Caso Blaze: até onde vai a bandidagem?

Povo extorquido, celebridades compradas e mídia omissa. Até onde vai a sujeira?

Em maio de 2023, para a surpresa de absolutamente ninguém, o Ministério Público do Estado de Goiás revelou um esquema de apostas esportivas envolvendo jogadores de diversos times das séries A e B do Brasileirão. Atletas e observadores fraudavam o resultado de jogos e compartilhavam os lucros das apostas.

Os jogos de azar foram banidos no Brasil em 1946. Embora as loterias públicas tenham sido legalizadas no intervalo, a rapinagem da esperança e da pobreza do povo brasileiro apenas tomaria as proporções atuais em 2018, quando, nos últimos dias de seu governo, Michel Temer sancionou a MP n.º 846/18. Para o ex-presidente, cuja organização criminosa recebeu ao menos R$ 1,8 bilhão em propinas, as empresas sediadas no estrangeiro deveriam ter o direito de adoecer e explorar o povo.

O liberalismo fundamentalista, que não aceita a ludomania como doença, comemorou. Os extremistas da Veja, por exemplo, chegaram a dizer recentemente que a ideia de cobrar impostos sobre jogos “assusta o mercado”, como se falasse de um deus pagão que exige o sacrifício de famílias inteiras cujos membros foram viciados. Agora, a apologia ao adoecimento e à extorsão do povo enfrenta um novo desafio.

O pequeno canal do YouTube Abraham_TV fez um vídeo sobre suas pesquisas sobre a plataforma Blaze, que patrocina times de futebol e vários dos maiores canais e influenciadores digitais do Brasil. Embora ganhos astronômicos fossem prometidos, milhares de reclamações não respondidas no Instagram e no ReclameAqui denunciaram uma diversidade de estratégias que impediam o pagamento dos prêmios. Embora se tratasse, em tese, um cassino online internacional, não passava de uma cadeia de companhias de papel em paraísos fiscais, mirando exclusivamente em brasileiros. Simplesmente não se pode cobrar a “empresa” judicialmente.

Sem qualquer explicação razoável, o vídeo foi simplesmente tirado do ar, provocando uma bola de neve que apenas permitiu que a história se disseminasse depois de um mês. Quem diz conhecer o estelionatário-chefe, um holandês anônimo que nem sabemos se existe, é Luan Kovarik, playboy da diáspora brasileira na Flórida mais conhecido como “Jon Vlogs”. Kovarik foi longe para garantir uma rede de propaganda do esquema, retendo 20% das verbas que repassava a cada um dos 400 influenciadores que levantou. O mais vocal deles foi ninguém menos que Felipe Neto, o camaleão ideológico condenado mais de uma vez por publicidade abusiva contra crianças. Os influenciadores mentiam abertamente para seu público, apresentando a Blaze como uma forma de complemento de renda.

Neto já vinha promovendo o cassino virtual entusiasticamente em diversas plataformas, tendo mesmo incluído a plataforma em seu perfil no Twitter na qualidade de site pessoal. Já vinha ignorando pressões públicas por sua atitude maldosa, agravada por seu público ser majoritariamente infanto-juvenil. Segundo o youtuber Daniel Penin, cuja investigação levou o esquema a público, não apenas Kovarik e Neto, mas também Neymar Jr. estariam numa categoria de “afiliados”, o que significa que ganhavam uma parte dos lucros sempre que alguém que tivesse entrado com seu cupom perdesse o dinheiro apostado. Em suma, estavam roubando dos pobres para dar aos ricos.

Mesmo com todas as revelações sobre o esquema, mesmo com a retratação pública de diversos influenciadores, Kovarik e Neto só têm a oferecer respostas bizarras em defesa da Blaze, chegando a sugerir uma conspiração contra o pobre cassino. Ambos acusaram os críticos de inveja e ignoraram que não é possível sequer sacar os “ganhos”. Neymar ainda não se pronunciou.

Aliás, nenhum grande portal de notícias fez qualquer apontamento sobre o escândalo, medida que só serve para demonstrar mais uma vez a absoluta imoralidade da mídia de massas. Não é tão surpreendente, já que a própria Globo ganhou R$ 175 milhões em 2022 com a PixBet, outro cassino de paraíso fiscal para brasileiros. Certamente haverá coberturas mais superficiais quando o silêncio for insustentável, repetindo-se o mesmo padrão omissivo que demonstrou quando a dinastia de pedófilos e estupradores das Casas Bahia foi desmascarada. De todos os portais de notícias minimamente estruturados, apenas o Portal do Bitcoin tomou nota dos fatos antes da Nova Resistência. O Estado de Minas foi ao cúmulo de fazer uma propaganda para a Blaze hoje mesmo, com a hipocrisia de ostentar uma notícia separada sobre fraude na página inicial.

A NR não se omite. O Brasil os conhece cada vez melhor. A hora de todos vocês vai chegar.

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Luís Marques de Sousa

Jornalista dissidente.

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