Brasil e África: uma missão

Esqueçamos a Ucrânia, já que aquele conflito, já em andamento, envolve questões nas quais temos pouca margem de interferência, como o desejo russo de segurança continental e o projeto ianque de cerco e fragmentação da Rússia. Na África podemos fazer realmente a diferença.

Temos profundas ligações raciais, culturais e históricas com a África. Nossa presença sempre teve ampla aceitação na África. Nossas conexões e projetos na África jamais sofreram suspeita de “imperialismo”. A realidade, inclusive, é que Rússia e China estão preenchendo um vazio nosso, já que somos nós que deveríamos ter desenvolvimento um pivô na direção da África, bem além dos projetos da Odebrecht, mas envolvendo também atuações em campos como o contraterrorismo, a infraestrutura e, claro, educação e qualificação da mão-de-obra local.

Nós temos, inclusive, uma grande vantagem até mesmo sobre a África do Sul nesse conflito do Sahel, situando o Brasil como o país do G20 melhor posicionado para atuar nessa questão: nossa posição geográfica.

Aqui é necessário retornar ao processo nacional-revolucionário africano. As ondas de levantes patrióticos já tomou Mali, Burkina Faso, Guiné-Conacri e Níger. Todos estes países, que são vizinhos, estão agora aliados e se apoiando mutuamente, na medida de suas parcas possibilidades locais.

Ora, da ponta do Nordeste brasileiro até Conacri, cidade portuária que é capital da República da Guiné, há a distância de 3 mil km, mesma distância que de Natal para São Paulo, por exemplo.

O Brasil poderia e deveria romper os bloqueios e embargos impostos ao Níger, criando uma rota comercial daqui a Conacri, e passando por Bamako e Uagadugu, até chegar a Niamei, capital do Níger. O mais importante seria garantir a chegada de alimentos ao Níger, bem como garantir o escoamento dos produtos nigerenses por Conacri para o Brasil. Poderíamos, inclusive, tentar trabalhar com eles contornando o dólar.

Simultaneamente, o Brasil deve se pronunciar no sentido de dissuadir aventuras militares no Sahel e convidar os líderes da CEDEAO para uma reunião, mediada pelo Brasil. Detalhe: isso também está em nosso interesse nacional porque uma guerra envolvendo os países da região aumentaria fluxos migratórios para nosso país, sendo de nosso interesse a estabilidade do oeste africano.

Nada disso que eu estou comentando aqui é loucura, absurdo ou qualquer coisa fora de nossas possibilidades concretas e dentro do reino da razoabilidade.

Basta o Brasil ter vontade, iniciativa e pensar estrategicamente a nossa projeção internacional onde ela realmente pode fazer a diferença, no lugar de ficarmos nos preocupando com Zelensky, Macron e companhia.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

Artigos: 597

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