Estamos entrando em um período histórico que irá definir quem serão os “big players” da geopolítica e economia mundial, tal período é consequência de diversos fatores, entre eles a Pandemia, as diversas tentativas de revoluções coloridas e guerras híbridas em países emergentes ou países que são vistos de certa maneira como obstáculo aos interesses do capital financeiro ocidental, como também de fatores como o atual confronto militar na Ucrânia a partir da operação militar especial levada a cabo pela Rússia.
Esses eventos culminam em danos para a cadeia produtiva global, que aliada a um modelo econômico insustentável de concentração de riquezas, gera crises econômicas globalizadas, falta de insumos e um certo desaparecimento da classe média.
Os países que conseguem resistir a essa crise e tomar uma posição geopolítica relevante, pelo menos teoricamente, são aqueles que possuem uma responsabilidade fiscal, um modelo que se esforce por garantir ao povo uma qualidade digna de vida, que possuem uma indústria nacional relativamente forte, e principalmente aqueles que possuem insumos, seja recursos minerais, hídricos, energéticos ou uma produção relevante de alimentos.
Dito isso, observa-se como a Rússia tem conseguido lidar de maneira otimista com os diversos pacotes de sanções provenientes do Ocidente, fortalecendo sua indústria interna, mirando em projetos de longo prazo, assim como firmando cada vez mais suas parcerias econômicas com países do BRICS.
Deve-se levar em consideração que tais países possuem aproximadamente 40% da população mundial, possuem em sua grande maioria reservas minerais e energéticas entre as maiores do mundo e se estabelecem como os maiores produtores de alimentos e fertilizantes do planeta.
A TENTATIVA DO OCIDENTE DE VIRAR O JOGO
Tais características ameaçam a atual hegemonia ocidental, principalmente após o fracasso em deter a operação militar russa na Ucrânia, fazendo com que a estrutura de poder ocidental foque suas atenções em diferentes “quintais”, o que é exemplificado pela atenção extra que tem sido dada a questões relacionadas a América do Sul; podemos exemplificar mais precisamente aqui a questão da Colômbia, sendo colocada como “aliado importante da OTAN” em uma tentativa de exercer influência política, econômica e militar de acordo com os interesses geopolíticos ocidentais, principalmente dos EEUU.
Então fica nítido também nos últimos meses como se intensifica a atenção relacionada a elementos que potencializam guerras hibridas, tais como um ativismo ecológico superficial dada uma suposta preocupação da Amazônia, assim como questões relacionadas a pautas morais internacionais como a legalização do aborto.
Consequentemente, surgem questões como a internacionalização da Amazônia, com uma preocupação ocidental pela natureza, onde se repetem bordões comprovadamente falsos como “Pulmão do Planeta Terra” e afins.
Agora, qual seria exatamente o interesse de países que mal preservam suas florestas, aumentam e incentivam o materialismo, vendem um ambientalismo falso com promessas “limpas”, que sujam consideravelmente o meio ambiente, e que em meio a uma crise energética resultado de sua própria política nefasta, decidem aumentar a produção de termelétricas ?
CONTEXTO MINERAL
Nas últimas décadas presenciamos uma mudança radical em diferentes áreas tecnológicas, e a disputa industrial por reservas de determinados minérios aumentou consideravelmente dadas as novas aplicações na indústria.
Dito isso, nos últimos 20 anos departamentos relacionados a energia e economia dos EUA e União Europeia realizaram levantamentos relacionados a elementos críticos para a indústria emergentes e de setores estratégicos.
Estes setores variam desde farmacêutica, semicondutores a indústria aeroespacial, com boa parte deles já com uma demanda industrial razoável, pois suas tecnologias já estão no mercado.
Podemos observar que entre esses elementos encontramos diversos elementos pertencentes à família dos metais de terra raras, metais de transição e semimetais.
Curiosamente, ao observar quais são os maiores produtores e as maiores reservas de grande parte desses minérios, vemos que países membros do BRICS e aliados próximos se encontram na posição privilegiada e detêm reservas minerais de extrema importância para o futuro da indústria em setores estratégicos.
