Os Perigos da “Sociedade Aberta”: Marxismo Cultural ou Popperismo Sorosiano?

O pensamento hegemônico da elite globalista é o “marxismo cultural”? Segundo as narrativas neoconservadoras, sim. Um exame atento dos fatos, porém, mostra que o fundamento das ideias da elite é a filosofia do liberal Karl Popper, pai do conceito de “sociedade aberta”.

Com relação ao que os estadunidenses chamam de “marxismo cultural”, o polêmico e publicitário flamengo Edwin Truyens (Manifesto de Kort, nº 244, julho-agosto de 2018) pensa que esta expressão é inadequada hoje em dia, mesmo que o gramscismo de esquerda tenha sido sem dúvida marcado por seus pontos de vista no decorrer das últimas décadas. Para Truyens, o desenvolvimento do “popperismo” nas sociedades ocidentais é claramente mais óbvio e mais perigoso.

O popperismo deve ser entendido como uma estratégia cultural derivada dos escritos de Karl Popper, especialmente de seu livro mais importante, A Sociedade Aberta [The Open Society]. O livro-manifesto de Georges Soros também traz o mesmo título: Sociedade Aberta [Open Society]. O impacto deste livro cult no liberalismo anglo-saxão, no sentido mais amplo do termo, abrangendo o esquerdismo neoliberal e o capitalismo, é impressionante: democratas-cristãos como Herman van Rompuy ou os liberal-thatcherianos como Guy Verhofstadt foram contaminados, Truyens adverte, por esta ideologia que rejeita todas as formas de pertencimento, de laços sociais, étnicos ou outros.

E, consequentemente, visa destruí-los através da manipulação de várias estratégias. Soros era um leitor de Popper e um de seus discípulos mais virulentos. Sua fundação traz o título da principal obra de Popper: The Open Society Foundation. O trabalho de dissolução dos laços orgânicos nas sociedades e povos envolve o financiamento de um número considerável de projetos como Femen, grupos de “direitos” LGBT, Istambul Pride, programas de ensino do Globish (inglês global) em todo o mundo.

Truyens assinala que uma simples visita ao site da Open Society Foundation nos permite descobrir, por exemplo (datada de 15 de julho de 2018), um artigo sobre a necessidade de acolher o maior número possível de refugiados e outro artigo sobre o grave perigo da islamofobia. Tudo isso não é um “marxismo cultural”, mais ou menos extraído dos escritos confusos da Escola de Frankfurt ou, mais particularmente, das teses de Herbert Marcuse, que telegrafariam todas as iniciativas que hoje arruínam os povos e as sociedades da Europa Ocidental; é um liberalismo que defende a abertura de todas as sociedades, uma abertura cujo resultado óbvio é fazê-las implodir, levá-las a um estado de total liquefação.

Truyens considera que a eleição de Emmanuel Macron é, sem dúvida, um efeito da estratégia popperiana de Georges Soros. Macron não tinha um partido por trás dele, mas um movimento formado muito recentemente, criado rapidamente de acordo com as táticas aprovadas pela fundação que Soros havia aplicado em outras partes do mundo. Quer Soros tenha ou não financiado o movimento “En Marche” de Macron, a política de Macron, como a de Merkel e outros chamados “líderes” europeus, segue uma lógica popper-sorosiana de dissolução dos povos, sociedades e Estados em maior grau do que a lógica dos anos sessenta-oitentista derivada da Escola de Frankfurt, um instrumento que agora consideram inadequado porque poderia ter os efeitos opostos aos esperados.

Truyens observa que esta lógica popper-sorosiana contaminou certas associações etnistas e populistas, que julgam que uma ação coordenada para unir ideologia e política não é mais necessária porque elas fazem parte de um “passadismo” que deve ser rejeitado, de acordo com os códigos defendidos pelos popper-sorosianos. O poder corrosivo do popperismo é mais eficaz do que o do “marxismo cultural” dos sessenta-oitentistas marxianos de outrora, com exceção, sem dúvida, de Cohn-Bendit, o novo amigo de Verhofstadt, alinhado com o popperismo contra o qual os antigos esquerdistas e os teóricos da Escola de Frankfurt lutaram.

O problema deve ser examinado em profundidade através de um retorno à teoria: lembremos que nos anos 70 houve um debate entre os apoiadores da Escola de Frankfurt e os discípulos das teses de Karl Popper. O esquerdismo popperiano e o liberalismo popperiano lutavam um contra o outro na época, só para se fundirem duas décadas depois, com o popperismo agora se tornando cada vez mais predominante com base nos sucessos de Soros, abençoados, é claro, pelos Estados Unidos.

A esquerda e a direita populistas devem imperativamente forjar um arsenal ideológico comum para combater esta ideologia dominante e opressiva. As iniciativas de Chantal Mouffe, que se posiciona à esquerda, mas que se refere a Carl Schmitt, poderiam servir de base para esta reconquista, lançada em ambos os lados do espectro político, que não se oporia mais nem na luta nas instituições nem na luta nas ruas. Eles se oporiam ao marasmo liberal, de acordo com uma estratégia de convergência elaborada em seu tempo por Roger Garaudy.

Fonte: Burbuja

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Robert Steuckers

Nascido em 1956, em Uccle, Bélgica, formou-se no Instituto Maria Haps, ligado à Universidade de Louvain, onde obteve o mestrado em inglês e alemão. Ele dirigiu um escritório de tradução em Bruxelas durante vinte anos antes de se dedicar a várias tarefas de ensino de idiomas. Ele criara o think tank “Synergies européennes” em 1994, que organizou cursos de verão na França, Itália e Alemanha. Ele administra, com outros, o site Euro-Synergies, que apresenta aproximadamente 17.000 artigos. Steuckers é autor de vários livros e ensaios, especialmente a trilogia Europe, verdadeira summa sobre a identidade e história dos povos europeus, assim como La révolution conservatrice allemande e Sur et autour de Carl Schmitt.

Artigos: 48

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