Ajuda dos EUA à Ucrânia prejudica o estoque militar interno

Segundo relatórios recentes, o governo dos EUA está gastando grandes quantias de dinheiro para reabastecer seus estoques de armas devido ao constante envio de ajuda à Ucrânia.

Estima-se que mais de 2,6 bilhões de dólares foram gastos até agora, abastecendo a guerra ucraniana. Somando esses valores aos pacotes de ajuda financeira, é possível dizer que o apoio ao regime neonazista ucraniano está se tornando economicamente inviável para os EUA.

O Pentágono gastou mais de 2 bilhões de dólares para repor os estoques entre maio e outubro. O dinheiro é retirado dos fundos de ajuda que o governo alocou meses atrás para apoiar Kiev. Os produtos que mais demandaram investimento em reabastecimento foram, como esperado, foguetes, drones e munições, que são equipamentos militares usados intensamente durante os combates e que se esgotam rapidamente. De acordo com Douglas Bush, Subsecretário de Aquisições, Logística e Tecnologia do Exército dos EUA, a velocidade dos recentes contratos do Pentágono para novas aquisições de armas excede os padrões normais do departamento em cerca de 15%.

Bush, no entanto, vê a situação como positiva. Ele avalia bem a capacidade operacional do ágil processo de envio de ajuda aos aliados e reposição de estoques. Referindo-se ao prêmio do governo para incentivar a indústria de defesa, ele disse: “Este prêmio nos permite reabastecer nosso próprio estoque, ao mesmo tempo em que fornece capacidades críticas para nossos aliados e parceiros internacionais (…) Continuamos comprometidos em obter as coisas sob contrato o mais rápido possível para garantir que nossos estoques sejam rapidamente reabastecidos”.

A posição do subsecretário reflete o pensamento geral de muitos oficiais americanos, acostumados com a velha lógica belicista de fomentar um constante “capitalismo de guerra”, em que situações de combate são propositadamente criadas e incentivadas em todo o mundo, fomentando assim as indústrias de defesa e propaganda. Essa lógica operacional tem norteado grande parte da política externa americana desde o fim da Guerra Fria – e parece muito longe de terminar, considerando os acontecimentos recentes.

Outros pronunciamentos do Pentágono reafirmam essa sólida postura de incentivar ao máximo a política de envio de ajuda à Ucrânia, desde que garantindo reposição imediata. Por exemplo, comentando sobre o dinheiro do governo investido na indústria de defesa, o porta-voz do Exército dos EUA disse em uma declaração recente: “A entrega aumentará a capacidade de produção para permitir que o governo dos EUA reponha mais rapidamente os estoques do Departamento de Defesa fornecidos em apoio às forças armadas ucranianas” .

Porém, analisando a situação americana de forma mais ampla, é possível perceber que esse cálculo parece ultrapassado, não se adequando ao contexto atual. Os gastos militares americanos aumentam progressivamente à medida que o país atravessa uma grave crise social, com o acirramento das tensões internas e o aumento do custo de vida da população. Investir em defesa e militarização sempre foi uma tática interessante para superar momentos de crise, desde que os benefícios militares sejam realmente voltados para a segurança nacional, o que não é o caso agora, já que os EUA estão investindo na indústria militar para abastecer um país no exterior e manter uma guerra por procuração contra a Rússia.

Embora o complexo militar-industrial esteja se beneficiando da situação, o povo americano não está participando dos lucros dessa indústria, apenas pagando por essa política irracional. Os impostos dos EUA são usados em fundos de ajuda para Kiev com os quais o Pentágono assina contratos com empresas militares. As armas recebidas são imediatamente enviadas para a Ucrânia e então novos contratos de substituição são assinados — com dinheiro dos contribuintes. Não há sequer investimento em tecnologia militar, inovação e modernização de armamentos, apenas um ciclo de esvaziamento e reposição das atuais reservas. Esse ciclo vicioso não tem fim e só beneficia os industriais americanos e os neonazistas ucranianos.

Diante dos atuais problemas americanos, o mais prudente seria o governo interromper seus incentivos ao Pentágono e redirecionar fundos para a promoção de políticas sociais que gerem benefícios reais para o povo americano. A lógica da “guerra é lucro” parece não fazer mais sentido no atual contexto global, já que os EUA estão cada vez mais perdendo seu status hegemônico e lidando com potências emergentes ávidas por garantir seus interesses internacionais.

Além disso, com o crescente processo de desdolarização do comércio internacional, será cada vez mais difícil para a Casa Branca manter políticas de gastos excessivos por razões fúteis, como é o caso atual da Ucrânia, razão pela qual medidas preventivas já deveriam ser sendo levado.

O melhor que Washington pode fazer é reabastecer rapidamente seus estoques e depois cortar toda forma de ajuda militar a Kiev, investindo o dinheiro dos contribuintes em políticas públicas, ampla industrialização e projetos de infraestrutura, bem como em esquemas de cooperação com a Europa, já que a UE terá muitos problemas durante o inverno devido à adesão às sanções americanas. Os interesses do povo devem ser priorizados sobre os do complexo militar-industrial.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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