O lápis de Milton Friedman: um choque de realidade

O conto liberal sobre o lápis, repetido continuamente à exaustão, é um bom exemplo de como eles não entendem as bases da economia capitalista e apenas repetem sem fim o mantra do livre mercado.

Dani Rodrik tem uma boa crítica sobre Milton Friedman e o seu lápis. Esta dupla dinâmica apareceu na foto de capa do livro de Milton e Rose Friedman intitulado “Livre para Escolher”. No seu primeiro capítulo, eles contam um causo sobre como a mão invisível do mercado produz lápis sem a necessidade de direcionamento central.

“Aposto que aqueles comunas não conseguem fazer um lápis como este!”

Como Rodrik aponta (e o casal Friedman também, em rodapé), este conto sobre lápis foi copiado de um artigo escrito por Leonard E. Read, chamado “I, Pencil”, escrito para a revista de propaganda libertária The Freeman, publicada por uma ONG chamada “Foundation for Economic Education” (sic). Qualquer um que já tenha lido A Riqueza das Nações reconhecerá que a verdadeira inspiração é o conto de Adam Smith sobre uma camiseta de linho no final do primeiro capítulo.

Rodrik observa que

A perspectiva Friedmaniana subestima grandemente os pré-requisitos institucionais dos mercados. Que o governo simplesmente faça valer os direitos de propriedade e os contratos, e – shazam! – os mercados podem fazer a sua magia. De fato, o tipo de mercados que as economias modernas necessitam não são autocriadoras, autoreguladoras, autoestabilizadoras, ou autolegitimadoras. Os governos devem investir em redes de transporte e comunicação; combater a informação assimétrica, as externalidades, e o poder de negociação desigual; moderar o pânico financeiro e as recessões; e responder às exigências populares de programas públicos e assistência social.”

De fato. Mais ironicamente, em relação aos lápis, Rodrik pergunta onde são agora feitos os lápis e porquê….

Um Friedman dos tempos modernos pode se perguntar como é que a China dominou a indústria do lápis, tal como tem [dominado] tantas outras. Existem melhores fontes de grafite no México e na Coreia do Sul. As reservas florestais são mais abundantes na Indonésia e no Brasil. A Alemanha e os Estados Unidos dispõem de melhor tecnologia. A China tem muita mão-de-obra de baixo custo, mas o Bangladesh, a Etiópia, e muitos outros países populosos de baixo rendimento também têm. Sem dúvida, a maior parte do crédito pertence à iniciativa e ao trabalho árduo dos empresários e trabalhadores chineses. Mas a história atual do lápis estaria incompleta sem citar as empresas estatais chinesas, que fizeram os investimentos iniciais em tecnologia e formação de mão-de-obra; políticas frouxas de gestão florestal, que mantiveram a madeira artificialmente barata; generosos subsídios à exportação; e intervenção governamental nos mercados cambiais, que dá aos produtores chineses uma vantagem significativa em termos de custos. O governo chinês subsidiou, protegeu, e incitou as suas empresas para assegurar uma industrialização rápida, alterando assim a divisão global do trabalho em seu favor.”

Fonte: The Economics Anti-Textbook

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Rod Hilll

Rod Hill é professor de economia na Universidade de Nova Brunsvique e coautor dos livros “The Economics Anti-Textbook: A Critical Thinker's Guide to Microeconomics” e “The Microeconomics Anti-Textbook: A Critical Thinker's Guide”.

Artigos: 54

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