Estados Unidos da África: o sonho que assassinou Gaddafi

Além de tudo o que foi capaz de fazer pelo povo líbio, Gaddafi ainda encabeçava um ambicioso projeto para uma África unida, capaz de não só bater de frente, mas superar o corrupto sistema financeiro e geopolítico ocidental. A resposta dos EUA foi contundente, assassinando Gaddafi publicamente e soterrando seu sonho.

Por Sanbeer Singh Ranhotra

Os Estados Unidos da América são um conglomerado de estados que se não unidos por um sistema federal, poderiam ser países separados. Os Estados Unidos da África ainda estão distantes dessa federalização. Quando ela chegar, os EUA estarão em apuros. Todos lembramos de quando Obama e a OTAN bombardearam a Líbia, correto? O país foi jogado de volta à idade da pedra. Desde os anos 60, quando Muammar Gaddafi assumiu o poder, a Líbia deixou de ser um dos países mais pobres da África para tornar-se um dos mais ricos.

Até 2011, a Líbia servia como modelo não só para os países africanos, mas todos aqueles em estágio de desenvolvimento no mundo. Era economicamente independente, autossuficiente em petróleo, água e possuía um banco estatal. Educação e saúde eram gratuitos; moradia era considerado um direito humano e Gaddafi criou o maior sistema de irrigação do planeta — chamado Grande Rio Artificial — que abastecia o país.

Por que Gaddafi foi assassinado?

2011 representou o auge da Primavera Árabe bancada por Obama e Clinton. Interessantemente, a Líbia só foi bombardeada até a morte pela OTAN depois que a administração Obama recebeu inteligência sobre os planos para um banco pan-africanista de Gaddafi, com as própria moeda ancorada no ouro.

De acordo com um e-mail vazado de Hillary Clinton, de 2 de abril de 2011, “o governo de Gaddafi controla 143 toneladas de ouro e quantia similar de prata. O ouro foi acumulado antes da atual rebelião e seria destinado a estabelecer uma moeda pan-africanista baseada no dinar líbio. O plano foi desenhado para garantir uma alternativa ao franco para os países africanos francófonos.

Tal moeda livraria o continente africano dos grilhões econômicos do dólar, do FMI e do franco. Gaddafi emergiria como líder de uma África unida, quiçá na direção de uma unidade consolida entre vários estados — como os EUA.

A “intervenção humanitária” da OTAN

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy esteve entre os principais proponentes da destruição de Gaddafi. Em 2011, Sarkozy teria chamado o presidente líbio de ameaça à segurança financeira do mundo. Por quê? Vejam, Gaddafi cuspia na cara do petrodólar e estava bem encaminhado na criação de uma moeda forte africana que daria um enorme trabalho aos EUA, seus aliados e hegemonia institucional sobre as finanças globais.

Em 2001, o mesmo foi feito contra Saddam Hussein. Insatisfeito com o enfraquecimento do valor que a OPEP recebia em dólares por seu petróleo, Hussein quebrou o pacto do petrodólar e passou a vender petróleo por euros. Ele foi morto pelo Ocidente, também.

Gaddafi foi assassinado de forma mais brutal, linchado publicamente. Hillary Clinton e seus mestres queriam dar um exemplo. Quem desafiar a hegemonia ocidental em qualquer sentido deve estar preparado para enfrentar destino semelhante ou pior. Essa é a mensagem da OTAN.

Uma África unida por uma moeda eventualmente se tornaria uma poderosa entidade do palco mundial. Seu tamanho, escala, recursos e poder humano seriam incomensuráveis. Os EUA e seus aliados seriam reduzidos, no fim, a entidades insignificantes. Assim, a ideia dos Estados Unidos da África foi ceifada por Obama e seus amigos quando assassinaram Gaddafi publicamente.

Fonte: TFIGlobal
Tradução: Augusto Fleck

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Sanbeer Singh Ranhotra

Entusiasta político e aspirante a jornalista.

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