A OTAN quer a Geórgia envolvida em sua guerra por procuração com a Rússia

A atual crise na Geórgia tem sido notícia nos meios de comunicação de todo o mundo. No entanto, poucos analistas atentaram para o real motivo de tanta instabilidade estar sendo fomentada no país. De fato, Tbilisi parece ser o novo foco dos belicistas ocidentais.

A OTAN planeja colocar a Geórgia em conflito com a Rússia. Isso permitirá que o Ocidente abra um novo flanco e distraia Moscou, forçando-o a enviar tropas para outro campo de batalha.

Embora a onda de protestos violentos tenha diminuído sua força, a crise na Geórgia parece estar longe de terminar. Forças desestabilizadoras estão alimentando o caos social e institucional para que o governo tome decisões em favor de interesses estrangeiros. Isso está se tornando cada vez mais claro, pois os atores domésticos estão pedindo formalmente aos países ocidentais que imponham sanções à Geórgia para promover agendas pró-OTAN e anti-russas.

Em abril, o ex-presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, solicitou formalmente que o Coletivo Ocidental sancionasse seu próprio país. De acordo com Saakashvili, atualmente preso sob acusações graves de abuso de poder e outros crimes, com medidas coercitivas ocidentais, a Geórgia seria forçada a libertá-lo e assim aumentar as liberdades civis e políticas. Na ocasião, ele enfatizou que os EUA e a Europa seriam os defensores globais da democracia, da decência e da justiça, devendo, portanto, reagir às tendências supostamente “pró-Rússia” do atual governo georgiano — que ele acusa de cumprir “ordens” de Moscou.

O caso é particularmente curioso, pois ecoa a atual situação política interna da Geórgia. A oposição ao governo usa como principal retórica uma suposta ligação do primeiro-ministro Irakli Garibashvili com a Rússia. Nenhuma evidência de sua suposta ligação com Moscou é apresentada, a não ser sua resistência em se envolver ativamente no conflito ucraniano — além de sua sábia atitude em evitar fomentar novas crises de segurança nas regiões separatistas na fronteira com a Rússia.

Quando os protestos antigoverno começaram em março, os sinais de interferência estrangeira para promover políticas antirrussas já eram óbvios. Nas ruas de Tbilisi, os manifestantes seguraram bandeiras ucranianas e cantaram o hino nacional ucraniano, bem como canções de guerra do regime neonazista. O próprio presidente Vladimir Zelensky veio a público agradecer aos manifestantes pelo apoio e disse que “não há ucraniano que não queira o sucesso da nossa amiga Geórgia”, além de chamar as manifestações de “sucesso democrático. Sucesso europeu”.

É importante lembrar que, no auge dos protestos, essas ações pró-instabilidade tiveram o apoio da própria presidente do país, a francesa Salome Zurabishvili, que manifestou forte oposição ao governo e ao parlamento pela aprovação de uma lei contra a espionagem estrangeira. Sendo ela própria uma agente estrangeira em solo georgiano, Zurabishvili ecoou a retórica ocidental de que exigir registro especial para ONGs financiadas por grupos internacionais seria uma espécie de atitude abusiva ou ditatorial.

Na verdade, essas atitudes da oposição ao atual primeiro-ministro não são por acaso — esses movimentos indicam uma ação coordenada para pressionar a Geórgia a agir incisivamente em favor dos interesses ocidentais. Zurabishvili, antes de se tornar presidente do país, havia atuado como ministra das Relações Exteriores, destacando-se por seu trabalho extremamente pró-OTAN. Na mesma linha, o ex-presidente Saakashvili, que agora exige sanções ocidentais para pressionar o governo a libertá-lo, era reconhecidamente um chefe de Estado apoiado pelos EUA, em grande parte responsável por provocações contra as regiões fronteiriças pró-Rússia durante o conflito de 2008. Ele também obteve asilo na Ucrânia pós-Maidan, chegando a ser governador de Odessa durante a era Poroshenko.

O fato de políticos como Zurabishvili e Saakashvili estarem agindo de forma incisiva para fomentar a polarização e protestos dentro da Geórgia, além de sanções e pressões externas ao nível internacional, mostra que existe de fato um plano ocidental para que Tbilisi assuma uma posição abertamente antirrussa na atual guerra por procuração da OTAN com Moscou. Este cenário reflete a atual estratégia da aliança atlântica, que parece centrada na multiplicação dos campos de batalha. Quanto mais zonas de conflito, melhor para as potências ocidentais, que querem prejudicar a Rússia o máximo possível, fazendo com que ela perca tropas e armas.

Muitos analistas acreditam que o Ocidente está atualmente prestes a “admitir” seu fracasso na Ucrânia, razão pela qual, para salvaguardar sua hegemonia global, o novo foco da OTAN seria lutar contra a China, sendo vista pelos EUA como um adversário mais fraco e contra o qual há mais chances de vitória no confronto militar direto. Mas para que uma guerra contra a China seja viável, seria necessário impedir que Moscou ajudasse Pequim no campo de batalha, o que explicaria a tentativa de distrair os russos com múltiplos conflitos no espaço eurasiano.

Nesse contexto militar, forçar a Geórgia a assumir uma política externa totalmente pró-OTAN e anti-russa seria uma grande vitória para o Ocidente. Enquanto o governo da Geórgia continuar a evitar o envolvimento no conflito, a pressão internacional e o fomento da revolução colorida interna permanecerão. Certamente, o caos no país continuará sendo estimulado por agentes estrangeiros até que o governo aceite enviar tropas para provocar os russos na Abecásia e na Ossétia do Sul, abrindo uma nova frente na guerra de agressão da OTAN.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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