O colapso do Sri Lanka escancara o perigo do ambientalismo irresponsável

O Sri Lanka está colapsando. A crise econômica levou a população a tomar medidas extremas, recorrendo à violência como meio de promover mudanças na política nacional.

No dia 9 de Julho, manifestantes invadiram e ocuparam diversas residências de políticos e escritórios oficiais do governo do Sri Lanka, incluindo o palácio presidencial e a casa do chefe parlamentar. Alguns dos locais invadidos foram saqueados e destruídos com depredação e incêndios, formando um cenário de guerra civil.

Consequentemente, o governo se desintegrou completamente. O presidente Gotabaya Rajapaksa renunciou, como informado pelo primeiro ministro Ranil Wickremesinghe, que abandonou seu posto na sequência, tornando a queda do governo absoluta e irreversível. Rajapaksa tem ficado longe de sua residência oficial desde a última sexta, por medo dos protestos. Não há informação confiável sobre seu paradeiro atual.

Um governo provisório foi formado para operar a transição. Informações sobre detalhes desse processo ainda não são precisas e certamente tudo dependerá fortemente na habilidade dos agentes envolvidos de angariar apoio popular, considerando o momento de grande tensão e instabilidade, quando o povo parece disposto a qualquer coisa por suas demandas.

A fúria popular é compreensível se o cenário nacional é analisado em profundidade. O governo foi incapaz de gerir a crise econômica que afetou o país nos meses recentes, chegando ao extremo de esvaziar reservas de moeda estrangeira. O estopim para a crise, foram os apagões energéticos causados pela falta de recursos para importação de combustível. A inflação simplesmente impedia o transito de pessoas e bens, levando o governo a implementar medidas radicais de banimento do consumo privado de gasolina e diesel, alocando combustível apenas para setores governamentais. O Sri Lanka foi o primeiro país do mundo a tomar este tipo de medida desde os anos 70 — e, como podemos ver, não foi uma experiência agradável para a população.

No entanto, a crise não se limita a episódios recentes. A ausência de recursos estrangeiros se deve a uma serie de decisões imprudentes tomadas pelo governo desde o ano passado, com ênfase para a política ambiental radical. Rajapaksa apostou na agenda ecológica como um meio de promover sua imagem política pessoal e acumular apoio internacional. Por exemplo, sua campanha eleitoral de 2019 foi premiada como “a primeira campanha de carbono zero do planeta”. Em seu governo, ele acelerou o projeto de energia verde e limpa, que motivou a imposição de uma lei, em 2020, banindo o uso de fertilizantes e pesticidas em território nacional.

Seu objetivo era fazer do Sri Lanka a primeira nação de agricultura 100% orgânica do mundo, o que certamente agradaria a agenda pró-verde de governos e multinacionais Ocidentais que investem em projetos de melhora climática. No entanto, sua única conquista foi gerar fome generalizada, caos e colapso financeiro. Em apenas 6 meses, mais de um terço da terra cultivável do país estava completamente inutilizável. A produção de arroz caiu mais de 20%, levando o governo a gastar aproximadamente 450 milhões de dólares em importação de cereais para aliviar a fome, o que também não funcionou, já que o arroz acabou atingindo uma inflação de mais de 50% por causa dos custos de importação.

Além disso, o setor de chá, principal produto de exportação do país, sofreu perdas que ultrapassam os 425 milhões de dólares. O governo se viu então forçado a distribuir um pacote adicional superior a 200 milhões para reembolsar fazendeiros afetados, além de reautorizar a utilização de produtos químicos nas plantações.

Sem dúvida, Rjapaksa se enganou na aposta de tornar seu país um “paraíso verde” das democracias liberais do Ocidente. Certamente, se medidas mais prudentes fossem tomadas mais cedo, o caos atual teria sido evitado. Se o governo tivesse apenas limitado o uso de químicos a doses seguras, em vez de baní-los completamente, não teria gerado fome estrutural e não teria gasto tanto dinheiro importando comida — o que tornaria possível manter as reservas financeiras e assegurar as demandas por combustível, evitando a crise.

Rajapaksa foi um líder político distinto em muitos sentidos, adquirindo apoio internacional por suas iniciativas, mas seu legado mostra como aderir ao ambientalismo radical encorajado pelo Ocidente pode ser um erro de consequências sociais severas. Enquanto um pequeno país asiático tem sua economia devastada e seu governo derrubado por aderir à agricultura orgânica e um projeto de carbono zero, governos europeus aliviam suas leis ambientais por conta de uma crise energética provocada pelo conflito na Ucrânia, promovendo a extração por desmatamento.

Há uma grande diferença entre o que democracias liberais advogam e o que realmente praticm. Rajapaksa tentou materializar integralmente o discurso utópico do ambientalismo Ocidental, colapsando seu país.

Fonte: Infobrics

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Lucas Leiroz

Ativista da NR, analista geopolítico e colunista da InfoBrics.

Artigos: 597

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