O Liberalismo Moribundo

Por Shahzada Rahim

Embora o liberalismo, como ideologia campeã do Iluminismo, tenha desfrutado de bonança no decorrer do século XX, hoje seus fracassos são inigualáveis. Pela primeira vez na história, mais pessoas estão morrendo de obesidade, acidentes e idade do que por fome, violência e praga. Pela primeira vez na história da humanidade o caos social substitui a paz política e a prosperidade econômica. O aclamado progresso liberal, que chamam de “globalização neoliberal” mirava na universalização do mundo através dos níveis social, político e econômico. Para atingir essa visão, a ideia de cooperação multilateral foi fomentada como afluente para a livre circulação de bens, dinheiro, pessoas e ideias através das fronteiras. Agora, tudo parece ter se perdido e os esforços da elite burguesa para controlar o globo foram em vão.

Hoje, as pessoas estão perdendo a fé na ordem liberal e sua modernidade capitalista tão estimada. As pessoas se voltam para a tradição, valores, religião, normas, costumes e identidade para reafirmarem-se em vez de seguir o padrão globalizado. As culturas humanas individualizadas (tradição) estão se rebelando contra os valores supostamente universalizados e centralizados no liberalismo que ameaçam sua existência. É por isso que numerosos governos ao redor do globo tomam atitudes antiliberais ao restringir a globalização, financismo e capitalismo. Podemos perceber a rebelião existencial dentro do modelo liberal ocidental especialmente na Europa, onde céticos ao liberalismo aparecem dia a dia. Parece que esse movimento continuará por anos ainda, e a desordem liberal global já começou. A pergunta é: O que a substituirá?

Poderia ser o nacionalismo. Consequentemente, é um fato vívido que a luta tradicional entre esquerda e direita tenha sido encerrada há muito tempo, e que a luta vindoura seja entre globalistas e nacionalistas. Porque nacionalistas acreditam que o mundo pós-liberal deve ser uma rede de nações amigáveis, ainda que amuradas. Para os nacionalistas, este novo mundo será de nações fortes e protetoras de suas identidades e interesses nacionais, ao mesmo tempo em que respeitam a existência dos outros. Assim, não haverá universalização forçada, elitismo global, mas multiculturalismo e paz global. O novo mundo dentro das esferas regionais será determinado pelo distinto arranjo político federativo de confederação entre os estados regionais, independentemente do tamanho.

No entanto, é um fato do nosso tempo que nenhuma economia pode prosperar sem uma rede integrada de investimento e troca, mas sob a integração mundial liberal, a humanidade enfrenta grandes ameaças existenciais com degradação ecológica, ruptura tecnológica e apocalipse nuclear. A esse respeito, o mundo precisa de lideranças e ideologias melhores para a ordem pós-liberal, se quiser enfrentar os problemas comuns de ordem prioritária. De fato, a infinita desilusão liberal obrigou as massas comuns a apelar para uma nova ideologia política, social e econômica para enfrentar as ameaças comuns.

Como ilustração, há um apelo urgente por nova cooperação ideológica sobre grandes questões como a degradação ecológica e a possibilidade de um apocalipse nuclear, nos níveis regional e global. Especialmente, as tecnologias de ruptura capitalistas liberais centralizadas representam uma ameaça real para a humanidade e sua existência. A este respeito, precisamos de identidades coletivas para abordar os desafios comuns enfrentados por todos. O sequestro do Oeste pelos fanáticos liberais federalistas dos últimos dois séculos, é uma amarga realidade, liberais que tentaram involuir as culturas excepcionais e individualizadas em uma estrutura universalizada moribunda.

Com o projeto de universalização tardio, o mundo foi governado por liberais durante várias gerações. No coração da ideologia liberal, há um grande mito que todos os seres humanos compartilham experiência, valores e interesses centrais, e que não grupo humano superior a outro. Do mesmo modo, dentro do liberalismo, racionalidade e liberdade são fatos supremos sobre indivíduos e sociedades. Consequentemente, com o crescimento de estruturas elitistas integradas e centralizadas, as grandes narrativas do liberalismo iluminista passaram a desaparecer. Basicamente, o crescimento dessas estruturas elitistas tentou confrontar a natureza da história e assim, enfrentou uma eterna rebelião tradicional, cultural e identitária. Hoje, os principais pioneiros do liberalismo e da democracia absoluta nada mais são do que os prosélitos ou fanáticos irados, que justificam os fracassos do liberalismo para ressuscitá-lo.

Sua trágica responsabilidade por representar o liberalismo e sua causa moribunda tornou-se uma responsabilidade política, exposta na frase de Alexander Koyre, do sistema fechado para o universo infinito. Portanto, o princípio da desordem liberal é o resultado de derivações e impulsos da liderança liberal, que incita conflitos e guerras. Ideologicamente, o liberalismo falhou em todas as esferas, da política à economia, porque no contexto Leibniziano ele já não oferece a harmonia pré-estabilizada entre o homem e o mundo. Dessa forma, a era pós-liberal necessita de uma nova e radical revolução intelectual e ideológica para avaliar as novas possibilidades sociopolíticas – e o liberalismo moribundo simboliza o começo de um novo despertar.

Fonte: Modern Diplomacy

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