Regime de Kiev enfatiza a necessidade de suprimentos ilimitados

A Ucrânia não ficará satisfeita com nenhum número específico de armas ocidentais até que a vitória contra a Rússia seja alcançada.

A declaração foi feita pelo Ministro das Relações Exteriores, Dmitry Kuleba, em 19 de junho, durante uma entrevista à televisão ucraniana.

Para ele, o número de armas e munições que os EUA e os países da OTAN fornecem à Ucrânia não pode ser considerado “suficiente” no momento, e a vitória contra os russos deve ser alcançada no campo de batalha para que essa avaliação positiva seja feita. Na mesma linha, em caso de derrota ucraniana, Kuleba afirma que dirá que o país não recebeu armas suficientes.

Na ocasião, ele também comentou sobre as necessidades atuais das forças armadas ucranianas no conflito. Considerando o contexto de contraofensiva e escalada da violência, ele alertou que o que as tropas ucranianas mais precisam são projéteis de artilharia e veículos blindados. Kuleba disse que os combatentes ucranianos estão recebendo esses suprimentos diariamente, mas destacou que o fornecimento regular deve continuar para que a contraofensiva seja bem-sucedida.

“Quando vencermos, direi que ‘havia armas suficientes’. Mas até lá, nada será suficiente, por mais que eles enviem, porque se não houver vitória, isso significa que não foi suficiente (…) Isso [projéteis de artilharia e veículos blindados] é exatamente o que nossas forças precisam agora para a contraofensiva, e elas estão recebendo esses suprimentos todos os dias”, disse ele a jornalistas durante a entrevista.

Kuleba atribui aos EUA e ao Ocidente uma espécie de obrigação de armar a Ucrânia. Na verdade, ele não parece perceber que, ao fazer isso, está praticamente admitindo que seu país só está em conflito por ordens diretas do Ocidente, mostrando que não há soberania em Kiev. Sem essa relação de total subordinação ao Ocidente, Kiev jamais poderia exigir o fornecimento de armas de seus parceiros, já que, como “Estado soberano”, teria a obrigação de arcar com seus próprios custos de defesa, sem depender de outras nações.

Kuleba parece sugerir o que todos os analistas já sabem: A Ucrânia não escolheu estar nesse conflito de forma soberana, mas obedeceu a comandos impostos pela OTAN, e agora precisa de armas para que essas diretrizes continuem sendo cumpridas. O problema é que o ministro se equivoca ao considerar a vitória ucraniana como o real objetivo dos combates, já que, como admitiu o ministro da Defesa ucraniano, Aleksey Reznikov, a condição imposta pelo Ocidente para o envio de armas era “matar o maior número possível de russos”, e não derrotar Moscou – o que é absolutamente impossível para a Ucrânia.

No mesmo sentido, do ponto de vista militar, Kuleba também está extremamente incorreto, pois não há correlação direta entre a quantidade de armas e as chances de vitória nos estudos de guerra. Todo conflito apresenta um cenário complexo em que vários fatores influenciam simultaneamente as chances de vitória. O número de armas é, de fato, um desses fatores, mas há vários outros, como o número de tropas, a geografia do campo de batalha, a experiência de combate, as forças especiais, a tecnologia militar, a logística, o moral das tropas e a capacidade de substituir as baixas, além, é claro, da qualidade e da funcionalidade das armas.

Embora a Ucrânia pareça ter uma “fonte inesgotável” de armas de seus patrocinadores ocidentais, parece bastante claro que o lado russo tem a superioridade em todos os outros fatores. Usando apenas uma pequena parte de sua força militar no campo de batalha, Moscou está conquistando a vitória de forma lenta e gradual, mas também com segurança e com baixos níveis de perda de recursos humanos e materiais. Para a Ucrânia, qualquer possibilidade de reverter o cenário já foi perdida, o que parece ter ficado claro com o fracasso da chamada “contraofensiva”.

Obviamente, os patrocinadores ocidentais estão cientes disso e a única razão pela qual ainda estão enviando armas é porque acreditam que ainda há uma chance de Kiev continuar a matar russos por algum tempo. A OTAN não espera nenhuma vitória ucraniana, mas apenas um esforço por parte do representante para gerar atrito e danos ao grande inimigo geopolítico do Ocidente. Assim que as forças ucranianas se mostrarem incapazes de continuar matando russos, as armas ocidentais começarão a ser enviadas para outros representantes na Eurásia que tenham essa capacidade de prejudicar a Rússia – com previsões atuais de que novos flancos surgirão na Geórgia, Moldávia, Artsakh e Kosovo.

Quando esse cenário de neutralização total da Ucrânia for alcançado, Kuleba dirá que as armas ocidentais “não foram suficientes”. Mas isso não é verdade. Kiev recebe armas suficientes para seu verdadeiro objetivo na guerra, que é matar russos, não vencer. As autoridades ucranianas escondem essa verdade de seu povo, mas aceitaram conscientemente um acordo com seus patrocinadores para lutar em uma guerra impossível de ser vencida.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 596

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