O sistema liberal desce ladeira abaixo: movimentos hostis ao globalismo, ao rentismo internacional e à ocidentalização estão aprendendo a instrumentalizar a internet contra seus inimigos, ao contrário do que aconteceu quando da “Primavera Árabe”.
Dez anos atrás, quando os serviços de inteligência ianques promoveram revoluções coloridas na África e na Ásia, a grande mídia e o Partido Democrata propagandeavam o papel que as redes sociais tiveram em levantes como ”A Primavera Árabe”.
Naquela ocasião, as redes eram consideradas grandes instrumentos de democracia, de construção de uma aldeia global, em que cidadãos acostumados com a ”liberdade de expressão” e com o acesso fácil à informação não filtrada pelo Estado, ”espontaneamente” se articulavam para exigir maior participação política, e, óbvio, ocidentalização.
De lá para cá, o feitiço virou contra o feiticeiro. Movimentos contrários ao globalismo, ao rentismo internacional, à ocidentalização etc. aprenderam a instrumentalizar a internet contra seus inimigos.
A grande mídia, que até então quase que monopolizava a oferta de ”informação confiável” e a construção de verdades e consensos, se viu severamente atingida pela cacofonia das redes e pelas novas formas de mobilização ideológica.
O Deep State ianque perdeu assim uma das grandes vantagens que possuía na defesa de seus interesses. Outras perspectivas fora de seu controle acabaram por arrastar multidões e alavancar protestos, minou a confiança nas instituições liberais tradicionais, e se tornou séria ameaça ao establishment.
A resposta é dura: o uso da censura, da intimidação, da força, da propaganda [”fake news”] a fim de recuperar parte do terreno perdido.
O controle rígido sobre as redes só vai ter o efeito de expor ainda mais as engrenagens do sistema, a manipulação desse âmbito burguês que se convencionou chamar de ”opinião pública”, o totalitarismo da opinião da classe média cosmopolita, que por sua vez é mantida no cabresto pelas elites plutocráticas.
O sistema liberal está perdendo legitimidade muito rápido. A canalha que governa através dele ainda tem muitas armas à disposição. Mas já não pode mais fingir que sua voz é a voz do povo.
O rei está nu.