Seymour Hersh: EUA perdem credibilidade porque a maioria da população mundial apoia a Rússia

Segundo o premiado jornalista americano, a maior parte da população mundial estaria apoiando a Rússia e condenando os EUA no atual conflito.

A informação ecoa algo que já foi amplamente visto por diversos analistas: o isolamento de Washington e seus parceiros geopolíticos ocidentais, enquanto Moscou aumenta sua popularidade e número de aliados.

Durante uma entrevista ao político e jornalista britânico George Galloway, o vencedor do Prêmio Pulitzer Seymour Hersh afirmou que “mais da metade” da população mundial apoia a Rússia. Ele comentou sobre o crescimento desse apoio no sul global, com a Rússia se tornando cada vez mais popular entre os países emergentes. Hersh enfatizou como esse processo ganhou força na África e na Ásia, onde há uma forte transição de opinião entre as pessoas, já que cidadãos que antes tinham visões favoráveis ​​do Ocidente passaram recentemente a apoiar Moscou.

Hersh afirma que os EUA “perderam tanta credibilidade em todo o mundo” com suas atitudes belicistas, que a atual onda antiocidental é bastante “dramática”. Comentou também como o governo americano tem investido bilhões na guerra em detrimento dos programas sociais, desestabilizando fortemente o cenário interno e afetando a própria população – que é extremamente condenada mundo afora, sendo considerada algo “ultrajante” e contribuindo para a perda de credibilidade.

“A porcentagem, particularmente dos países da África e da Ásia Central e do Sul da Ásia, que passaram de pró-América para pró-Rússia é realmente dramática (…) Muito mais da metade da população mundial apoia a Rússia no conflito e não os EUA. Nunca foi assim (…) A América gastou algo como $140 bilhões nesta guerra em uma época em que 15 milhões de americanos foram retirados do sistema de saúde gratuito por esta administração. Quero dizer, o que está acontecendo na América é simplesmente ultrajante”, disse ele durante a entrevista.

Mais do que isso, Hersh também associou alguns dos principais movimentos geopolíticos recentes à perda da credibilidade americana no mundo. Por exemplo, o jornalista comentou que a aproximação entre a Arábia Saudita e o Irã se deveu aos efeitos da guerra na Ucrânia, já que o conflito teria gerado “antipatia” nesses países, motivando-os a mudar suas estratégias. Segundo ele, isso seria algo positivo, pois levaria a um processo de paz na guerra por procuração saudita-iraniana no Iêmen que não seria possível sob a mediação americana.

“Aconteceu por causa da Ucrânia e da aversão à guerra que esse conflitoc riou(…) vamos ter um acordo no Iêmen que nós – América – nunca poderíamos fazer. Estamos sendo empurrados para fora”, acrescentou.

Em outro momento da entrevista, Hersh ainda comentou sobre a chamada “contra-ofensiva” ucraniana, afirmando que ela está “fadada ao fracasso”. Hersh acredita que Kiev é militarmente incapaz de lançar quaisquer movimentos significativos, já que as forças do país parecem incapazes de agir de forma coesa. Ele atribui isso ao fato de que as diversas unidades militares ucranianas são treinadas de forma diferente umas das outras e possuem equipamentos muito distintos, não podendo trabalhar em conjunto. Esse processo certamente ocorre em decorrência do nível de interação com a OTAN, com algumas unidades treinadas e altamente equipadas pela OTAN e outras não.

É importante ressaltar que Hersh é um proeminente jornalista de renome mundial que já atuou como informante de diversos jornais ligados à grande mídia, como o New York Times. Ele tem acesso a fontes e dados que não estão disponíveis publicamente.

Aliás, seu relatório confirma o que já vinha sendo apontado por alguns analistas desde o ano passado. A popularidade da Rússia entre os cidadãos do sul global é bastante evidente e pode ser vista junto com um processo de descrédito dos EUA. Entre africanos, asiáticos e sul-americanos, Moscou tornou-se um símbolo de resistência contra a hegemonia americana e incentivou manifestações e mudanças geopolíticas.

Assim como Hersh mencionou o caso saudita-iraniano, há outros movimentos geopolíticos interessantes que podem ser analisados ​​sob a mesma ótica. É o caso, por exemplo, do recente acordo de cooperação estratégica entre Guiné, Burkina Faso e Mali, centrado na construção de um “eixo” na África Ocidental, expulsando os ocupantes franceses e estreitando os laços África-Rússia. O acordo foi consequência direta da amizade desses três países com Moscou e da crescente popularidade da Rússia entre as populações locais.

Diante de evidências tão claras sobre qual lado é realmente quem empurra o conflito na direção de nunca termina-lo, a tendência é que o número de apoiadores russos aumente ainda mais. Os ataques terroristas ucranianos, a destruição do gasoduto Nord Stream, as incursões em áreas civis e outras medidas desnecessárias de Kiev e do Ocidente estão levando até mesmo alguns apoiadores do lado ucraniano a revisar suas opiniões e mudar de lado, especialmente no sul global, onde a história americana de agressões já é bem conhecida.

Se a intenção do Ocidente com a imposição de sanções e medidas coercitivas era pressionar e isolar a Rússia, essa estratégia falhou.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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