Uma introdução à Quarta Teoria Política

Breve introdução, escrita em 2019, aos princípios fundamentais da quarta teoria política de Alexander Dugin, por Catarina Leiroz.

A Quarta Teoria Política é uma ideologia? Há nela alguma espécie de dogma universal? O que é, afinal, a Quarta Teoria Política?

A Quarta Teoria Política não é uma  ideologia, mas uma ferramenta para a construção de “ideologias” – várias delas.

A QTP é uma Metateoria. É Teoria e ao mesmo tempo Práxis.

É Metateoria porque, além de se tratar de um conjunto teórico, faz também análises das teorias e ideologias modernas. E é Práxis porque… é Teoria.

A práxis da QTP difere de qualquer outra. Ela não é simplesmente a aplicação da QTP à realidade, como geralmente acontece, mas faz um movimento em direção à união dialética.

A práxis das teorias políticas anteriores [da modernidade] são bem delimitadas (e “teoria e prática” bem divididas).

A Teoria Liberal, por exemplo, tem a economia/o mercado e uma cultura/antropologia universais e monotônicos como sua práxis. O marxismo tem a revolução do proletariado – a luta de classes.

A práxis, na QTP, não se dá assim, pois a QTP faz um movimento de superação do sistema divíduo (do dualismo entre sujeito e objeto). A Práxis está “sob” teoria e prática – é sua raiz comum, de onde ambas surgiram.

É a raiz comum entre princípio e manifestação, mito e ritual, pensamento e ação. É a raiz “existente” antes da divisão desses conceitos (ela é pré-conceito).

Essa raiz comum não tem nome e ela jamais foi ou poderia ser conceituada, pois é pré-ontológica, ôntica, onde esse tipo de dualidade simplesmente não existe. Onde pensamento é ação, e ação, pensamento.

A QTP toma, portanto, a prática como teoria, e a teoria como prática.

Sua manifestação é um princípio a ser revelado, e seu princípio, sua própria manifestação. Ela toma mentalidade como atividade, ideia como realização.

A Quarta Teoria Política é, portanto e ao mesmo tempo, a Quarta Práxis Política. É, ainda, e ao mesmo tempo, como consta no livro A Quarta Teoria Política: ciência política, metafísica política (Angelopolis), teologia política (escatologia política), filosofia política e tecnologia política.

E isso é fundamental entender.

O sujeito histórico (isto é, o motor da história) da Quarta Teoria Política também é pré-dualístico, e ele é a chave para a compreensão da teoria porque o que caracteriza cada teoria política é justamente o seu sujeito histórico. É a partir da análise do “sujeito” que podemos analisar se uma ideologia é de primeira, segunda, terceira ou quarta teoria. De forma objetiva.

O sujeito da Primeira Teoria Política (isto é, o liberalismo) é o Indivíduo (que não é o mesmo que Pessoa);

O sujeito da Segunda Teoria (isto é, o comunismo/marxismo) é a classe;

E o sujeito da Terceira (os fascismos ou os nacionalismos) é o Estado-Nação (do nacional-socialismo alemão, especificamente, é a raça).

O sujeito da Quarta Teoria Política, por sua vez, não está totalmente “fechado”, mas os conceitos que foram propostos estão entrelaçados, e dão uma dimensão verdadeiramente histórica e orgânica ao sujeito.

Os principais sujeitos propostos por Dugin, e que se relacionam, são o conceito heideggeriano de Dasein (o homem como “ser-aí”, no mundo, no tempo, com os outros), trabalhado especialmente “na forma” de Mitsein (o Dasein nunca é sozinho. Nunca foi e nunca será. Ele é sempre “ser-com”), e o Narod, palavra russa que significa Povo (Povo, aqui, é diferente de população).

Ou seja, as “ideologias” que serão construídas à luz da Quarta Teoria Política terão o Povo como norte, como motor histórico, como sujeito de sua práxis, com suas tradições, religiões e culturas resgatadas, preservadas e enaltecidas.

Portanto, o Povo – e não a classe, não o indivíduo, não o Estado-Nação ou a raça. O Povo, que está acima disso tudo, no mundo. O Povo, o homem com os outros e com o mundo, inserido em uma cultura, tradição, identidade, religião – ethos.

Importante frisar que o Povo não se restringe ao Estado-Nação (que surge apenas na modernidade). O desapego ao Estado-Nação é importante aqui, porque não serão os muros e as demarcações territoriais que nos dirão por si o que é um Povo. Há a possibilidade de existir inúmeros povos dentro de um limite territorial. Isso é precisamente o que define a grandeza dos impérios.

Por isso trabalhamos com o conceito de Império; o conceito de “Grandes Espaços” (Carl Schmitt); o conceito de Estado-Civilização; e com as grandes contribuições de Alexander Dugin em sua teoria dos polos (Teoria do Mundo Multipolar).

Então veja que interessante: a QTP é Dasein/Narod, e Dasein/Narod é QTP. E como não há um só povo no mundo todo, todos os povos que caminharem dentro de suas próprias tradições, de seu umwelt (mundo próprio), redescobrindo o Dasein de seu próprio Narod – são exatamente estes povos que estarão trilhando o caminho da QTP.

A QTP não é, portanto, um dogma “russo” a ser implantado universalmente. A QTP é uma ferramenta para a construção de um mundo Multipolar. E ela está sempre em construção, não apenas por Dugin, como também por nós.

Ela recebe contribuições da Nova Resistência, de Alain de Benoist, de Diego Fusaro, de Alberto Buela, de Leonid Savin e de quem mais quiser contribuir.

Todos, obviamente, em constante contato e correspondência.

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Catarina Leiroz

Cristã Ortodoxa, graduanda em Pedagogia e vice-diretora da NR-RJ.

Artigos: 597

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