoist prevê um mosaico de civilizações distintas, cada uma guardando a sua singularidade contra as tendências niveladoras da modernidade.
A convergência e a divergência elucidam a rica linha de pensamento intelectual que existe além dos estreitos limites da esquerda e da direita. Alain de Benoist e Diego Fusaro, ao revisitarem Marx a partir da direita, nos desafiam a apreciar a multidimensionalidade do pensamento de Marx. Eles nos convidam a evitar interpretações reducionistas e a reconhecer em Marx um pensador que se debate com os profundos descontentamentos da modernidade, descontentamentos que continuam a nos assombrar.
Em conclusão, dialogar com Marx a partir da direita é reconhecer a natureza multifacetada da crítica. É uma prova da relevância duradoura das ideias de Marx, que podem ser reinterpretadas e reaproveitadas em todo espectro ideológico, sublinhando a necessidade de diálogo e síntese em nossa era de discurso polarizado.
Keith Preston