Um governo “técnico” e “iluminista” liberal-libertário de centro “moderado”. Seria a privatização com amor e a precarização do trabalho com inclusão e diversidade.
Aqueles que odeiam a polarização política (adendo necessário: uma coisa é considerar que a atual polarização é falsa — e mascara a polarização real —, outra é ser anti-polarização por princípio) e que acreditam que precisamos de “menos ideologia e mais ciência”, ou de “menos politicagem e mais técnica”, podem relaxar e se tranquilizar. A solução para esse problema está sendo gestada pelas mesmas forças de sempre, ainda que com um certo atraso em relação a outros países.
Não pensem que o Brasil ficará incólume em relação às tendências globais. Como província e colônia que somos, as coisas demoram a chegar aqui: mas chegam, mesmo que alguns anos depois.
Se os franceses tiveram o Macron, nós também teremos o nosso representante de um “centro liberal-libertário”, um político “jovem e sensato” para nos oferecer um “governo técnico, sem ideologias”. Vai ser algo como um FHC + Haddad: a coroação do uspianismo asséptico, ainda que possivelmente sem o envolvimento direto dessas duas figuras em específico — que provavelmente ainda estão muito ideologizadas para o gosto das elites tecnocráticas-cosmopolitas.
Os personagens já foram construídos e estão no tabuleiro. Uma chapa Huck + Moro ou Dória + Moro ou Huck + Dória — ou outras combinações possíveis — teriam esse significado e representariam esse projeto. E não faltariam as “Tábatas Amaral” e as “Gabrialas Prioli” da vida para se unirem ao barco.
“Menos política, mais ciência”, “Precisamos de um novo Iluminismo”, “problemas globais precisam de soluções globais”, “esses problemas não são políticos, mas técnicos”.
Seria a privatização com amor. A redução de barreiras alfandegárias com cotas. A precarização do trabalho com inclusão e diversidade. Seria algo como que um “PT mais à direita”, sem o “barbarismo” do MST, com alguém mais “esclarecido” e “iluminado” do que o “bêbado” do Lula ou a “linha-dura” da Dilma, e sem os “nostálgicos” do comunismo na militância.
Da perspectiva dos processos globais de desenvolvimento da lógica do Capital — e do desdobramento do liberalismo em pós-liberalismo rumo ao Fim da História de Francis Fukuyama —, seria possível até mesmo considerar Bolsonaro como “menos pior” do que isso — tal como Trump é sempre será “menos pior” de que Clinton ou Biden.
Mas Bolsonaro é tão ruinoso. Ele foi construído de tal maneira que o estabelecimento de uma “tecnocracia centrista” liberal-libertária pode vir a ser considerada até mesmo um alívio.
E esse sempre será o seu maior crime.