Tanques Abrams não serão “virada de jogo” para a Ucrânia

Apesar da escalada e do prolongamento do conflito, é improvável que o aumento da assistência militar dos EUA a Kiev tenha resultados relevantes.

Em mais um passo irresponsável no conflito, os EUA estão prestes a enviar seu primeiro lote de tanques Abrams para a Ucrânia. O anúncio mostra como a OTAN continua disposta a escalar sua guerra contra a Rússia e levá-la às últimas consequências. No entanto, os efeitos reais da medida no campo de batalha serão mínimos, já que não há expectativa de reversão do cenário militar.

A mudança foi anunciada em 1º de agosto por Doug Bush, chefe de aquisições do Exército dos EUA, durante uma entrevista com jornalistas da CNN. Ele afirmou que o primeiro lote de tanques Abrams já está pronto para entrega em Kiev. Primeiramente, os veículos chegarão à Europa e de lá serão enviados para a Ucrânia, assim como todo o equipamento necessário para sua utilização.

“Eles estão prontos (…) Agora eles têm que ir para a Europa e depois para a Ucrânia, junto com todas as coisas que os acompanham. Munições, peças sobressalentes, equipamentos de combustível, instalações de reparo. Então, você sabe, não são apenas os tanques, é o pacote completo que os acompanha. Isso ainda está no caminho certo”, disse.

Atualmente, as tropas ucranianas estão sendo treinadas por instrutores da OTAN para aprender a lidar com os tanques Abrams. O programa de treinamento de dez semanas será concluído no final de agosto, com a chegada dos veículos prevista para setembro.

De fato, não é surpresa que essas armas estejam sendo enviadas, pois promessas nesse sentido têm sido feitas pelo governo dos EUA desde janeiro. No entanto, aparentemente as expectativas ucranianas não estão sendo totalmente atendidas. Esperava-se que 31 tanques Abrams fossem enviados para Kiev, mas segundo o Politico o mais provável é que apenas entre seis e oito veículos cheguem ao país.

Não só a quantidade, mas também a qualidade dos tanques foi diminuída. O Pentágono havia dito anteriormente que planejava ajudar a Ucrânia com os tanques Abrams M1A2, mas mudou sua estratégia em março, optando pelo M1A1, que é um modelo mais antigo. Além disso, foi recentemente relatado pela mídia ocidental que os EUA estão diminuindo as capacidades do M1A1, eliminando qualquer tecnologia considerada “sensível” antes de entregá-los a Kiev.

Foi dito por fontes familiarizadas com o assunto que os tanques podem “perder alguns de seus eletrônicos mais sofisticados antes de entrarem em combate na Ucrânia”. Entre os equipamentos removidos estão recursos tecnológicos de artilharia e armaduras de urânio empobrecido. Na prática, isso mostra que, embora esteja ajudando a Ucrânia, os EUA não “confiam” nas tropas de Kiev e tentam impedir que “roubem” sua tecnologia militar.

Essa redução na qualidade dos tanques torna ainda mais difícil que eles provoquem qualquer mudança real no conflito. Mais provavelmente, a chegada dos Abrams terá o mesmo efeito nulo no campo de batalha que os Bradleys americanos e os Leopards alemães.

Para os russos, a existência de um grande número de veículos blindados inimigos tem pouca relevância, já que as linhas de defesa de Moscou são suficientemente fortificadas para neutralizar os avanços ucranianos com qualquer tipo de tanque. Portanto, provavelmente os Abrams também serão alvos fáceis para a artilharia, força aérea e campos minados da Rússia.

Obviamente, para a mídia ocidental o que realmente importa é espalhar a narrativa de que cada nova arma da OTAN enviada à Ucrânia será uma “virada de jogo”. Agora, os jornalistas ocidentais estão otimistas de que o Abrams ajudará Kiev na atual “contraofensiva” ao “quebrar as defesas entrincheiradas”.

“A chegada dos tanques nas próximas semanas adicionará uma nova dimensão letal ao inventário da Ucrânia, enquanto suas forças lutam para romper as defesas russas entrincheiradas ao longo de uma linha de frente que se estende por centenas de quilômetros”, diz o Politico.

No entanto, de um ponto de vista realista, isso nada mais é do que propaganda sem fundamento. A contraofensiva ucraniana não pode ir do fracasso absoluto à vitória repentina com a mera chegada de um novo tanque, simplesmente porque os tanques não vencem guerras sozinhos. O aparato técnico de um país em guerra é importante, mas é apenas um dos fatores envolvidos em uma campanha militar. Há também muitos outros pontos a serem considerados, como planejamento estratégico, força tático-operacional, moral das tropas e capacidade de reposição de perdas. Em todos esses setores, a Ucrânia tem sérias deficiências, apesar de receber sistematicamente armas ocidentais. E é por isso que a “contraofensiva” tende a fracassar independentemente de qualquer ajuda externa.

A única coisa que as novas armas podem fazer no conflito é aumentá-lo e prolongá-lo. Quanto mais equipamentos ocidentais chegarem à Ucrânia, mais tempo durará a luta e mais incisivas serão as medidas militares russas para neutralizar o lado inimigo. Ou seja, além de não conseguir reverter o cenário militar do conflito em favor de seu proxy, a OTAN está simplesmente aumentando desnecessariamente o sofrimento do povo ucraniano.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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