A nossa história é a melhor fiadora da esperança que deveis depositar no futuro.
O discurso que se segue é um brilhante e inspirador convite do Imortal Presidente Getúlio à fortificação da esperança no futuro radiante da Nação Brasileira. Em tempos de crise de identidade e de valores e de ataques à nossa Identidade Nacional, rememorar os feitos de nossos ancestrais é o antídoto para a doença do conformismo burguês. A pátria deve ser amada mesmo em seus períodos de maior desalento: como disse Chesterton, Roma não era amada por ser grande ─ ela foi grande porque, primeiro, foi amada.
Viva o Brasil, a Nova Roma.
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A união sagrada dos brasileiros
(DISCURSO PRONUNCIADO NA ESPLANADA DO CASTELO, POR OCASIÃO DA CERIMÔNIA DO JURAMENTO À BANDEIRA, A 7 DE SETEMBRO DE 1934)
Brasileiros! A todos vós que me ouvís, neste momento, em todos os quadrantes do Brasil: seringueiros das florestas amazônicas, jangadeiros do Norte, praieiros do nosso litoral, mineradores do maciço central, usineiros pernambucanos e fluminenses, fazendeiros de São Paulo, pastores das coxilhas do Sul, industriais e operários, sertanejos e citadinos, soldados e marinheiros, estudantes e professores, sacerdotes da religião da Pátria, a todos vós, homens do trabalho e homens do pensamento, que, nos campos e nas densas aglomerações urbanas, curvados sobre a terra, sobre os livros, sobre os teares das fábricas ou sobre as retortas dos laboratórios, estimulais a riqueza moral, espiritual e material do nosso país, a todos vós, construtores da nacionalidade, a minha saudação cordial! Neste dia consagrado à Pátria, quero afirmar-vos com a mais ardente convicção: Tende fé no Brasil! A nossa história é a melhor fiadora da esperança que deveis depositar no futuro. Quem, atentamente, despojando-se de preconceitos e paixões, considerar o patrimônio que herdámos do passado e não tiver confiança nos nossos destinos, é indigno do legado que recebeu! A formação do Brasil vale pelo mais luminoso testemunho das virtudes da raça que se levanta, neste rincão do planeta, em benefício da comunhão universal. Somos o resultado de quatro séculos de energia perseverante que, através de lutas e sobressaltos, vencendo os óbices da natureza agreste e os entraves das ambições humanas, vigiando, no litoral e nas fronteiras, as agressões estranhas, preservando, no interior, a obra e o esforço das gerações passadas, conseguiu conquistar e defender um dos mais dilatados impérios do mundo! Desde o século XVII, depois das batalhas dos Guararapes, ganhas mercê da tenacidade e da coragem do heroísmo brasileiro, o sentimento nacional cristalizou-se entre nós, de modo seguro, desenvolvendo-se com firmeza, abatendo todas as resistências. A força de absorção do meio físico predominou, misteriosamente, sobre quaisquer idiossincrasias étnicas. A conquista do território, feita pelos rudes exploradores do rio das Velhas, do Tietê, do Paranapanema, do Amazonas, da serra da Mantiqueira, da serra do Mar, a travessia do planalto central, o descobrimento das minas, o ímpeto dos bandeirantes, que atingiram as praias do Pacífico, em arriadas destemerosas, foram empreendimentos da gente nascida neste lado do Atlântico. A miragem do metal precioso e das pedrarias não esgotou, nos corações sertanejos, o amor da Pátria que amanhecia. Raros foram aqueles que acumularam pecúnia. As pepitas e as piscas das minerações atestaram as arcas ultramarinas. E, enquanto, à luz do sol, um rio de ouro escorria para a Metrópole, num total de mais de 10.000.000:000$, só no século XVIII, outro rio ia fluindo, silenciosa e obscuramente, nas entranhas da Nação: o manancial em que se abeberou o ideal da Independência. Esse ideal palpita em quasi todas as páginas das nossas efemérides, onde estão gravados os nomes de Henrique Dias, Camarão, Borba Gato, Pais Leme, Bartolomeu Bueno, Tiradentes, Cláudio Manuel da Costa, Domingos Teotónio Jorge, José de Barros Lima, Domingos José Martins, Pinto Bandeira, Borges do Couto, Joaquim Gonçalves Ledo, Hipólito da Costa, José Bonifácio e tantos e tantos outros que, para varrerem do solo natal os seus ocupantes, sacrificaram haveres, honrarias e a própria vida, pondo no selo do sangue o brazão da liberdade!
Brasileiros! Debruçai-vos sobre o mapa da nossa Pátria! Observai o imenso domínio de que se apoderaram os nossos maiores, desprezando vicissitudes, retemperando o caráter, a cada hora, nas lides contra os acidentes naturais, recuando as raias da superfície geográ-fica até aos pendores da cordilheira dos Andes, galgando montanhas, transpondo caudais, varando saltos e cachoeiras, rompendo estradas em regiões inhóspitas, drenando pântanos e alagadiços e assentando os alicerces de uma Nação de cerca de nove milhões de quilômetros quadrados! Essa epopéia, entretanto, é sobrepujada por outra ainda mais impressionante e que deve encher de justo orgulho a todos vós. A manutenção da unidade brasileira constitui fenômeno sem paralelo na história dos povos modernos. O centrifugismo foi a lei que imperou em nosso Continente. Enquanto, ao longo das nossas lindes, os vice-reinados espanhóis se desagregavam, decompondo-se em dezenas de Estados; enquanto, na Europa e na Ásia, poderosos impérios se desarticulavam, mantínhamos com inquebrantável fidelidade o ritmo da nossa união sagrada. Nada nos separou, nada teve o dom de afrouxar os elos que nos soldam numa cadeia indivisível. A unidade brasileira é um dogma inviolável e um exemplo que nos servirá sempre de bússola no rumo do porvir. Brasileiros! Tende fé no Brasil! Afastai do vosso espírito quaisquer prejuízos de casta, quaisquer temores de ameaças perturbadoras do desenvolvimento nacional. Em pouco mais de um século de independência, estão aí, para confirmar a nossa capacidade creadora, dezenas de cidades, algumas das quais já se inscrevem entre as mais importantes do mundo, centenas de fábricas de todos os artefatos, formidáveis florestas plantadas pelo homem, numerosos portos, onde milhares de navios despejam e carregam os produtos do trabalho universal, estradas de ferro e rodovias que se multiplicam por milhares de quilômetros de extensão, universidades superiores, escolas técnicas e fundamentais, centros de preparação militar e naval, de onde saem, anualmente, legiões de operários da grandeza do país.
Uni-vos cada vez mais. Da vossa colaboração infatigável surgirá um Estado forte, coeso, capaz de promover a ventura e a fortuna da coletividade. Acima dos ódios e das rivalidades, acima dos partidos e das competições, paira a imagem da Pátria.
Brasileiros! O Brasil confia em vós!