Alexander Dugin: Defensor da Submissão do Brasil aos EUA ou da Construção de um Polo Ibero-Americano em uma Ordem Multipolar?

Recentemente ex-duginistas construíram uma fantasia oportunista na qual Dugin defenderia a dominação da América do Sul pelos EUA. Será verdade?

Uma narrativa defendida por globalistas infiltrados no nacionalismo brasileiro, e recentemente veiculada pelo influenciador virtual Gustavo Castañon, do PDT, é que o Dugin defendia, no passado, a submissão da América Latina aos EUA. Trata-se de uma afirmação ridícula, categoricamente infundada, e que se apoia no desconhecimento do público alvo no que concerne o pensamento de Dugin.

Usa-se, para isso, um mapa de 4 zonas planetárias presente em alguns textos do Dugin (uma zona pan-americana, uma zona eurafricana, uma zona pan-eurasiática e uma zona pacífico-extremo-asiática), para dar a entender que este é o modelo de multipolaridade defendido por Dugin.

O problema para os infiltrados é que o mapa das quatro zonas é um mapa de relações e interações preferenciais, não um modelo de multipolaridade.

Nas poucas vezes em que Dugin fala em “quatro polos” é com a finalidade de oferecer um modelo exemplificativo mínimo de uma multipolaridade concreta (já que o Dugin não considera a tripolaridade como sendo multipolaridade):

“O pluralismo está no centro da abordagem multipolar e exclui qualquer forma de dogmatismo. Não faz sentido discutir os detalhes de uma ordem multipolar, o ritmo de sua construção, a localização das fronteiras entre civilizações, as nuances da formulação jurídica do novo sistema […] Até mesmo a questão do número de atores no mundo multipolar ainda está em aberto.

Uma variante possível é uma ordem quadripartite de polos (quadripolarismo), desenvolvida na teoria eurasiática com base em conceitos geopolíticos.” (A. Dugin, Teoria do Mundo Multipolar, Parte 3).

Ele pega esse modelo de Haushofer e Coudenhove-Kalergi apenas como exemplo fácil de uma estruturação multipolar do planeta. Em todo o resto do livro-base de Dugin sobre multipolaridade, porém, Dugin deixa claro que enxerga os atores ideais do mundo multipolar como sendo as civilizações e cada uma correspondendo a um polo:

“Ao contrário da civilização, que em princípio não é um fenômeno político, o Grande Espaço pode ser considerado como um pré-conceito político, que nos aproxima da formação da dimensão política da teoria do mundo multipolar E aqui chegamos a um problema muito importante: que status político terão os polos do mundo multipolar (as civilizações) nesta teoria?” (A. Dugin, Teoria do Mundo Multipolar, Parte 1).

Há pelo menos outra menção a “quatro polos” também em uma crítica do Dugin, em uma aula na Universidade de Fudan, na China, ao modelo da tripolaridade defendido por alguns analistas que propõem um mundo dividido entre EUA, Europa e China.

Dugin, nessa reflexão, diz que a emergência da Rússia como quarto polo, facilitaria o surgimento de ainda outros futuros polos, como pelo menos um latino-americano e um africano.

Recentemente, para finalizar essa questão, Dugin falou sobre os BRICS como base para a construção de um mundo multipolar, especialmente a partir de sua ampliação. Ele assim comenta no artigo “Um Mundo HEPTAPOLAR”:

“De fato, na nova composição do BRICS, temos um modelo completo de união de todos os 6 polos – civilizações, “Grandes Espaços” que existem no planeta. Com exceção do Ocidente, que ainda está desesperado para preservar sua hegemonia e estrutura unipolar. Mas agora ele não enfrenta países díspares e fragmentados, cheios de contradições internas e externas, mas uma força unida da maioria da humanidade, determinada a construir um mundo multipolar.

Esse mundo multipolar é composto pelas seguintes civilizações:

1) O Ocidente (EUA+UE e seus vassalos, incluindo o outrora orgulhoso e original Japão);
2) China (+Taiwan) e seus satélites;
3) Rússia (como integrador do espaço eurasiático);
4) Índia e sua zona de influência;
5) América Ibérica (com o núcleo de Brasil+Argentina);
6) África (África do Sul + Etiópia, com Mali, Burkina Faso, Níger, etc., emergindo da influência colonial francesa);
7) Mundo Islâmico (em duas versões – Irã xiita, Arábia Saudita, EAU e Egito sunitas).

Assim, temos a estrutura do mundo heptapolar, que consiste em sete civilizações de pleno direito, algumas das quais já estão totalmente formadas (Ocidente, China, Rússia, Índia) e outras (mundo islâmico, África, América Latina) estão a caminho”.

Mais claro impossível. Nesse sentido, os globalistas infiltrados no nacionalismo, que inclusive tentaram se colocar como duguinistas após uma tentativa de golpe contra a Nova Resistência em fevereiro de 2022, são expostos como mentirosos.

E Gustavo Castañon é exposto como desinformado e “idiota útil” para oportunistas de todo tipo.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 47

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