Por exemplo, entre as 5 maiores reservas de elementos de terras raras encontramos 4 países membros dos BRICS ( Brasil, Rússia, Índia e China )
DEPENDÊNCIA
Tal dependência das indústrias mais sofisticadas, como por exemplo a aeroespacial, torna o fato de ter reservas significativas e uma extração relevante uma ótima “cartada” geopolítica de negociação, principalmente levando em consideração a predominância dos países membros dos BRICS.
Assim o fortalecimento das indústrias de tecnologia em países membros dos BRICS e a cooperação tecnológica e comercial entre eles, de certa maneira ameaça a hegemonia da indústria da União Europeia e dos Estados Unidos.
Portanto, possuir uma zona de influência e afastar o máximo possível determinadas cooperações comerciais e tecnológicas se torna uma questão de sobrevivência, ou pelo menos posição privilegiada, de setores industriais dos países hegemônicos.
Até porque além de uma certa dependência desses países com membros dos BRICS para elementos críticos a tecnologias emergentes, esses países geralmente possuem uma parcela significativa de seu mercado de alimentos sendo fornecida por membros dos BRICS.
INTENSIFICAÇÃO NO BRASIL
Logo, isto seria mais uma justificativa para toda tentativa de intervenção em solo nacional por parte de interesses estrangeiros, desde uma aproximação da Colômbia a países da OTAN para pressionar militarmente a região, como diversas tentativas de guerras híbridas passando pelos mais diversos campos culturais, em nome do ambientalismo, direitos humanos, democracia ou liberdade.
Não sejamos ingênuos, não precisamos em hipótese alguma de intervenção estrangeira para resolver os problemas ecológicos no Brasil, e nem precisamos do aval de qualquer desses países para determinar o que é ou não certo para o desenvolvimento nacional.
Especialmente quando tais países que querem assumir o papel fiscalizador possuem um péssimo histórico de honestidade e transparência em relação aos seus inúmeros erros, sejam eles de caráter ambiental ou ético.
SOBRE AS RESERVAS
Entre os elementos citados nos documentos relacionados aos elementos críticos para tecnologias emergentes ( Technology Critical Elements ), os BRICS possuem os respectivos posicionamentos mundiais em relação as suas reservas:
Elementos dos grupos de platina: África do Sul e Rússia possuem aproximadamente 95% das reservas
Elementos de Terras Raras: Brasil, Rússia, China e Índia possuem quase 80% das reservas mundiais, com a China liderando com aproximadamente 40% e o Brasil com aproximadamente 20%.
DE OLHO NO FUTURO
Podemos concluir então, que o aprofundamento das alianças econômicas, políticas e tecnológicas do Brasil com outros países membros do BRICS é crucial para garantir uma posição privilegiada em negociações geopolíticas, também devemos lembrar do papel fundamental do Brasil de conduzir o continente sul-americano, apoiando e ajudando países que possuem um histórico de cooperação econômica relevante, como por exemplo a Argentina.
Além do poder que advém das reservas minerais, o Brasil possui um papel fundamental na exportação de recursos essenciais para a independência alimentícia de diversos países.
Possuímos uma vasta reserva hídrica, e um imenso potencial energético, seja a partir do petróleo, ou de hidrelétricas. Não podemos esquecer das significativas reservas de urânio que nos permitiriam uma independência para o desenvolvimento de tecnologias nucleares, seja para fins energéticos ou bélicos.
Portanto devemos aproveitar essa oportunidade, e nos defender de todos os ataques contra a nossa soberania seja por quaisquer métodos utilizados. Não se trata de uma disputa em nome de uma polarização e falsa oposição, e sim de uma luta em nome da soberania, dignidade do povo, e um projeto de nação no horizonte.
Referências
1-https://www.aps.org/policy/reports/popa-reports/upload/elementsreport.pdf
2-https://energy.mit.edu/wp-content/uploads/2010/04/MITEI-RP-2010-002.pdf
3-https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211467X19300872