A data oficial da fundação de Brasília é a mesma da fundação de Roma. A intenção talvez até fosse boa, mas, espiritualmente, as duas cidades são antitéticas.
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A data oficial da fundação de Brasília é a mesma da fundação de Roma. A intenção de Kubitschek talvez até fosse boa, mas, espiritualmente falando, as duas cidades são antitéticas.
A criação de Roma foi um ato ritual, com sacrifício de sangue e com a aplicação de técnicas de geografia sagrada. Por mais que seja verdadeira a noção de que o espaço em que Brasília se localiza possua a sua significação mística, na construção de Brasília estão ausentes todos os elementos ritualísticos e religiosos da urbanística tradicional.
Brasília é uma cidade sem esquinas. Sem esquinas, não há como fazer despachos. E — como já estabelecemos outras vezes — a “macumba” é a verdadeira “unidade das religiões”.
Os romanos, por exemplo, eram um povo macumbeiro. O ano inteiro havia despachos para a Tríade Capitolina e para as incontáveis outras divindades. Porque a cidade toda possuía lugares propícios para os altares, templos e despachos.
A arquitetura de Brasília — projetada toda ela por um elemento de um povo nomádico — carece de todo espírito, de toda identidade. Ela não tem nem dimensão telúrica, nem celestial. Ela é estranha, opressiva. É difícil, para o cidadão, se sentir em casa ali. E também não é uma arquitetura que faça o cidadão pensar no transcendente.
Pode-se discutir muita coisa sobre política, economia, sociologia, antropologia, mas estou convicto de que, para salvar o país, precisaremos apelar à Geografia Sagrada.
Brasília tem que ser completamente refeita, zerada e construída novamente. Dessa vez com muitas esquinas e encruzilhadas. E quem sabe, com um novo nome.