Breve comentário sobre o prequel da premiada série de David Lynch.
Na manhã de ontem, um amigo me falou que revira Twin Peaks: Fire walk with me (1992), prequel da série americana de David Lynch . Lembrei incontinenti de um dos diálogos entre Laura Palmer e Donna Hayward, no qual aquela fala quase com volúpia sobre cair do céu cada vez mais rápido, não sentir nada e em seguida ser consumida pelo fogo — para sempre. Tenho quase certeza de que Lynch leu o ensaio “Banho de fogo”, de Emil Cioran, para compor esse diálogo.
Nesse texto, Cioran vê o banho de fogo enquanto via para a sensação de imaterialidade, desintegração e purificação, “não ser mais do que brilho e fascínio” — existe algo mais “brilho e fascínio” do que Laura Palmer?
Na cena da imagem acima, o close-up é magistral: as linhas do rosto de Laura revelam todo seu martírio, o mapa da sua Via Crucis, assim como a música incidental de Badalamenti que lembra Cocteau Twins e This Mortal Coil; o corte abrupto coincidindo com a frase “E os anjos não ajudariam” — porque todos debandariam.
Tenho a impressão de que Lynch concebeu a cena com base na música de Angelo Badalamenti, e não o contrário.