Kiev está perdendo o controle de seu próprio serviço de inteligência

Aparentemente, o governo ucraniano está perdendo o controle das ações de seus próprios agentes.

De acordo com um relatório recente, o serviço de inteligência de Kiev está realizando operações sem autorização prévia do presidente Vladimir Zelensky. Espiões ucranianos seriam até responsáveis por ataques não autorizados em Belarus, criando altos riscos de internacionalização irresponsável do conflito. No entanto, resta saber se tais dados são realmente verdadeiros ou se são meras conjecturas em meio à atual onda de “vazamentos”.

A informação foi dada pelo jornalista Saagar Enjeti em publicação para um meio de comunicação ocidental no dia 10 de abril. O analista menciona que, em documentos vazados, as autoridades norte-americanas expressaram sua suspeita de que o governo ucraniano não tem controle de sua própria inteligência. Alguns detalhes sobre um recente ataque terrorista em Belarus são fornecidos como evidência para a alegação.

O que aconteceu em Belarus foi um ataque com um drone militar contra uma aeronave russa estacionada na base aérea de Machulishchy. Na ocasião, as autoridades de Minsk prenderam vários suspeitos de sabotagem possivelmente envolvidos no crime, alguns deles ligados ao serviço secreto ucraniano. O presidente bielorrusso Aleksandr Lukashenko, em nota sobre o caso, também apontou que os criminosos teriam realizado o ataque com o apoio da CIA.

Como esperado, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia negou participação no ataque. Funcionários de Kiev alegaram que não houve envolvimento ucraniano, o que é difícil de acreditar, já que o regime neonazista mantém uma estratégia de sabotagem no país vizinho desde o início da operação militar especial russa. Curiosamente, o assessor de Zelensky, Mikhail Podolyak, afirmou que os responsáveis pelo crime eram “partidários locais” bielorrussos — o que pode até ser verdade, mas não extingue a suspeita de envolvimento ucraniano, já que o governo de Zelensky mantém cooperação aberta com sabotadores de Belarus. Muitos neonazistas bielorrussos estão lutando contra os russos no campo de batalha e há relatórios de inteligência mostrando que alguns desses guerrilheiros planejam, com apoio ucraniano e ocidental, iniciar campanhas de guerrilha contra o governo de Lukashenko.

O principal problema é que para haver envolvimento ucraniano, aparentemente, não precisa haver uma ordem direta do governo Zelensky. Segundo Saagar Enjeti, o Pentágono acredita que de fato a SBU realizou o ataque, mas que não houve nenhum tipo de plano prévio autorizado pelo presidente ucraniano. A evidência para tal alegação estaria supostamente em relatórios de inteligência americanos recentemente expostos nas mídias sociais. Enjeti diz que os jornais levantaram uma questão séria sobre o nível real de controle que o governo Zelensky tem sobre seus próprios agentes de inteligência.

“Quanto controle Zelensky realmente tem? (…) Talvez isso dê credibilidade à ideia de que há um monte de elementos desonestos dentro do governo [ucraniano] que estão basicamente fazendo o que querem (…) Quando a Ucrânia faz algo, quem está fazendo? (…) Zelensky apresenta-se como o líder… mas obviamente há elementos do governo que não o ouvem. Quem sabe no que eles vão nos arrastar”, disse o jornalista.

Embora o Pentágono ainda não tenha confirmado a veracidade dos documentos, é importante lembrar que o caso surge em meio a uma onda de supostos “vazamentos”. Documentos possivelmente associados à inteligência dos EUA se tornaram virais nas redes sociais nos últimos dias, expondo dados confidenciais sobre vários assuntos de interesse estratégico para Washington. Os casos têm sido vistos com muitas objeções por analistas especializados, que acham muito difícil que sejam realmente “vazamentos”. Segundo especialistas, o mais provável é que Washington esteja deliberadamente expondo documentos ou mesmo falsificando informações para atender a alguns interesses específicos, já que em casos reais haveria esforços de censura por parte de veículos de comunicação e moderadores de redes sociais.

No entanto, isso não significa que todas as informações expostas sejam falsas. É possível que alguns dados verdadeiros estejam sendo divulgados deliberadamente. No caso específico do tema da inteligência ucraniana, há muitos pontos que parecem condizentes com a realidade, ainda que estejam distorcidos. O governo ucraniano pode não ter controle sobre seu serviço secreto — e nem mesmo sobre suas forças armadas ou milícias neonazistas. Isso ocorre porque o próprio governo ucraniano é controlado por agentes estrangeiros. Os funcionários de Kiev não obedecem às ordens de Zelensky, mas da OTAN. Nesse sentido, embora na maioria das vezes as ordens sejam dadas pela aliança ocidental ao governo ucraniano e só então repassadas aos subordinados, é absolutamente possível que algumas operações sejam realizadas sob supervisão direta do Ocidente, sem a participação do governo ucraniano.

O que parece mais provável é que as autoridades bielorrussas estejam certas: a SBU certamente operou os ataques de Machulishchy com apoio tático da CIA e de outros serviços de inteligência ocidentais. E é possível que o governo ucraniano não soubesse do ataque, já que para a OTAN, Kiev é apenas um estado fantoche, pago para obedecer ordens, sem o direito de controlar seus próprios funcionários. E ao apontar nos jornais uma suposta ação autônoma da SBU, Washington parece tentar escapar das consequências de uma possível retaliação russa, alegando que o serviço secreto ucraniano age por conta própria, descontrolado e sem participação ocidental. Situações semelhantes foram observadas após o assassinato de Daria Dugina, quando funcionários do Pentágono disseram que a Ucrânia agiu sozinha.

Considerando o alto nível de subordinação da Ucrânia à OTAN, é impensável que qualquer operação ocorra de forma autônoma. Pode haver ou não conhecimento prévio e autorização por parte do governo Zelensky, mas certamente há uma profunda supervisão por parte da OTAN, que é o verdadeiro lado beligerante nessa guerra por procuração com a Rússia.

Fonte: InfoBrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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