As tensões entre a China e os EUA estão piorando. Desde que a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, desembarcou em Taipei, Pequim impôs várias sanções aos EUA, sendo a proibição da cooperação antidrogas a primeira delas. O impacto dessa sanção é extremamente relevante para os EUA, que dependem da ajuda chinesa para impedir que substâncias como o fentanil entrem em seu território. Esse tipo de droga vem causando uma séria epidemia de overdoses nos EUA há anos, e agora a ameaça parece ainda maior.
Porta-vozes da Casa Branca se manifestaram recentemente condenando a atitude chinesa de interromper a cooperação com os EUA na luta contra o narcotráfico, ressaltando a necessidade dos dois países trabalharem juntos para combater o fentanil, substância que é base química de várias drogas que se tornaram populares entre os jovens americanos. Só no ano passado, mais de 100.000 americanos morreram de overdose devido ao vício em fentanil, transformando a situação em uma crise de saúde pública.
Rahul Gupta, diretor do Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas da Casa Branca (ONDCP), disse: “Em um momento em que o fentanil ilícito continua a reivindicar uma vida a cada cinco minutos, é inaceitável que a RPC (República Popular da China) esteja retendo a cooperação que ajudaria a levar à justiça indivíduos que traficam essas drogas e que se envolvem nesse empreendimento criminoso global (…) A interrupção teria implicações globais (…) A China desempenhou e deve desempenhar um papel fundamental para ajudar a interromper o fluxo ilícito de drogas como o fentanil e seus precursores químicos”.
Em resposta à declaração da Casa Branca, em 12 de agosto, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, também comentou o caso, afirmando “que minou seriamente a base política da relação China-EUA.(…) Quanto ao abuso de fentanil nos Estados Unidos, gostaria de dizer que, em primeiro lugar, a raiz da crise está nos EUA (…) De acordo com o International Narcotics Control Board, os Estados Unidos são o maior produtor e consumidor de substâncias do tipo fentanil. Os americanos, que representam 5 por cento da população mundial, consomem 80 por cento dos opióides do mundo (…) Em segundo lugar, a China tem feito grandes esforços para ajudar os Estados Unidos a resolver o problema do fentanil (…) Terceiro, a responsabilidade de minar a cooperação antinarcóticos é inteiramente do lado dos EUA”.
De fato, os EUA estão interpretando as contramedidas chinesas à visita de Pelosi como uma afronta porque Washington enfrenta um sério problema com o fentanil e precisa da ajuda de Pequim para continuar sua estratégia antidrogas, considerando que os produtos químicos chineses exportados para EUA e México são a principal matéria-prima para a fabricação desse medicamento – sendo os cartéis mexicanos alguns dos maiores fornecedores para o mercado americano de medicamentos à base de fentanil.
Desde 2019, Pequim estabeleceu um rígido controle de exportação de fentanil e substâncias similares, com o objetivo de impedir que cheguem a laboratórios clandestinos e sejam usados na fabricação de medicamentos. Os EUA, no entanto, não implementaram nenhum controle rígido de substâncias para interromper a crise dos opióides sintéticos. Ao contrário, o governo norte-americano atrasou a aplicação das medidas antidrogas e favoreceu o surgimento de laboratórios clandestinos afiliados aos cartéis mexicanos dentro do próprio território.
De fato, por alguns anos, a China controlou a entrada de fentanil nos EUA mais do que as próprias autoridades americanas. Mas a situação se inverteu nos últimos dias devido à crise diplomática – e agora o cenário é ainda mais preocupante para os americanos. Se Washington não se apressar em criar um sistema de controle químico e não fizer um esforço para combater incisivamente o narcotráfico, a epidemia de overdose aumentará ainda mais, pois a China não mais impedirá a entrada dessas substâncias nos EUA.
A medida chinesa não implica diretamente no aumento ou diminuição do tráfico de drogas nos EUA. Pequim está apenas abdicando de administrar o fluxo de produtos químicos para os EUA e deixando isso para a responsabilidade das próprias autoridades americanas. Não são os chineses que estão fabricando drogas à base de fentanil, mas os cartéis que estão se aproveitando dos produtos chineses para produzir substâncias ilícitas. A responsabilidade de evitar isso é do governo dos EUA e, se as autoridades locais não forem competentes para fazê-lo, não é culpa da China.
Este é apenas mais um caso que ilustra como os EUA perdem com sua política internacional anti-China. De fato, para Washington recuperar a cooperação, o caminho é realmente simples: parar o intervencionismo estrangeiro, respeitar o princípio de uma só China e deixar de atuar como uma “polícia global”, voltando sua atenção para os problemas internos.
Fonte: South Front