O tupi e o viking contra a Onça Celeste

Observações de um estudo comparativo entre as correntes mais difundidas das mitologias tupi-guarani e nórdica, a respeito dos logoi brasileiros.

Nhanderuvuçu, que traduzindo é “Nosso Grande Pai”, é o deus supremo, o princípio, o primeiro antes de tudo, criador do céu, da terra, da água e dos primeiros deuses segundo a corrente mais conhecida e difundida do mito indígena tupi-guarani.

Diz-se que Nhanderuvuçu criou a entidade feminina mais importante, a Nhandecy, que traduzindo é “Mãe Terra”. Ela é a deusa da Terra. 

Possível correspondente de Frigga, deusa nórdica da fertilidade da Terra e esposa de Odin, Nhandecy é também conhecida como esposa de Nhanderuvuçu.

Nhanderuvuçu também criou Tupã, o deus do trovão e do clima.

Veja bem, não é ele o trovão (pelo menos não em essência), como diziam alguns jesuítas (como que pensando no velho mito do “não entendo o trovão, então ele mesmo é um deus”), mas o trovão e os relâmpagos podem ser traduzidos como operações energéticas de Tupã, e são chamados, respectivamente, de “Tupã-cinunga” e “Tupã-beraba”. 

O trovão, Tupã-cinunga, seria a voz de Tupã, e o relâmpago, Tupã-beraba, a luz de Tupã. 

Tupã é o mensageiro de Nhanderuvuçu e pai-criador do Sol e da Lua (Guaraci e Jaci, respectivamente). 

Tupã, ao criar Guaraci, foi quem possibilitou a criação da humanidade e de toda a natureza. 

Obviamente, já podemos traçar aqui uma correspondência entre Odin e Nhanderuvuçu, e entre Thor e Tupã. 

Mas o pulo do gato vem agora: a correspondência entre a escatologia tupi-guarani e a nórdica.

A criatura ctônica e ao mesmo tempo do ar, absolutamente maligna e responsável pelo fim do mundo na mitologia tupi-guarani é a chamada “Onça Celeste”, cujo nome é “Charia”. 

A Onça Celeste persegue o Sol e a Lua a fim de engoli-los. 

Em cada eclipse, a Onça Celeste entra em uma batalha contra o Sol e a Lua. 

Na lua de sangue, é quando finalmente a Onça Celeste consegue matar a Lua, que por sua vez sangra.

Mas o Sol sempre ressuscita a Lua.

O fim do mundo, para os Tupi-guaranis, só se dará quando a Onça Celeste alcançar o seu objetivo: engolir o Sol e com ele toda a ordem solar da natureza.

Em cada eclipse, os índios de várias partes do Brasil fazem um ritual muito barulhento, a fim de espantar a Onça Celeste para que ela não engula o Sol e a Lua.

Na mitologia nórdica, o Ragnarok só é possível após os lobos Skoll e Hati, filhos do gigante Lobo Fenrir, engolirem o Sol e a Lua. 

Skoll persegue o Sol diariamente, e Hati a Lua. 

A virada escatológica se dá exatamente quando eles alcançam o objetivo de engolir o Sol e a Lua. Só então é possível ao Lobo Fenrir abrir o caminho para matar Odin.

Terminadas as comparações, alguns comentários:

A luta dos indígenas contra a Onça Celeste pode ainda corresponder à luta cristã contra o Anticristo. 

Penso que essa matriz escatológica está em nosso inconsciente coletivo.

É dever de todo cristão lutar contra a vinda da besta, mesmo que saibamos que esse fim é inevitável. Mas, o importante é adiar com oração, jejum, caridade e tudo o que estiver ao nosso alcance como forma de não sucumbir à besta.

A mesma coisa fazem os Tupi-guaranis contra a grande besta, a Onça Celeste.

E assim como existem pessoas que adoram o Anticristo, há quem venere a Onça Celeste, torcendo para que ela engula o Sol.

Mas, como brasileiros que somos, faremos o devido barulho para espantá-la e, com ela, todos os seus adoradores.

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Catarina Leiroz

Cristã Ortodoxa, graduanda em Pedagogia e vice-diretora da NR-RJ.

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