Coronavírus: “Estamos avançando rumo a um Estado de vigilância onipresente?”

A pandemia do novo coronavírus é real, e não uma mera “gripezinha”. Por isso ela desperta grandes preocupações e para confrontar este desafio as países ao redor do mundo tem sido obrigados a impôr diversas medidas de exceção e emergência em nome da luta contra o vírus. Mesmo reconhecendo a realidade do vírus, é possível e necessário permanecer atento para o fato de que algumas das medidas tomadas pelos governos podem servir mais para ampliar o seu controle sobre nossas vidas do que para efetivamente combater a pandemia.

A situação é objetivamente preocupante. E não só, claro, por causa da emergência pandêmica, que continua a reclamar vítimas, apesar do trabalho heróico de médicos e enfermeiros. Nem mesmo por causa do cataclismo econômico que o coronavírus causa e causará para a Itália e para os outros países envolvidos. Tudo isto é sabido. Mas ao lado destes elementos, nos quais a ênfase é sempre colocada com justiça, há outro, que quase nunca é mencionado. E que requer, na minha opinião, uma reflexão não menos séria e sóbria, equidistante de forma precisa dos excessos e das psicoses.

Ceder liberdade em nome da emergência

Para esclarecer este elemento preocupante, parto de uma reportagem televisiva de uma conhecida jornalista italiana. Que pôde dizer calmamente, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo: “Acho as controvérsias políticas estéreis neste momento”. Eis uma forma refinada de dizer que o direito de oposição está suspenso. Que a faculdade da crítica e do dissenso está momentaneamente hibernada. Quem ousar fazer críticas racionais, levantar dúvidas e se opor a políticas como aquelas, entre muitas outras, do controverso e questionável decreto “Cura Italia”, estaria por isso mesmo privado de espaço. De fato, segundo um termo caro à novilíngua, seria um “chacal”.

A consequência está, creio eu, à vista: dada a emergência, é necessário renunciar a uma liberdade ulterior, ao lado das muitos que já foram – quem sabe até quando – temporariamente suspensas: faço alusão à liberdade de crítica e à sua livre expressão, que é então um dos pilares de um Estado livre e democrático.

Drones e Cidadãos-Psicopoliciais

Em suma, é preciso seguir cadavericamente a linha dominante, a do governo e de suas medidas, e pouco importa, afinal, se uma após a outra, com lenta e diligente continuidade, todas as liberdades fundamentais estão desaparecendo e se está instaurando um Estado de vigilância onipresente e, diria Foucault, “panóptica”: drones que nos controlam de cima, celulares que rastreiam nossos movimentos, cidadãos que, por medo, fazem delações e se transformam em psicopoliciais dispostos a denunciar os vizinhos.

A emergência do Coronavírus está aí e é muito real, repito. Mas há também – da qual pouco se fala – a emergência da suspensão do Estado de Direito: “Não há alternativa”, disse Conte no sábado, 21 de março, citando – consciente ou não – a heroína do liberalismo, Margaret Thatcher. Em nome da emergência, colocamos as liberdades entre parênteses. Em nome da segurança, a Constituição é suspensa. Em nome da luta contra o vírus, a crítica, o dissenso e a oposição à ordem dominante e à sua narrativa são retiradas da legitimidade. Nas palavras de Orwell de 1984, “se todos os documentos narravam a mesma fábula, então a mentira se tornava um fato histórico, portanto verdadeiro”.

Fonte: Il Primato Nazionale

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Diego Fusaro

Analista político e ensaísta italiano de orientação nacional-revolucionária. @DiegoFusaro

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