Sempre que ouvirem ou lerem esquerdistas falando de uma ”guerra racial” lusa contra vítimas indígenas, ou de mestiços gerados por estupro, lembrem-se dos fantásticos fatos descritos neste artigo.
Houve uma guerra esotérica em torno da descoberta e da colonização do atual Brasil, mas ela não é tão simples quanto parece. Um exemplo perfeito disso é o próprio Nicolas Durand de Villegagnon, fundador da França Antártica na Baía de Guanabara.
Villegagnon foi colega de Calvino, Francisco Xavier e Inácio de Loyola na Universidade de Paris. Os dois últimos estão na origem dos Jesuítas e suas técnicas místicas. O primeiro deu início à Reforma propriamente dita. Já Nicolas saiu da Universidade para as Ilha de Malta, onde adotou o Manto Sagrado dos [antigos] Cavaleiros Hospitalários.
Ele era um “Templário”, digamos assim, e sua Ordem de Cavalaria obedecia diretamente a Carlos V, inimigo de seu país natal, a França. Não à toa, Villegagnon lutou ao lado do Imperador contra o famigerado “Barba Ruiva”.
A aventura da França Antártica foi financiada e apadrinhada por Gapard de Chantillon, o Conde de Coligny, principal conselheiro de Henrique II, e que diziam ser huguenote. Só que Coligny só se converteu ao calvinismo quatro anos depois da expedição de Villegagnon.
E se é verdade que Durand pediu ajuda a Calvino depois que sofreu um motim na Guanabara, o fato é que ele se viu sozinho em um momento de imensas reviravoltas na Corte francesa. Mas os calvinistas não duraram muito no Forte de Coligny. O próprio Villegagnon fez questão de se livrar deles, antes de picar a mula de volta para a França em 1560.
Agora, qual era a relação que esse Cruzado tinha com os Cavaleiros da Ordem de Cristo que levavam adiante a Colonização portuguesa e os Jesuítas?
É um mistério.
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Depois da derrota da França Antártica e da Confederação dos Tamoios nas guerras na Baía de Guanabara, para onde foram franceses e seus aliados tupinambás? Desapareceram no ar?
Evidente que não. Inicialmente, se reagruparam na Região dos Lagos, ali por Cabo Frio, de onde só foram expulsos por Antônio Salema, que era então Governador do Rio de Janeiro, com auxílio, mais uma vez, do Capitão Mor de São Vicente. Ou seja, dos filhos de João Ramalho, os futuros paulistas.
A Guerra de Cabo Frio se deu em 1575, e, é sempre bom lembrar, não era um conflito entre europeus. De um lado tínhamos tropas portuguesas, brasilíndias [ou seja, de caboclos e mamelucos, mestiços nascidos nessas terras], e um contingente considerável de indígenas tupiniquins e temiminós. Do outro lado, os tupinambás e seus aliados franceses e flamengos.
A história não para por aí, óbvio. Segundo Capistrano de Abreu, “Expulsos do Rio de Janeiro, [os franceses] abrigaram-se em Sergipe; expulsos do Sergipe, abrigaram-se na Paraíba; expulsos da Paraíba, abrigaram-se no Rio Grande do Norte; expulsos do Rio Grande do Norte, abrigaram-se no Ceará e Maranhão; expulsos do Maranhão e Ceará, abrigaram-se na Guiana.”
Na verdade, essas regiões foram gestadas em meio a guerras contra os franceses e tupinambás — que em algumas paragens eram chamados potiguares, assim como os tupiniquins aliados dos luso-brasileiros eram conhecidos também como tabajaras.
Demorou meio século para que os franceses e os tupinambás fossem expulsos gradualmente do Recôncavo Baiano e do litoral que vai de Pernambuco ao Maranhão [Sergipe, Paraíba, Rio Grande, Ceará, Maranhão — onde havia sido fundada a França Equinocial, com o Forte de São Luís — e Pará].
Abaixo temos arte representando um dos grandes nomes desse processo: Jerônimo de Albuquerque, filho de português com uma índia potiguar convertida e cujo nome era Maria do Arco Verde [antes era a princesa Muira Ubi].
As semelhanças com Diogo Álvares ”Caramuru” e Catarina Paraguaçu não são casuais.
Esse caboclo foi um dos grandes responsáveis pela derrota francesa e tupinambá na Paraíba. Era capitão do famoso Forte dos Reis Magos, construído no Rio Grande [do Norte]. Também liderou o assalto final à França Equinocial, na heroica Batalha de Guaxenduba, em que os mamelucos e tabajaras, em números muito menores que seus inimigos, tomaram o Forte de São Luís, decretando o fim da ocupação gringa-tamoia.
Essas guerras eram todas assim. Levadas à frente por Brasilíndios, muitos dos quais falavam a língua geral, e que eram “meio mamelucos, meio mazombos […] avessos à obediência e à disciplina, viciados pelo mando absoluto” [segundo Capistano de Abreu], e que lutavam ao lado de tribos indígenas [tupiniquins, tabajaras, temiminós etc.], e escravizavam os inimigos [tamoios, potiguares] mas também casavam com suas mulheres [caso do próprio Jerônimo de Albuquerque e Maranhão, esse último nome sendo adotado após a vitória que descrevi].
Sempre que ouvirem e lerem esquerdeiros falando de uma ”guerra racial” portuguesa contra vítimas indígenas, ou de pobres mestiços gerados por estupro sistemático, lembrem-se desses fatos. O Brasil não é para amadores, e tem uma história gloriosa, repleta de amor, aventura, conquista, paixão e profundidade. Ah, e de violência também, evidentemente.